Chikungunya matou mais até agosto deste ano do que em todo 2023, alerta Fiocruz

MARCOS CANDIDO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O número de mortes confirmadas por chikungunya até agosto deste ano já era maior do que o número amontoado de todo o ano pretérito, aponta relatório da Fiocruz (Instauração Oswaldo Cruz) divulgado no último dia 14 de novembro.

 

A instituição afirma que o aumento das mortes “labareda atenção”. Até agosto de 2024, eram 159 mortes confirmadas. Até o dia 14 deste mês, já são 201. Em todo o ano pretérito, foram 122 mortes. Os dados se baseiam no monitoramento feito pelo Ministério da Saúde.

A chikungunya é transmitida pela fêmea do Aedes aegypti, mesmo transmissor do zika e da dengue. Diferentemente do histórico de décadas da doença mais conhecida, a chikungunya foi introduzida nas Américas em 2013 e confirmada no Brasil em 2014.

A doença motivo sintomas uma vez que dores nas articulações e nos músculos, febre, manchas avermelhadas, náuseas e pode levar à morte. Ainda não há um medicamento específico para tratá-la além de analgésicos e reparo médica.

A infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Melissa Falcão analisa que o número de mortes em decorrência do vírus pode ser ainda maior.

O motivo é que a chikungunya mata por causas diretamente relacionadas à infecção muro de duas semanas depois a contaminação, mas também compromete comorbidades prévias do paciente, uma vez que problemas cardíacos.

Assim, uma morte provocada pelo vírus nem sempre é contabilizada oficialmente -são as chamadas “mortes secundárias”, explica. “Muitas vezes essas mortes que acontecem um período depois, não são relacionadas à chikungunya, mesmo tendo sido causadas por ela”, diz.

Segundo ela, o Brasil ainda carece de capacitação de agentes de saúde para estudo eficiente dos casos, mas também relaciona os períodos de calor e chuvosos, consequências da crise climática, uma vez que um dos fatores para o aumento. “Isso cria um envolvente muito propício para a proliferação de todos os mosquitos”, pontua.

O Ministério da Saúde concorda com o diagnóstico da profissional e atribui às mudanças climáticas as infecções por chikungunya.

A pasta afirma investir nas chamadas EDLs (Estações Disseminadores de Larvicidas), um recipiente com chuva e larvicidas que atrai o mosquito e elimina os criadouros, borrifação de inseticidas em locais de grande circulação e a geração de mosquitos estéreis, geneticamente modificados, para frear a reprodução.

Um estudo publicado em setembro na revista PLOS Neglected Tropical Diseases (Doenças Tropicais Negligenciadas), usou dados de 645 municípios de São Paulo entre 2008 e 2018 e concluiu que fenômenos meteorológicos, uma vez que o El Niño, estão ligados ao aumento da infestação do Aedes.

O El Niño aumenta a temperatura do oceano Pacífico devido à subtracção da intensidade dos ventos. A circulação atmosférica é alterada de forma irregular pelo evento, elevando a umidade e temperatura em várias regiões do planeta. O estudo calcula que temperaturas supra de 23 °C e volume de chuvas supra de 153 milímetros aumentam a reprodução do mosquito.

Consequentemente, o Brasil teve sua pior epidemia de dengue em 2024, com o maior número de casos da série histórica iniciada em 1986. Foram 5.086 mortes até novembro e mais de 6 milhões de casos prováveis. Já a chikungunya tem mais de 260 milénio casos notificados até novembro -Minas Gerais lidera o ranking, com 164 milénio infecções só neste ano, segundo monitoramento do governo federalista.

“A forma mais eficiente de controlar a chikungunya e a dengue é pela eliminação dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, contando com o engajamento da população”, acrescenta o Ministério.

Leia Também: ‘Call center do crime’ vazou dados de milhões de brasileiros: ‘Qualquer pessoa pode ser vítima’