SAMUEL FERNANDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Imagens de pessoas magras, com fitas métricas cercando suas cinturas finas, tentam convencer pessoas que procuram por produtos para emagrecer em uma simples busca na internet. Entre eles, chás e ervas pipocam na promessa de perda de peso rápida, fácil e segura, sem efeitos colaterais -afinal, eles são “naturais”.
Mas não é bem assim. Esses tipos de formulação não contam com evidências científicas que comprovem sua eficácia, além de não haver regulação sobre o que realmente compõem as mercadorias. E pior: em alguns casos, eles levam a problemas graves de saúde.
Um desses casos trágicos foi de uma enfermeira vítima de uma hepatite fulminante após consumir ervas com a promessa de emagrecimento. “Não foi o primeiro caso e nem vai ser o último. O uso indiscriminado de ervas, que são ditas emagrecedoras, acabam danificando o fígado”, afirma Liliana Ducatti, médica-cirurgiã do aparelho digestivo do Hospital das Clínicas.
Foi Ducatti quem atendeu a enfermeira que morreu. Segundo a médica, casos de hepatites fulminantes, as mais graves para a saúde do paciente, são raros. É mais comum outros danos ao fígado, como uma hepatite comum, já que o órgão metaboliza as substâncias e, em alguns casos, elas são tóxicas.
Os fitoterápicos, como ervas e plantas, causam diferentes efeitos no organismo. Algumas substâncias podem ser diuréticas, quando ocorre a produção de urina. Até laxantes podem compor esse tipo de produto sem fiscalização, nem regulação.
Para Carlos Schiavon, coordenador científico e de ensino do Núcleo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica da Beneficência Portuguesa de São Paulo, essa mistura desordenada de substâncias é um ponto negativo dessas mercadorias. Ele cita que até antidepressivos às vezes são adicionados às fórmulas a fim de diminuir a ansiedade.
“O grande problema é que, quando você tem vários remédios associados e os pacientes começam a ter efeito colateral, a gente tem dificuldade de saber exatamente qual medicação está causando aquele efeito”, afirma.
No caso dos laxantes e diuréticos, a promessa é que a pessoa emagreceria diante da perda causada pela maior quantidade de urina e fezes. Mas a realidade é um tanto mais complexa. Uma diminuição momentânea no peso pode até ocorrer, mas logo ele será restabelecido com o consumo regular de alimentos e líquidos.
“Se você perde líquido ou toma um laxante e tem uma diarreia, o organismo não vai se manter daquele jeito. Você vai acabar tendo mais sede, tomando mais líquidos e aquilo vai voltar ao equilíbrio”, explica Schiavon.
Além de não ser uma medida eficaz para emagrecer, laxantes e diuréticos utilizados de maneira inadequada podem representar danos à saúde, como na perda de minerais e, em casos mais trágicos, desidratação.
Problemas mais graves de saúde também podem ocorrer com o uso irregular de hormônios. Um deles é o da tireoide, produzido naturalmente pela glândula de mesmo nome. “É um hormônio muito importante para o metabolismo como um todo”, resume Carlos Minanni, endocrinologista do Hospital Albert Einstein.
Como o corpo normalmente já consegue suprir a necessidade do hormônio, o uso de fórmulas que aumentam sua quantidade não são recomendadas em grande parte dos casos. Segundo o endocrinologista, suplementar o hormônio “acaba atrapalhando o funcionamento normal da glândula e causando outros problemas, como arritmia, nervosismo, insônia e pode contribuir para perda de massa muscular ou óssea”.
Outro exemplo é a testosterona, reconhecida entre praticantes de musculação que desejam o ganho de músculos. Assim como no caso da tireoide, o suprimento desse hormônio só deve ser feito quando existe uma queda naquele nível esperado de produção natural. Nesses casos, a ida a um endocrinologista é essencial.
Por outro lado, os remédios com eficácia para a perda de peso são importantes mecanismos para perda de peso em algumas situações. Mesmo assim, a adoção deles demanda um acompanhamento médico.
Um exemplo é o Ozempic. Oficialmente, o medicamento é indicado para o tratamento da diabetes, mas estudos concluíram que seu princípio ativo -chamado semaglutida- leva a um efeito positivo no tratamento da obesidade. Por isso, muitos médicos receitam a droga em regime off label, quando é utilizada em um contexto diferente do que é previsto na bula.
Mas o uso desregulado desse e de outros medicamentos não é recomendado. “Esses remédios são bons, eles auxiliam no emagrecimento, mas mesmo eles têm que ser monitorados com médicos […] e não simplesmente sair tomando sem orientação”, resume Ducatti.
DIETA E EXERCÍCIO
Além das fórmulas e remédios, é importante ficar atento a dietas e exercícios físicos. Os dois são essenciais para a queda de peso ou manutenção do que foi perdido, mas se não foram feitos de maneira adequada, também representam riscos.
“As dietas ideais são aquelas mais equilibradas, que têm todos os componentes de uma alimentação equilibrada e com uma orientação de uma nutricionista”, afirma Schiavon.
Minanni também ressalta que as dietas mais restritivas, em que certos componentes como carboidratos são ignorados, ocasionam malefícios à saúde. “Isso pode levar a déficit nutricional, de vitamina, pode contribuir para perda de massa muscular, fazer a pessoa se sentir mal, com fadiga e tontura.”
A prática de exercícios físicos também é necessária para quem deseja perder peso, especialmente para evitar reganho do que já foi perdido. Ainda assim, a colaboração de um profissional pode ser bem-vinda.
“Muitas vezes, a gente vê que a pessoa decide fazer [atividade física] estando há muito tempo sem realizar e inicia com uma intensidade, grande sem uma orientação adequada, podendo acabar se machucando”, afirma Minanni.
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