SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio à crise instaurada no Cazaquistão ao longo da última semana, com milhares de manifestantes detidos e dezenas mortos, o ex-chefe da inteligência do país da Ásia Central foi preso sob suspeita de traição, informou a mídia estatal neste sábado (8).
Karim Masimov chefiava o Comitê de Segurança Nacional até ser demitido pelo presidente Kassim-Jomart Tokaiev na última quarta-feira (5), quando protestos violentos, inicialmente motivados pelo preço do combustível GLP (gás liquefeito de petróleo), multiplicaram-se pelas ruas da ex-república soviética.
Trata-se de uma das primeiras prisões de figuras expressivas na política do país realizada desde o início da crise. Além de ex-chefe da inteligência do país, Masimov atuou como premiê do Cazaquistão por dois mandatos nas últimas duas décadas e foi aliado do longevo ditador Nursultan Nazarbaiev, conhecido como o “pai da nação”.
O gabinete do autocrata Tokaiev também anunciou que ele informou ao presidente russo, Vladimir Putin, que a situação no país estava se estabilizando, mas disse que focos de ataques terroristas persistiam e deveriam ser combatidos com total determinação.
A Rússia tem assumido papel central no conflito, visto como possível janela de oportunidade para Moscou ampliar sua influência na região. Cerca de 2.500 soldados –a maioria enviada por Putin– começaram a desembarcar no Cazaquistão nesta sexta (7) para ajudar as forças de segurança do governo a reprimir manifestantes.
Frente ao cenário, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, criticou o apoio russo ao governo cazaque e disse que o país pode ter dificuldade em se livrar das tropas russas. “Uma lição da história recente é que, uma vez que os russos estão em sua casa, é muito difícil fazer com que eles saiam”, declarou.
O governo russo prontamente respondeu. A chancelaria do país classificou o comentário de Blinken de “tipicamente ofensivo” e o acusou de fazer piadas sobre eventos trágicos no Cazaquistão, acrescentando que Washington deveria analisar seu próprio histórico de intervenções militares em países como Iraque e Vietnã.
“Se Blinken gosta tanto de aulas de história, deveria levar em consideração que, quando os americanos estão em sua casa, pode ser difícil permanecer vivo sem ser roubado ou estuprado”, provocou o Ministério das Relações Exteriores em um canal na rede Telegram.
Moscou alega que o envio de tropas ao Cazaquistão foi uma resposta a um pedido do próprio governo local. A ajuda foi iniciada por meio da OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletivo), aliança militar de países ex-soviéticos criada em 1999 por Moscou que nunca tinha tido maior valia prática, mas agora organiza sua primeira missão militar.
Tokaiev ordenou que as tropas do país atirassem para matar manifestantes. Ele disse, na sexta, que o Estado havia sido omisso diante dos preparativos dos manifestantes, que chama de terroristas, para organizar protestos na maior cidade do país, Almati, e demais regiões. A prisão de Massimov, afirmou, indica que estão em curto ações contra os responsáveis pelo levante social.
Pelo menos 26 manifestantes e 18 policiais foram mortos, segundo as informações mais atualizadas do Ministério do Interior, e mais de 4.000 pessoas foram detidas, incluindo alguns cidadãos estrangeiros. O gabinete do líder autocrata informou que será decretado dia de luto nacional na próxima segunda (10).
Ainda que as manifestações nacionais tenham tido início com a bandeira do aumento do preço do combustível, o movimento escalou para outras demandas. Líderes da oposição afirmam que o Kremlin está por trás da crise, numa tentativa de recriar uma espécie de União Soviética na região.
Também neste sábado, o ditador Nursultan Nazarbaiev, que governou o país por quase 30 anos, até 2019, instou a população a apoiar o governo e combater a crise que vive o Cazaquistão. A declaração foi feita por meio de seu porta-voz, Aidos Ukibai, em uma rede social.
Nazarbaiev, que não fez aparições públicas desde o início da onda de protestos, também afirmou estar em contato direto com Tokaiev. Com o sumiço do ex-ditador, havia a suspeita de que ele tivesse deixado o país em meio à crise, ao que ele respondeu que não devem ser feitas especulações falsas sobre seu paradeiro.
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