A bioquímica Aída Younes, de 67 anos, teve alta no dia 18, depois de sete meses internada em São Paulo por covid-19. Ela não só conseguiu superar a doença após uma internação tão longa, como superou um transplante de fígado – provocado por complicações derivadas da infecção pelo Sars-CoV-2. Segundo os médicos do hospital Vila Nova Star, onde ela foi tratada, é o primeiro caso no mundo de um paciente que passou por um transplante de fígado por causa da covid e sobreviveu.
Aída mora em Manaus e chegou a São Paulo em dezembro, já intubada, numa transferência hospitalar de emergência. A bioquímica chegou a ter 100% do pulmão acometido pelo novo coronavírus. Foram nada menos que 12 infecções sistêmicas, 5 intubações, insuficiência renal e, por fim, falência hepática. As lesões hepáticas agudas, em decorrência das inúmeras inflamações, fizeram com que a paciente precisasse com urgência de um novo fígado. Aída deve permanecer em São Paulo por pelo menos mais um mês, para hemodiálise e fisioterapia.
“Foi um dos casos mais desafiadores da minha vida”, resumiu a médica Ludhmila Hajjar, responsável pelo caso de Aída. “Intubei e extubei essa paciente cinco vezes, foram 12 infecções generalizadas, 40 sessões de hemodiálise, falência múltipla de órgãos. Felizmente, ela sobreviveu a tudo isso.”
A advogada Penha Younes, de 59 anos, diz que a doença da irmã evoluiu muito rápido. Penha mora em Fortaleza, mas, em dezembro, estava visitando a irmã em Manaus quando Aída foi convocada para abandonar o home office e retornar ao trabalho presencial. “Estávamos em casa, seguindo todos os protocolos, não saímos para canto nenhum”, contou Penha. “Mas Aída foi chamada para voltar ao trabalho, na Secretaria de Saúde. No fim de semana já estava se sentindo cansada e, no domingo, foi internada em Manaus.” Na terça-feira seguinte, Aída já estava na UTI, intubada.
Desesperada, Penha mobilizou amigos e conseguiu a transferência de emergência para São Paulo. Mesmo assim, o estado de saúde de Aída piorou gradualmente. A situação era tão grave que a bioquímica foi direto para o topo da fila do transplante de fígado. A despeito da situação grave, a médica resolveu apostar num transplante.
“Tem doente que a gente sabe que não adianta fazer muita coisa, que responde mal aos tratamentos”, contou Ludhmila. “Ela era diferente. Ela tinha complicações gravíssimas, mas conseguia se recuperar. Do mesmo jeito que agravava, reagia. Era uma situação limítrofe, a exceção da exceção, mas eu queria tentar. Deu certo. Há coisas que vão além do que os nossos olhos vêm, do que a técnica diz. Ela tem uma força de viver impressionante.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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