(FOLHAPRESS) – Fevereiro será tempo de rever rituais sagrados da cultura carnavalesca da Bahia. Os olhos vão contemplar as cores do Ilê Aiyê nas ruas da Liberdade, os ouvidos vão desfrutar os tambores do Olodum, as mãos assentarão o padê e os Filhos de Gandhy pedirão passagem a Exu, orixá dono da rua.
O rei momo erguerá a chave da cidade no dia 16 de fevereiro, dando a senha para o início oficial da festa. Em clima de reencontro, o Carnaval voltará às ruas de Salvador.
O espírito carnavalesco foi represado por três anos, com o cancelamento da festa em 2021 e 2022 em meio à pandemia. Ao contrário de outras capitais, não houve Carnaval fora de época em Salvador.
Por isso, dos megacamarotes aos bloquinhos informais, a expectativa é de festa intensa e de ruas lotadas. Foliões tradicionais já contam os dias, os esporádicos confirmaram presença e aqueles que estão na linha de frente não veem a hora de pisar na avenida.
“Dá um frio na barriga, né? A gente fica naquele calor, naquela adrenalina esperando o Carnaval acontecer”, diz Adriano Nascimento, 48, percussionista do Olodum e membro da banda há 32 anos.
Serão sete dias de festa na programação oficial do Carnaval espalhados por seis circuitos oficiais. Antes disso, haverá outros três dias de pré-Carnaval, com o Fuzuê no sábado (11), o Furdunço no domingo (12) e os desfiles de bloquinhos com bandas de sopro e percussão na quarta-feira (15).
Com um esquema mais tranquilo e próprio para crianças, o Fuzuê terá desfiles de entidades culturais tradicionais de Salvador. O Furdunço tem mais cara de Carnaval tradicional, com a diferença de que apenas carros de som e minitrios podem desfilar pelo circuito, todos sem cordas.
A economia que gira em torno da festa projeta crescimento neste ano. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia prevê ocupação de 95% nos hotéis e pousadas da capital baiana durante o Carnaval, com forte demanda também no litoral norte.
A Central do Carnaval, que vende abadás para blocos e camarotes, tem movimento 7% maior em comparação com o mesmo período em 2020. O resultado é impulsionado por uma base de vendas que já vinha de 2021 e 2022, anos em que a empresa abriu a venda de abadás e teve que recuar após o cancelamento da festa.
Diretor da Central do Carnaval, o empresário Joaquim Nery afirma que só 20% dos foliões que compraram abadás nos últimos dois anos pediram devolução do dinheiro. Os demais, ávidos pela festa, concordaram em manter a compra e aguardar mais um ano.
“O clima está impressionante na cidade, as pessoas estão com muita vontade de participar. Isso é muito visível nos eventos pré-Carnavalescos. Acredito que será um Carnaval marcado pela emoção”, diz.
Os ensaios de verão têm sido uma prévia, com festas de segunda a segunda e casa cheia em shows liderados por Timbalada, Ilê Aiyê, Cortejo Afro, Olodum, Xanddy Harmonia, Léo Santana e Psirico.
Até mesmo a ministra da Cultura, a cantora Margareth Menezes, abriu espaço na agenda e veio para o Mercado Iaô, ensaio pré-carnavalesco no bairro da Ribeira.
No dia 2 de fevereiro, a Festa de Iemanjá também será como uma espécie de prévia da folia, com as ruas do Rio Vermelho tomadas por bandinhas e grupos culturais.
O Carnaval em si será o auge do verão da retomada, com centenas de milhares nas ruas acompanhando os afoxés, blocos afro, blocos de índio, blocos de trio, bloquinhos sem trio e trios independentes.
No Pelourinho, o tema da festa será Eu Sou um Carnaval em Cada Esquina, homenagem a Moraes Moreira, ícone da MPB e dos trios elétricos que morreu em 2020. Haverá shows em palcos e desfiles de bloquinhos pelas ruas e ladeiras do centro histórico.
Grandes estrelas do Carnaval vão celebrar suas efemérides particulares em 2023. Ivete Sangalo, que completou 50 anos, fará a abertura oficial do circuito Barra-Ondina no comando de um trio elétrico que vai desfilar sem cordas.
Em entrevista à reportagem, a cantora disse querer aproveitar a maior festa popular do mundo para expurgar o retrocesso. “Nunca estivemos tão sedentos pelo futuro. Entramos num ano de maior esperança e possibilidades. Saímos de um tempo de retrocesso e entramos em 2023 com o pé direito, onde há mais esperança, e vamos caminhar para frente.”
Luiz Caldas, um dos precursores do axé e dono de alguns hits marcantes da festa, vai comemorar 60 anos com desfiles abertos. Sob liderança de Carlinhos Brown, a Timbalada vai celebrar 30 anos em seu bloco com a sua fiel legião de fãs.
Afros, afoxés e blocos de índio voltarão ao seu palco central e prometem um desfile de cores, tradição e religiosidade pelas ruas. Foram três anos de dificuldades para a maioria das entidades que têm no Carnaval o ponto alto do trabalho desenvolvido ao longo do ano.
Bloco de índio mais antigo de Salvador, fundado em 1974, o Commanche do Pelô batalhou para manter o grupo ativo e os associados engajados.
Em fevereiro de 2021, no dia em que aconteceria o desfile, diretores e associados fizeram um ato simbólico e botaram as suas fantasias nas portas de suas casas. No ano seguinte, cada qual em sua casa, uniram-se em um Pai-Nosso, repetindo o ritual que fazem antes de ganharem a avenida.
“Somos resistência, com insistência e sem nenhuma vontade de desistir. Por isso estamos voltando e vamos realizar esse Carnaval”, afirma o cantor Jorginho Comancheiro, presidente do bloco.
O Olodum vai para a avenida com o tema Tambores, a Batida do Coração, os Caminhos da Eternidade, resgatando história dos instrumentos de percussão com foco nos tambores de Gana e na cultura dos povos ashanti.
“Faremos um Carnaval emocionante e cheio de energia”, diz Jorginho Rodrigues, vice-presidente executivo do Olodum. O bloco desfila na sexta e no domingo de Carnaval.
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VEJA A PROGRAMAÇÃO
Pré-Carnaval
No Circuito Orlando Tapajós, entre o Clube Espanhol e o Farol da Barra
Sáb. (11/2): Fuzuê
Dom. (12/2): Furdunço
Qua. (15/2): Desfiles de blocos com bandas de sopro e percussãoTrios de axé
Ivete Sangalo: Sáb. (18/2) Bloco Coruja (Barra-Ondina) ; Seg. (20/2) Bloco Coruja (Barra-Ondina)
Bell Marques: Sáb. (18/2) Bloco Vumbora (Barra-Ondina); Dom. (19/2) Bloco Camaleão (Barra-Ondina); Seg. (20/2) Bloco Camaleão (Barra-Ondina)
Léo Santana: Sex. (17/2) Bloco do Nada e Camarote Salvador; Sáb. (18/2) Bloco do Nana e Camarote Vila; Ter. (21/2) Camarote Club
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