MAYARA PAIXÃO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Bad Bunny não a escreveu para eles, mas venezuelanos, cubanos e nicaraguenses se identificaram. A música “Lo que le Pasó a Hawaii” (alguma coisa uma vez que “O que Aconteceu no Havaí”) foi escrita pensando em sua terreno natal, o arquipélago de Porto Rico, mas virou uma espécie de música de protesto para as diásporas latino-americanas.
A tira compõe o novo álbum do porto-riquenho, “Debí Tirar Más Fotos”, lançado há exclusivamente dez dias. Desde logo, nas redes sociais, imigrantes e refugiados de países sob o tirania de autocracias na região passaram a compartilhá-la junto a imagens de suas nações.
A referência é a uma passagem da música que fala sobre a dor do exílio. “Cá ninguém quis ir [embora], e os que foram sonham em voltar”, diz o trecho. Há quase 8 milhões de migrantes e refugiados venezuelanos que deixaram o país governado pelo ditador Nicolás Maduro.
“Portanto Bad Bunny escreveu ‘Hawaii’, e fez com que nós, venezuelanos, chorássemos”, diz uma venezuelana no TikTok. “Bad Bunny escreveu a música para Porto Rico, mas todos os venezuelanos nos sentimos identificados”, diz outra, em vídeos com bandeiras da Venezuela.
São vídeos que mostram paisagens uma vez que o imponente monte El Ávila, que contorna a capital Caracas, ou logo o piso de pastilhas coloridas do saguão do Aeroporto de Maiquetía, que marca a memória de tantos imigrantes no momento de partir.
Benito Antonio (nome de batismo) não escreveu para esses imigrantes, mas fez da tira uma sintoma política.
No caso, contra a gentrificação e perda da cultura de Porto Rico, esse estado associado dos Estados Unidos divulgado pelo turismo mas com um vácuo de direitos e com uma potente trouxa de racismo impregnado –inclusive partindo de figuras próximas ao horizonte presidente do país, o republicano Donald Trump.
A tira fez muitos se questionarem sobre o que está acontecendo no território. E sobre o motivo para as comparações com o Havaí. Um dos 50 estados americanos, o Havaí foi anexado em 1898, mas só se tornou um estado de trajo em 1959. A região teve sua cultura profundamente transformada.
Em seu álbum mais porto-riquenho da curso, uma vez que a produção vem sendo descrita, Bad Bunny fala sobre os problemas que afetam a ilhéu onde nasceu, mormente a gentrificação. Ex-colônia espanhola e há mais de 120 anos sob propriedade de Washington, a ilhéu tem sistemas Legislativo e Judiciário próprios, mas suas fronteiras, sua resguardo e suas relações exteriores estão nas mãos da Mansão Branca.
Nos últimos anos, para evitar a bancarrota, algumas leis no território atraíram investidores do exterior, muitos deles do ramo da tecnologia, que buscavam incentivos fiscais ofertados para a compra de casas. Uma vez que resultado, houve uma grande transmigração dos habitantes da ilhéu, que já havia sido intensificada pelo Furacão Maria em 2017.
Benito faz menção a termos muito típicos do arquipélago, uma vez que le-lo-lai (“ni olvide el lelolai”, ou “não se esqueça do lelolai), um tipo de quina da espaço rústico; e jíbaro (“se oye al jíbaro llorando, otro más que se marchó”, ou “se escuta o jíbaro chorando, outro que foi embora”), maneira de se referir a camponeses e agricultores, que também têm se visto forçados a deixar suas terras.
Ele escreveu uma mensagem sobre os efeitos de um padrão ainda visto uma vez que colonizador, mas acabou expressando os sentimentos de cada vez mais pessoas que se veem forçadas a deixar seus países de origem, seja pelo pânico, pela repressão ou pela falência econômica dos regimes.
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