Michael Oher, campeão da NFL no Super Bowl XLVII, de 2013, pelo Baltimore Ravens, abriu uma petição contra a família que levou sua história aos cinemas com o filme “Um Sonho Possível”, dirigido por John Lee Hancock e indicado ao Oscar de 2010. A trama conta que ele foi adotado pela família Tuohy, interpretada por Sandra Bullock e Tim McGraw, e que ela o teria incentivado a tentar a carreira no futebol americano. Segundo o jogador, essa adoção nunca aconteceu na vida real, mas sim uma tutoria, e ele nem mesmo recebeu os direitos pela adaptação – agora, ele busca o fim da tutela e direitos financeiros pela imagem na produção.
O processo está no estado americano de Tennessee e acusa discrepâncias em como a história é contada. De acordo com Oher, Sean Tuohy e Leigh Anne Tuohy, os integrantes do casal na vida real, o receberam em sua casa como um estudante do ensino médio, e não filho adotivo. Ainda, ele teria sido enganado pelos dois ao completar 18 anos em 2004, quando assinou um documento a pedido deles para que os tornasse seus tutores, assim, poderiam fazer negócios em seu nome. Isso resultou em um acordo que trouxe muito dinheiro para eles e seus filhos biológicos, mas nenhum centavo para Oher.
Essa “hierarquia” dos Tuohy como pais adotivos os colocaram em posição para ganhos financeiros e controle do posto do jogador nas negociações. De acordo com o processo, como divulgado pela ESPN, foram US$ 225 mil (cerca de R$ 1,1 milhão) para cada um da família, contando casal e filhos – e nada para o astro da NFL, justamente o protagonista da história, mesmo com a arrecadação de mais de US$ 300 milhões do longa. Em suma, o ponto central do enredo teria sido modificado na vida real para benefício dos Tuohy.
“Eles me explicaram que [tutores] significa exatamente a mesma coisa que ‘pais adotivos’, mas que as leis foram escritas de uma maneira que levava em consideração minha idade”, escreveu Oher em seu livro de memórias “I Beat the Odds”. Se fosse, de fato, a mesma coisa, ele seria membro legal da família e teria autoridade sobre suas finanças, quando na verdade aconteceu o contrário. Agora, Michael busca encerrar a tutela e cobrar do casal sua parte nos lucros e as devidas indenizações. Os Tuohy, por sua vez, negaram o não compartilhamento do dinheiro com Oher.
A boa relação entre eles e o jogador, de fato, existiu, mesmo que não tenha sido contada da forma correta e com o desfecho ruim para ele. Vindo de uma família cuja mãe lutava contra o vício em drogas, foi enviado a um orfanato quando tinha dez anos e chegou a morar nas ruas. Na adolescência, foi apresentado a uma escola cristã particular através do pai de um de seus amigos e lá destacou-se no esporte – no futebol americano, sua vida começou a decolar.
Como ainda não tinha uma moradia estável, ficava nas casas de seus colegas de classe, e os Tuohys foram uma das famílias que o receberam, já que os filhos biológicos tinham boa relação com Oher. Após um tempo considerável frequentando a casa deles, o incentivaram a se mudar para lá e planejaram adotá-lo, até acontecer toda a situação que levou o jogador a abrir o processo.
O atleta já declarou ser grato ao filme, por isso, diz que foi chocante descobrir todas as nuances que o prejudicaram financeiramente. Como ficou durante muito anos focado em sua carreira na NFL, não teve tempo para analisar detalhadamente as questões contratuais, por isso, a petição é tão recente. Não se sabe ainda qual a posição mais recente dos Tuohy no caso e a defesa deles.