DEBORAH LIMA, RANIER BRAGON E GUILHERME BOTACINI
CONFINS, MG, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Brasileiros deportados dos Estados Unidos disseram ter sido agredidos por agentes americanos durante voo de repatriação do país até Manaus, lugar da primeira paragem da avião, na noite desta sexta (24). Eles desembarcaram no aeroporto de Confins, em Minas Gerais, neste sábado (25).

 

Os migrantes afirmam que as agressões ocorreram no Panamá, quando a avião pousou no país centro-americano. De harmonia com eles, um dos motores apresentou problema e demorou a voltar a funcionar. Neste ínterim, os migrantes não foram autorizados a deixar a avião, que passou por períodos com o ar-condicionado desligado.

Eles relataram falta de ar e pessoas passando mal, inclusive mulheres e crianças, além de dificuldade para serem autorizados a ir ao banheiro e conseguir se nutrir ou ingerir chuva. Protestos dos presentes para que agentes americanos deixassem que os migrantes saíssem da avião resultaram em discussão e, neste momento, teriam ocorrido as agressões.

Em seguida, a avião decolou e pousou em Manaus. Relatos de imigrantes dão conta de que, em seguida o pouso, a Polícia Federalista entrou na avião e ordenou que os imigrantes deixassem o avião e as algemadas fossem retiradas.

A Força Aérea Brasileira foi acionada pelo governo Lula para buscar os deportados em Manaus e levá-los ao fado final, Belo Horizonte.

Na noite deste sábado, o Itamaraty publicou em suas redes sociais a informação de que pedirá explicações ao governo Trump sobre “o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo”.

A pasta informou que para obter informações o ministro Mauro Vieira reuniu-se em Manaus com o solicitador Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federalista no Amazonas, e com o major-brigadeiro Ramiro Pinho, comandante do 7º Comando Distraído Regional.

Na chegada no Aeroporto de Confins, os deportados falaram a jornalistas sobre o retorno e denunciaram as agressões.

Vários deles confirmam as agressões e mostraram marcas de algemas apertadas e de agressões nas costas. Um deles afirma que alguns dos agredidos fizeram vistoria de corpo de delito ainda em Manaus.

“Eu não fui agredido, mas os meninos foram. Eles estavam algemados, meteram o porrete neles sem dó. Desumano. Chutes, jogando os moleques no soalho. Em um deles, um rosto deu um mata-leão”, disse Luiz Fernando Caetano Costa, um dos imigrantes retornados, que estava havia um ano e meio nos EUA.

“Alguns rapazes mais novos começaram a ver as crianças passando mal, eles estavam falando para tirar as crianças. Os agentes dos Estados Unidos não queriam deixar a gente trespassar. Agrediram um dos meninos, derrubaram ele no soalho e deram um pontapé nele”, afirmou Mario Henrique Andrade Mateus, 41, que diz ter ficado três meses retido na imigração americana.

“Posteriormente a chegada da Polícia Federalista, depois de muita discussão, muita combate, com a presença da Polícia Federalista, eles não queriam deixar a gente descer. E quando aceitaram, eles queriam tirar as algemas para que a Polícia Federalista não visse que nós estávamos algemados em território brasiliano”, disse Mario Henrique no aeroporto.

“Nós não aceitamos isso e começou um novo atrito, até que o solicitador da Polícia Federalista, o superintendente-geral, conseguiu entrar na avião. Forçou lá e conseguiu entrar e obrigou a retirada da gente de dentro da avião e deu todo o suporte necessário para nós”, afirmou.

“Os oficiais de transmigração bateram em nós, falaram que iam derrubar o avião, que nosso governo não era de zero. A gente que se rebelou, iam nos matar. Eles falaram que se eles quisessem eles fechavam a porta da avião e matavam todos nós”, disse Carlos Vinicius de Jesus, 29.

O carioca Marcos Vinicius Santiago de Oliveira, 38, confirmou as agressões em outros deportados e contou a reverência da pane que teria ocorrido no avião.

“Quando parou no Panamá, o avião não queria funcionar. Estava muito ruim de funcionar, depois funcionou. Mas a gente ficou horas sem ar condicionado e algemado. Era horroroso. Até para ir no banheiro, para ingerir chuva, aquilo era difícil”, disse.

“Depois que [o voo] chegou a Manaus foi isso, foi abastecer e não funcionou mais o avião. Alguma turbina não estava funcionando. A gente viu fumaça em uma turbina. Todo mundo ficou com terror, apavorado. E aí a gente ficou horas e horas lá, sem respirar, tudo fechado. Uma vez que é que faz? Ninguém aguentou, todo mundo algemado”, afirmou ele, que disse não ter sido agredido, mas confirmou que viu agressões a outras pessoas.

“A grande questão é que os países têm suas políticas imigratórias, mas as suas políticas imigratórias não podem violar os direitos humanos. O Brasil sempre tratou com muito reverência toda a população, tanto refugiados que chegam no Brasil, quanto pessoas que nós temos que repatriar. As denúncias das pessoas que chegaram, elas são muito graves de violação [de direitos]”, afirmou a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, no aeroporto. Segundo a ministra, o presidente Lula orientou que houvesse a recepção dos migrantes.

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