SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil desativou 3.009 dos novos leitos de UTI do SUS entre julho e outubro de 2020, dos 21.651 que tinham sido criados nos meses anteriores em resposta à primeira onda da pandemia do novo coronavírus, ou 12% do total.
Os dados são parte do IDO (Índice de Desigualdade na Oferta), criado a partir de um levantamento feito pelo Instituto Votorantim com dados das secretarias de saúde estaduais.
Mais de 200 mil pessoas morreram por causa da Covid-19 no Brasil em menos de um ano, o equivalente a toda a população da cidade de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, estado que desativou 87% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) que havia criado em função da pandemia entre os meses de fevereiro e julho.
Não foi apenas o Rio que desativou os novos leitos às vésperas da segunda onda de infecções atingir o país. Como adiantado pela Folha de S.Paulo, o Amazonas foi o segundo estado que mais desativou leitos de UTI do SUS, 85% deles.
No dia 13 de janeiro deste ano, a capital do Amazonas, Manaus, bateu o recorde de 2.221 hospitalizações nos primeiros 12 dias do ano. É um número superior a todas as internações do mês de abril de 2020 no estado, quando o Amazonas enfrentava o pico da pandemia.
O Amazonas tinha até o dia 12 de janeiro uma fila de 58 pessoas à espera de um leito de UTI nos hospitais de referência. São pacientes que poderiam ter sido atendidos com os 117 leitos desativados.
Já o estado do Pará, que está estável e com volume de novos casos confirmados constante e alto, desativou 82% dos novos leitos de UTI públicos, um total de 267 dos 324 que haviam sido criados para lidar com a pandemia.
Em nota enviada à Folha, a Secretaria de Estado de Saúde do Pará informou que “o estado possui capacidade e aparato para reabrir toda a estrutura já utilizada anteriormente em caso de necessidade” e que a taxa de ocupação de leitos de UTI no estado, na quinta (14), era de 68%.
As secretarias de Saúde do Rio de Janeiro e do Amazonas não responderam aos questionamentos.
Os estados da região Sudeste respondem por 51% de todos os leitos desativados no Brasil entre julho e outubro. A região foi a que mais abriu leitos no início da pandemia, uma alta de 45%, 4.764 ao todo, dos quais fecharam 1.549.
A região Nordeste responde por 39% dos leitos desativados no país, tendo dois estados entre os cinco que mais desativaram essas vagas, Piauí e Rio Grande Norte, que fecharam 208 e 159 unidades, respectivamente.
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O objetivo do índice é indicar as regiões mais frágeis do país quanto à oferta de leitos e também de ventiladores e respiradores. Foi na análise dos resultados que a equipe responsável pelo levantamento notou o movimento de desmobilização da estrutura criada para combater a Covid-19 a partir de agosto.
“O que nos chama muito a atenção é a evolução dos indicadores, sobretudo de UTI ao longo do tempo. Tivemos uma visão de um crescimento da oferta de leitos bastante concentrado em algumas regiões e estados e depois uma queda muito abrupta”, explica Rafael Gioielli, gerente do Instituto Votorantim.
O índice varia de 0 a 1 e analisa a distribuição da estrutura de saúde: leitos hospitalares, leitos de UTI, respiradores e ventiladores, considerando a população de cada estado e município do país. Quanto mais próximo de 0, maior a distribuição da estrutura de saúde entre os municípios de cada estado e menor a desigualdade.
Quando observado apenas o IDO para os leitos de UTI do SUS, o Brasil, de forma geral, apresenta índice de 0,39. O estado mais desigual é o Rio de Janeiro, com 0,11, seguido pelo Amapá, com 0,13, e por Santa Catarina, com 0,17.
“Se pensar que o Norte só tinha 5% dos novos leitos [no início da pandemia] e 13% deles foram desativados, isso mostra como a desigualdade vai crescendo. Porque, por exemplo, a região Sul é responsável por 17% dos leitos criados e perdeu apenas 1%, entre os desativados. Foi a região que menos perdeu, que teve o melhor saldo, redução da desigualdade e melhoria da oferta”, analisa Gioielli.
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