BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O Brasil assume nesta quinta-feira (8) a presidência pró-tempore do Mercosul, em uma reunião virtual do bloco. A passagem do comando da Argentina para o Brasil ocorre em meio a um processo de isolamento do país vizinho, cujo governo não está de acordo com a flexibilização do bloco, como defendem Uruguai, Paraguai e Brasil.
Durante reunião do Conselho do Mercado Comum do Mercosul, nesta quarta (7), o Uruguai afirmou que vai iniciar conversas para acordos comerciais com outros países fora do bloco.
O país ressaltou que essa iniciativa não significa um rompimento com o Mercosul, do qual quer continuar membro, enquanto negocia acordos bilaterais.
A atitude, reafirmada em comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores uruguaio, agrava a tensão entre os países membros.
Na reunião passada, que foi comemorativa dos 30 anos do Mercosul, o presidente argentino, Alberto Fernández, irritou-se com os ataques mais duros do mandatário uruguaio, Luis Lacalle Pou, que reclamava do protecionismo e da demora na tomada de decisões no bloco. Fernández chegou a dizer que quem não estivesse feliz deveria “abandonar o barco”.
O desentendimento básico se dá em torno da redução da TEC (tarifa externa comum). O Brasil, assim como Uruguai, defende uma redução radical, enquanto a Argentina prefere uma redução gradual e menor, evitando aplicá-la ao setor industrial, pelo menos até janeiro. O Brasil insiste que o bloco deixe de ser guiado por “questões ideológicas”.
Nos últimos dias, o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, realizou reuniões com representantes do governo brasileiro para tratar do assunto. A Argentina teme que o Brasil, na presidência do bloco, acelere o processo de flexibilização.
“Estamos avançando na tentativa de preservar o Mercosul”, afirmou Scioli, ante a rumores de que o bloco poderia se desintegrar se os líderes não chegarem a um acordo. Scioli levou os pedidos da União Industrial Argentina, para que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, não avance em uma redução generalizada de todas as tarifas externas.
Fernández defende que uma redução radical poderia afetar a indústria da região em um momento de crise econômica.
O chanceler do Uruguai, Francisco Bustillo, afirmou que o Uruguai mantém sua posição, ao lado do Brasil e do Paraguai. “O Uruguai não pode apostar em um bloco autárquico. Mas não são negociações simples. A posição da Argentina é clara. Nos informa que não está a favor de uma flexibilização. Só que para nós é necessária uma maior inserção internacional. O Uruguai precisa disso. Nossa posição é pela modernização do Mercosul”.
“Nós precisamos ter mais acesso a mercados internacionais, para potencializar nossa rica produção”, complementou. Bustillo também afirmou que a lentidão da União Europeia em responder ao possível acordo com o bloco demonstra que “não há um real interesse deles neste tratado, portanto não podemos ficar parados esperando que isso se desenrole”.
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