SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A um mês do Carnaval, São Paulo vive a expectativa da volta de fantasias, glitter, fanfarras, trio elétrico, cerveja e banheiro químico pelas ruas. Depois de dois anos sem cortejos oficiais, os blocos da cidade esperam que o retorno marque também uma espécie de festa do recomeço.
“Momento de extravasar”, “é hora de ocupar a rua novamente”, e “maior de todos os carnavais” são algumas das previsões dadas pelos organizadores da folia.
Desde 2020, a cidade de São Paulo não tem cortejos oficiais pelas ruas. A pandemia impossibilitou a saída dos blocos em 2021 e 2022 -embora muitos tenham desfilado no ano passado sem o apoio do poder público.
Agora a situação mudou. A gestão de Ricardo Nunes (MDB) já anunciou que o retorno da folia será no fim de semana de 11 e 12 de fevereiro. No sábado seguinte, dia 18, começa o Carnaval de fato, que vai até dia 21. E tem ainda o pós, nos dias 25 e 26.
Até agora, a prefeitura já anunciou duas listas com os nomes de 507 blocos autorizados para desfilar nesse período, e uma terceira lista ainda vai ser divulgada.
Entre as novidades para a organização deste ano, a gestão municipal definiu que não haverá desfiles de blocos na Avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini (na zona sul) e na Avenida Tiradentes (centro). Também está vetado o Largo da Batata, na zona oeste. A maior parte das regras regras seguem iguais as de 2020, último ano de folia.
Marina Graminha Cury, uma das organizadoras do Saia de Chita, que sai nas ruas da Lapa, calcula que neste ano o público deve ser o maior já visto pelo bloco. Normalmente, os integrantes ficam receosos de reunir muita gente. Mas, nesse ano, essa preocupação ficou de lado.
“Estamos com muita vontade de se ver”, diz ela. “A preocupação é porque ninguém toca há três anos e tá tudo ruim”, ri ela. “Por isso, estamos ensaiando mais que nunca. Vai ter muita gente, mas vamos curtir e não nos preocupar com isso.”
Thiago França, à frente do bloco A Espetacular Charanga do França, que ocupa as ruas da Santa Cecília (também no centro) desde 2015, classifica que esse é o “Carnaval do Renascimento”.
“É muita coisa somada. É o fim de pandemia, com reinicio do Brasil pós-Bolsonaro, pós-obscurantismo que tivemos nesses últimos anos”, afirma. Segundo França, por mais que o bloco ensaie muito e toque a mesma música mais de 30 vezes, “na hora que vai para a rua, a emoção sempre vem”.
Juliana Matheus, à frente do Bloco Feminista, diz que depois de dois anos sem Carnaval, a expectativa é que 2023 repita os feitos da folia de 1919 -a primeira após a gripe espanhola, que deixou mais de 20 mil mortos.
O e escritor Ruy Castro definiu a festa de 1919 como “a grande desforra contra a peste que dizimara a cidade”. Neste ano, Juliana prevê algo similar a isso.
“Esse ano vai ser o maior de todos os Carnavais. Vai ser épico”, diz ela. “Já falei para as pessoas começarem a tomar remédio agora porque vai nascer muita criança”.
Apesar da felicidade e ansiedade pelos dias de folia, muitos reclamam da comunicação com a prefeitura, que consideram que ficou mais burocrática. França diz que a atual gestão tem sido a que menos propôs diálogos diretos. “Havia um acolhimento maior. Tínhamos reuniões com subprefeituras, esse ano não aconteceu nada.”
Outra reclamação é que a prefeitura decidiu escalonar o horário do fim dos blocos, algo que já acontecia em 2020. Assim, alguns desfiles vão ter que terminar às 18h e outros, às 19h. Organizadores dizem que isso privilegia megablocos, o que a gestão municipal nega.
De acordo com a prefeitura, a medida visa garantir a segurança dos foliões no momento da dispersão e, quem tiver que terminar uma hora antes, pode começar os desfiles com uma hora de antecedência. “Blocos históricos, de tradição com a cidade e com o território, tiveram os seus horários de tradição preservados”, diz.
A gestão Nunes afirma ainda que o diálogo com os blocos carnavalescos tem sido diário, de forma a organizar cada cortejo de forma adequada, assim como horário e data solicitadas. Em relação às reuniões com as subprefeituras, diz que elas vão acontecer e serão marcadas a partir desta semana.
Lira Ali, integrante do Coletivo Arrastão dos Blocos, que reúne ao menos 100 blocos de São Paulo, afirma que nota uma animação somada à preocupação com a prefeitura. Ela reclama poucos blocos foram escolhidos para participar de uma comissão para debater a festa.
“A gestão do Ricardo Nunes dialoga muito mais com grandes empresas do que sociedade civil e no Carnaval de rua não está sendo diferente”, diz ela.
A prefeitura diz que um comitê foi criado em dezembro de 2022 com representantes de blocos para que fossem apontadas as necessidades do Carnaval. A comissão foi feita levando em conta a diversidade da festa e com representantes de todas as macrorregiões da cidade.
Lira levanta ainda outros pontos de atenção. “Estamos empolgados e cheios de expectativa. Os eventos estão voltando a acontecer e podemos ser felizes nas ruas, mas estamos preocupados com a situação da população da situação de rua, que aumentou na pandemia, com problemas de segurança pública, violência e o perigo nas ruas do centro de São Paulo.”
Juliana Matheus, do Bloco Feminista, diz que já organiza para terminar o desfile dentro de algum local fechado para facilitar a liberação das vias e dar mais segurança para os foliões, principalmente mulheres e famílias.
“O que as pessoas vão fazer quando acabarem os blocos às 18h, no meio do calor do verão, em um feriado prolongado? Quem que vai embora?”, afirma.
Foi pensando nisso que o Agrada Gregos deve fazer festas fechadas após a dispersão. Mas Gabriel Ribeiro, organizador do megabloco, deixa claro que a prioridade é o retorno para a festa de rua. “Estávamos com muita saudade de fazer festas na rua, que foi onde nascemos e é a nossa essência. As pessoas estão precisando desse momento para extravasar e curtir.”
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