WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (5) que retomarão a construção do muro na fronteira com o México e voltarão a enviar migrantes venezuelanos que não conseguirem fornecer uma justificativa legal para permanecer no país de volta ao regime comandado por Nicolás Maduro.
As medidas acontecem em meio a uma pressão crescente sobre a Casa Branca, vinda inclusive de membros do Partido Democrata, para que o crescente fluxo de imigrantes em direção ao país seja contido. O prefeito de Nova York, Eric Adams, por exemplo, disse no mês passado que a entrada de solicitantes de refúgio “destruiria a cidade”.
Nesta semana, foi a vez do governador de Illinois, J.B. Pritzker, enviar uma carta ao presidente, Joe Biden, denunciando o que chama de “crise migratória” na região e cobrar ação do governo federal. O prefeito de Chicago, Brandon Johnson, também fez um alerta sobre o número crescente de migrantes na cidade, enviados de ônibus pelo governo do Texas. Tanto Pritzker quanto Johnson são democratas.
A construção do muro na fronteira com o México, uma política do ex-presidente Donald Trump, foi sempre rejeitada por Biden, que afirmou desde a campanha pela eleição que não daria continuidade ao projeto. Logo nos dias iniciais de seu mandato, em janeiro de 2021, um comunicado da Casa Branca dizia que o muro não era “uma solução política séria”.
Segundo o governo, a construção será retomada porque os recursos destinados a ela em anos anteriores, que somam cerca de US$ 190 milhões (cerca de R$ 980 milhões), não foram gastos e não podem ser realocados em outros programas.
Questionado por jornalistas na tarde desta quinta sobre a contradição, Biden respondeu que tentou redirecionar os recursos, sem sucesso. “Não há nada na lei além de que o dinheiro deve ser usado para o que ele foi alocado. Eu não posso impedir isso.” Ao perguntarem se ele acreditava que a medida era efetiva para conter o fluxo de imigrantes, respondeu: “Não”.
O anúncio foi feito pelo Departamento de Segurança Interna por meio de um documento que pouco detalha como será a ação. A parte do muro será construída no condado de Starr, no estado do Texas, que segundo autoridades locais assiste a um alto fluxo de migrantes.
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, afirmou que a medida é um retrocesso. AMLO, como é conhecido, havia se reunido nesta quinta com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, justamente para falar sobre migração e segurança.
“Entendo que haja fortes pressões de grupos políticos de extrema direita nos EUA”, disse o mexicano, “especialmente daqueles que querem aproveitar o fenômeno migratório e o consumo de drogas para fins eleitorais”.
Trump, por sua vez, comemorou a retomada, e questionou se Biden vai pedir desculpas a ele e “à América” por ter demorado tanto tempo para continuar o muro.
De acordo com dados da patrulha da fronteira, 245 mil entradas de migrantes foram registradas nesta região somente nos últimos 12 meses. Ao todo, de outubro de 2022 a agosto passado, mais de 2,2 milhões de migrantes foram detidos cruzando a fronteira sul dos EUA.
No anúncio, o secretário de Segurança Interna Alejandro Mayorkas afirma que derrubou a validade de mais de 20 leis federais no Texas para permitir a obra, a fim de “garantir a construção rápida de barreiras na fronteira”. “Existe uma necessidade aguda e imediata de construir barreiras físicas na fronteira americana”, frisou.
A volta das deportações de venezuelanos para seu país de origem, por sua vez, se dá depois de Caracas fechar um acordo com Washington em que se compromete a voltar a acolher cidadãos venezuelanos. Como a ditadura não os aceitava antes, os EUA os enviavam ao México ou à Colômbia.
Questionados sobre a mudança de postura venezuelana, membros do governo americano não entraram em detalhes. Segundo o Departamento de Estado, a decisão sucede discussões entre Estados Unidos, México, Colômbia e Panamá na última quarta (4) para lidar com migrações irregulares.
A principal rota de entrada de venezuelanos nos Estados Unidos é o perigoso estreito de Darién, na fronteira entre a Colômbia e o Panamá.
As deportações devem ocorrer em voos comerciais, e serão retomadas nos próximos dias segundo membros do governo. Estatísticas obtidas pela rede americana CBS indicam que um número recorde de cerca de 50 mil venezuelanos cruzaram a fronteira americana ilegalmente em setembro.
Oficiais do governo americano afirmam que a ação mostra o comprometimento do governo de “impor consequências” àqueles que cruzarem a fronteira ilegalmente. “O anúncio de hoje deixa claro que estamos comprometidos em aplicar estritamente as leis de imigração e em remover rapidamente as pessoas que não se beneficiam desses processos ordenados e escolhem cruzar nossa fronteira ilegalmente”, disse o Departamento de Estado, em nota.
A retomada das deportações para Caracas acontece cerca de duas semanas após o governo americano anunciar a concessão de uma proteção temporária a cerca de 472 mil imigrantes da Venezuela que hoje residem no país de maneira ilegal.
Na prática, a medida impede que eles sejam deportados e permite que busquem empregos formais e que façam viagens.
A entrada de imigrantes não documentados no país é um dos principais alvos da oposição, que criticam o governo por não ter uma política mais dura contra o problema. Pré-candidatos republicanos à nomeação do partido para a corrida presidencial do próximo ano têm falado não só em concluir o muro, como também em enviar militares para a fronteira.