SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após semanas fora do foco da Guerra da Ucrânia, a Belarus ressurgiu em cena nesta quarta (4) ao iniciar exercícios militares de surpresa em seu território. O país é o principal aliado da Rússia na ofensiva contra o vizinho de ambos.
O movimento ocorre no 70º dia da invasão russa, quando Moscou ampliou as forças envolvidas nos ataques na região do Donbass (leste russófono do país) e anunciou ter usado pela segunda vez um submarino da Frota do Mar Negro em bombardeios com dois mísseis de cruzeiro Kalibr.
A ditadura de Aleksandr Lukachenko é uma antiga amiga de Moscou, mas sempre buscou se equilibrar entre a ex-metrópole soviética e a União Europeia. Isso se rompeu em 2020, quando protestos maciços contra mais uma reeleição fraudada do líder o levou a procurar apoio de Vladimir Putin.
Deu certo, a repressão encerrou o dissenso mais agudo, mas a conta veio. O Kremlin conseguiu unificar sua doutrina militar com a do vizinho, e nos meses anteriores ao início da guerra teve permissão de concentrar homens e equipamentos por lá.
O resultado foi a frente que atacou Kiev já no início do conflito, descendo diretamente de Belarus e com o apoio de sistemas antiaéreos baseados no país. Nenhum soldado de Lukachenko, contudo, tomou parte oficialmente da ação.
O Ocidente não se convenceu muito e também incluiu autoridades do país em listas de sanções, mas nada parecido com o progressivo desligamento do sistema internacional imposto à Rússia. De lá para cá, Belarus fingiu ser uma figurante de luxo e sediou algumas conversas de paz, embora a retirada da tropa que fracassou em tomar a capital ucraniana e seu deslocamento para o leste tenham ocorrido por seu território.
Segundo o Ministério da Defesa belarusso, as manobras só visam “testar sua prontidão para combate” e não oferecem perigo a vizinhos. Kiev não comprou isso pelo valor de face. “Estamos prontos”, disse o porta-voz do serviço de fronteiras ucraniano, Andrii Demtchenko, sobre um eventual reforço de Minsk à guerra da Putin.
Ele seria bem-vindo por um lado, já que há uma anemia crônica de recursos humanos para Putin, que não decretou uma mobilização geral para evitar chamar a guerra pelo nome –ele se atém ao formalismo “operação militar especial”.
O Kremlin negou, nesta quarta, que Putin irá usar a data mais importante do calendário político do país, o dia da vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial em 9 de maio, para declarar guerra e mobilização nacional.
“Isso é nonsense, zero chance”, disse o porta-voz Dmitri Peskov. A especulação está forte nos meios militares russos, insatisfeitos com o que veem como uma guerra com esforço limitado e sem sucesso por isso. A data havia sido citada por autoridades britânicas também.
Por outro lado, se Belarus entrar na guerra, garantirá mais uma região de instabilidade nas fronteiras da Rússia. Mais do que em qualquer momento desde que faziam parte da União Soviética, extinta em 1991, a vizinha está hoje sob controle político russo. Sanções ocidentais mais duras e sangue poderiam estragar o arranjo, com a ressurgência das manifestações.
Enquanto isso, Kiev apontou para um reforço nas ações russas no Donbass, particularmente em torno da segunda maior cidade do país, Kharkiv, duramente castigada por bombardeios. O Ministério da Defesa russo não confirmou, preferindo se concentrar na divulgação de ataques a linhas de suprimento de armas da Otan (aliança militar ocidental) à Ucrânia.
Foram destruídas, segundo a pasta, seis estações de trem e subestações de energia que alimentavam as linhas ferroviárias usadas por esses comboios vindos do oeste –fronteira da Polônia, principalmente. Com a batalha do Donbass se desenrolando, o influxo mudou: além de armas portáteis contra tanques, vitais na primeira fase da guerra, agora já há quase 90 obuseiros americanos e talvez 200 tanques poloneses doados a Kiev.
Em videoconferência, o ministro Serguei Choigu disse que “qualquer transporte da Otan com armas é um alvo”.
“O comando militar russo está tentando aumentar a intensidade de sua operação ofensiva. E busca destruir nosso sistema de transporte”, afirmou o porta-voz da Defesa ucraniana, Oleksandr Motuzianik. Forças da Ucrânia bombardearam o centro de Donetsk, a capital da autoproclamada república separatista russa homônima no Donbass.
Em Mariupol, no sul do país, houve ataques russos aos dois batalhões restantes de nacionalistas do grupo neonazista Azov escondidos numa siderúrgica da cidade, mas na sequência o Kremlin disse que Putin ordenou que eles apenas permanecessem cercados. A usina de Azovstal é o ponto final de resistência mais dura ucraniana no sudeste do país, ligação entre o Donbass e a Crimeia anexada em 2014.
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