SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tudo pensado nos mínimos detalhes. Foi assim durante os 147 dias que Emanuelly Yasmin passou internada no Hospital Municipal Vila Santa Catarina, em São Paulo. Afinal, era preciso adaptar os cuidados para atender a menor bebê já registrada na rede pública do país.
Emanuelly chegou às 14h46 do dia 18 de novembro de 2022, pesando 335 gramas e 25 centímetros. Era tão pequena que seus pés mediam 3,5 centímetros, o tamanho do polegar da mãe, Camila Soares, 27 anos.
Camila conta que a gravidez de Manu foi uma surpresa. Em maio de 2021, ela ficou grávida de um menino, Miguel Henrique. A previsão era que o bebê nascesse em fevereiro de 2022, mas aos cinco meses ela descobriu que o coraçãozinho não estava mais batendo. Na época, ela foi encaminhada para o Vila Santa Catarina para fazer a curetagem e foi diagnosticada com hipertensão.
Pouco tempo depois, veio a segunda gravidez e novamente a gestação não evoluiu como o esperado. Ela e o marido, o sushiman Fernando de Sousa Silva, 28, chegaram a pensar que não conseguiriam ter um filho. Foi quando surgiu a notícia de Emanuelly.
Como Miguel, a pequena estava prevista para fevereiro, mas começou a sofrer com a variação de pressão da mãe. Dessa vez, porém, Camila tinha conhecimento do problema e, quando um ultrassom indicou que a criança não estava crescendo adequadamente, procurou o hospital.
“Pensei: ‘O coração dela ainda está batendo. Seja o que Deus quiser'”, recorda a mãe. Camila procurou o pronto-socorro e foi internada no mesmo dia. No local, passou a receber corticoides e sulfato de magnésio, que respectivamente ajudam a estimular a maturação dos pulmões e tem efeito neuroprotetor.
Depois de quatro dias, a equipe decidiu por uma cesárea de emergência. “A mãe e o bebê não estavam bem. A discussão era se seria possível salvar, se conseguiríamos ajudá-la a respirar, mas a pressão da Camila estava muito difícil de controlar e a Manu estava sofrendo”, lembra Luísa Zagne, coordenadora médica da pediatria e neonatologia do hospital.
Manu foi intubada com a menor cânula do mercado. Depois, foi levada para uma incubadora que umidifica e aquece o ar e possibilita a realização de alguns exames sem necessidade de remoção. Era necessário evitar ao máximo qualquer manipulação e simular o útero da melhor forma possível, afirma Zagne.
O Vila Santa Catarina é administrado pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, e o Einstein emprestou alguns dos equipamentos usados durante a internação, entre eles um respirador que acompanha o fluxo do bebê, propiciando movimentos mais naturais, e um aparelho que funciona em sincronia com o diafragma e contribui para a extubação.
“Com a Manu tivemos que adaptar. Foi um desafio único”, diz Zagne.
As tabelas que estimam a taxa de sobrevivência de prematuros, por exemplo, partem de bebês com 400 gramas, acima do peso de Emanuelly. Foi necessário aguardar mais alguns dias para a extubação porque não havia dispositivo que se encaixasse no rosto da pequena e mesmo a touca de prematuros sobrava em sua cabeça.
“Ela era tão pequenininha. Vê-la na incubadora era de partir o coração”, recorda Camila. A fragilidade da neném era tamanha que a mãe teve de pedir ajuda à psicóloga quando autorizaram que tocasse a filha, uma semana após o parto. Tinha medo de contaminá-la com alguma bactéria.
“O primeiro toque foi muito bom. Foi uma sensação tão gostosa! Ali eu tive a certeza de que ela ia sair da UTI”, relata.
Os meses seguintes foram de pequenas conquistas e alguns sustos, como quando a saturação da neném baixou de repente bem na hora em que a equipe havia autorizado Fernando a colocá-la no contato pele a pele.
“Foi desesperador. Tudo apita, os médicos correm”, conta Camila. “Saber que agora posso pegá-la e que nenhum fio vai desconectar é muito bom, é tranquilizador.”
Desde o último dia 13, Camila está com Emanuelly na casa de sua mãe, no bairro São Judas, que possui melhor estrutura para os cuidados que a bebê precisa. Manu ainda utiliza oxigênio e uma vez por semana recebe uma equipe de saúde.
Como outros prematuros, ela também será encaminhada para acompanhamento com pediatra, neurologista, oftalmologista e fonoaudiólogo para estimular e monitorar seu desenvolvimento.
Por enquanto, Manu é um caso isolado, mas a equipe de saúde espera dividir o aprendizado em publicações e congressos e ajudar a replicar o cuidado em outros locais. “Torcemos para que nossa experiência ajude”, diz Zagne.
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