O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, enfatizou que a autarquia “fará que o que for necessário para atingir a meta de inflação”. “Temos os instrumentos, podemos fazer o trabalho. Estamos comunicando ao mercado. Com mais transparência em que como usamos nossos instrumentos.”
Campos Neto reconheceu que houve mais surpresas de alta na inflação nos últimos meses, com os choques se espalhando, com os preços de serviços acima do esperado no IPCA – o índice oficial de inflação – em julho.
Ele ainda comentou que há muita desancoragem nas expectativas de inflação em 2021, com os choques do início do ano, em alimentos, energia e agora com a seca. “As pessoas começaram a revisar as expectativas de 2022 para cima. Mencionamos na nossa comunicação as diferenças nas expectativas entre alguns participantes do mercado e nosso modelo. É importante comunicar isso com transparência, com a ênfase nos que estamos fazendo e na lógica por trás. Estamos olhando para o nosso cenário base, para o balanço de riscos e interpretando os dados.”
Ruídos internos
O presidente do Banco Central avaliou que as incertezas internacionais estão maiores, mas reconheceu que os ruídos internos têm tido grande peso na majoração das expectativas do mercado para a inflação de 2022. “Há um aumento do ruído da parte institucional de como o Brasil funciona, a briga entre os Poderes. Ultimamente há outra dimensão desse ruído, relacionada a novos projetos enviados pelo governo ao Congresso, como o novo Bolsa Família, que mercado tem associado com as eleições do próximo ano”, afirmou.
Para Campos Neto, quando o governo explicar o novo programa social – Auxílio Brasil – funcionará e como ele será pago, essa incerteza no mercado deve se reduzir. “Tão logo o governo deixe claro que o novo programa social não irá quebrar a lei de responsabilidade fiscal, tudo ficará claro. Entendo o ruído que está ocorrendo, e entendo que o governo precisa passar uma mensagem muito responsável de como o caminho fiscal continuará a partir daqui”, acrescentou.
O presidente do BC destacou que é importante entender como o fiscal impacta a inflação no momento atual e ao longo do tempo. “Há alguns meses estávamos falando em uma relação dívida/PIB de 94%, 95% a 100%. Agora estamos falando que a dívida/PIB ficará mais próxima de 80%, em um patamar muito melhor. E de um déficit fiscal de 1,7% do PIB neste ano, teremos algo entre zero e 0,5% em 2022, também muito melhor. E ainda assim, o ruído fiscal está predominando”, completou.
Mercado de crédito
Campos Neto afirmou também que, apesar de algum avanço dos juros ao longo da curva, a maioria dos produtos ainda têm taxas perto das mínimas e o crédito ainda está crescendo em diversos segmentos. Destacou que, depois de um crescimento forte com as medidas feitas pela autarquia desde o início da pandemia, as taxas de crescimento do crédito têm se normalizado, como o esperado.
O presidente do BC ainda repetiu que as micro e pequenas empresas tiveram mais acesso ao crédito durante a crise provocada pela covid-19. Campos Neto ainda citou o grande movimento de IPOs no mercado recentemente.
Ele participou nesta quinta-feira de webinar promovido pelo Council of the Americas.
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