A Aeronáutica vai anunciar nesta quarta-feira, 28, as primeiras parcerias com empresas privadas que passarão a explorar a base de lançamento de Alcântara, no Maranhão. Trata-se dos primeiros acordos com a iniciativa privada para uso compartilhado da base, que é considerada um dos pontos mais estratégicos do mundo para lançamentos espaciais.
Em entrevista ao Estadão, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Moura, disse que serão conhecidos os primeiros acordos de uma relação de nove empresas que demonstraram interesse em utilizar a base para suas operações. A lista inclui companhias estrangeiras e nacionais.
A expectativa é de que as primeiras operações ocorram entre o fim deste ano e início de 2022. Uma das prioridades deve ser o lançamento de nanossatélites, equipamentos pequenos, do tamanho de uma caixa de sapatos, mas que têm alta tecnologia embarcada e podem apoiar diversos tipos de monitoramento, atraindo a exploração comercial da atividade espacial. Trata-se de uma opção a lançamentos caros capitaneados por agências governamentais no passado. Por trás dos lançamentos, há uma indústria crescente de aplicativos que passam a utilizar imagens para todo tipo de atuação.
Até hoje, a base de Alcântara havia feito alguns testes para operações. Já faz um ano e meio que há lançamentos no local. “Alcântara ainda não fez essa estreia. Agora, nós imaginamos que, com essas empresas previamente qualificadas e com veículos inscritos, nós podemos finalmente dizer que Alcântara já lançou um satélite e esperamos que, em breve, isso ocorra com um veículo lançador brasileiro. É o início da fase de lançamentos orbitais. Vamos conseguir colocar satélites em órbita.”
A entrada de empresas ajuda ainda a suplantar as restrições orçamentárias que as operações espaciais enfrentam. Na semana passada, a própria Agência Espacial teve corte de R$ 1,2 milhão de seu orçamento, atingindo justamente a implantação do centro espacial de Alcântara.
Em fevereiro, foi feito o lançamento do satélite brasileiro Amazônia 1, resultado do trabalho de parceria da AEB com universidades. O satélite opera normalmente em órbita e está situado numa altitude média de 752 km acima da superfície terrestre. Seu lançamento, porém, ocorreu a partir da Índia.
“Por que a partir da Índia? Porque hoje ainda não tem, no Brasil, nenhuma empresa com veículo lançador (foguete) para fazer esse tipo de lançamento no País. Mas agora saberemos que empresas poderão fazer isso”, diz Carlos Moura.
O Amazônia 1 é um projeto nacional, que envolveu a participação de vários órgãos governamentais, de profissionais da área, da academia e da indústria. Foram nove empresas envolvidas no processo de produção do satélite, cinco delas estão ligadas ao Parque Tecnológico São José dos Campos (PqTec).
O lançamento, em si, tem custo maior que o do próprio satélite, chegando a cerca de US$ 30 milhões. “Isso mostra como Alcântara terá uma missão crucial nessas operações. Imagine quanto essa operação custaria sendo feita no Brasil, com acordos nacionais”, comenta o presidente da AEB.
O mercado de veículos lançadores deverá movimentar algo em torno de US$ 20 bilhões até 2030. As estimativas apontam que, até 2040, a economia espacial atinja o valor de US$ 1 trilhão.
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