CLÁUDIA COLLUCCI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um consultório do pronto atendimento do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, Eric Santos diz que se assustou quando o filho caçula, de 4 anos, foi diagnosticado com Covid no sábado (29), três dias após o início das aulas na escolinha infantil.
“Entrei em desespero. Comecei a ter falta de ar, fui para o médico, mas era só ansiedade”, conta, enquanto acompanhava a consulta da filha Giovanna, 11, na terça (1º) também com os sintomas da doença.
No mês de janeiro deste ano, o hospital, único privado da capital paulista totalmente dedicado à pediatria, viu quase sextuplicarem os atendimentos no pronto-socorro (PS) por sintomas sugestivos de Covid em relação a janeiro de 2021: 534 casos contra 77 (crescimento de 593%). Já as internações triplicaram: de 17 para 75 (341%).
Nos atendimentos no PS, 85% são por sintomas de Covid, uma marca histórica da instituição. Entre os diagnosticados, 55% têm menos de cinco anos. Já entre os internados, são 66%.
Com a volta às aulas e a circulação ainda alta da ômicron e de outros vírus respiratórios, a expectativa é que fevereiro continue sem trégua nos atendimentos de sintomas respiratórios.
“É sempre um ponto de atenção para a gente. As crianças devem continuar usando máscaras, manter as medidas de higiene e serem vacinadas [quando a vacina estiver disponível para a sua faixa etária]”, diz o pediatra Thales Araújo de Oliveira, gerente do PS do Sabará. A campanha de vacinação está voltada atualmente para as crianças de 5 a 11 anos.
Segundo ele, embora muitos pais estejam receosos com a volta das aulas presenciais, está claro para os pediatras o impacto na saúde mental das crianças do afastamento da escola e do convívio com os coleguinhas.
“Não era a nossa rotina receber crianças com crise de ansiedade, com síndrome do pânico. Elas estão muito assustadas porque tomaram contato com o sentimento de finitude. Recebemos uma criança que, após o diagnóstico de Covid, se desesperou com o medo de morrer.”
Com o uso da telemedicina, o Sabará tem monitorado as crianças com diagnóstico de Covid à distância, e o atendimento presencial está mais rápido. “A criança coleta um exame de urina e vai para casa. Quando sai o resultado, o médico liga e conclui a consulta. Em vez de ficar 150 minutos no PS, a criança fica 70”, afirma o pediatra.
O atendimento precisa ser presencial se a criança estiver com vômito e diarreia, que podem levar à desidratação, não estiver se alimentando ou se tiver febre que não cede à medicação.
Segundo a médica do PS Ligia Ranalli, um fato que tem chamado atenção é que, com a maioria dos adultos já vacinados, as crianças estão mais expostas e se tornaram vetores de transmissão da Covid.
“No ano passado, quem pegava a doença, em geral, eram os pais ou avós, que passavam para as crianças. Agora as crianças não vacinadas estão trazendo para casa a Covid. Começam com os sintomas e depois os pais começam a apresentar.”
O pediatra David Nisenbaum conta que essa disseminação na família chamou atenção de todos. “Às vezes a gente recebe a criança aqui, mas toda a família está infectada.”
Foi o que ocorreu na casa da menina Mariana, de 1 ano e cinco meses. A primeira ter resultado positivo para a Covid foi a mãe, Lilian Nascimento, 31. Teve sintomas leves de gripe e perda de paladar e olfato. Em seguida, foi o marido.
“Foi quando a Mariana começou a ter febre. Testamos e também deu positivo”, diz a mãe, que está no final da gestação de Manuela. No sábado (29), Mariana foi internada porque a febre não cedia, o nível de saturação de oxigênio estava baixo e havia alteração no pulmão.
“A gente fica muito preocupada e não vendo a hora de a vacinação chegar na faixa etária dela. Eu e o meu marido já temos as duas doses e vamos tomar a terceira. Ela tem síndrome de Down, a imunidade é mais baixa.”
Segundo o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, gerente de qualidade do Sabará, é possível observar uma mudança no perfil das crianças internadas por Covid. No início de janeiro, eram mais bebês, sem doenças prévias, e que ficavam internados de um ou dois dias.
Já a partir da segunda quinzena, mudou o cenário. Aumentou o número de crianças que, devido a doenças crônicas, têm a forma mais grave da Covid e ficam mais tempo internadas, algumas na UTI.
“Na semana passada, estávamos com 24 crianças, com metade nos leitos de internação [nos quartos e enfermarias] e a outra metade na UTI”, diz Oliveira Júnior.
Segundo intensivista pediátrica Maria Carolina Modolo, a internação na terapia intensiva sempre causa muita ansiedade nos pais. “A gente tenta acalmá-los explicando que a permanência no local é importante para monitorar o quadro geral e a oxigenação.”
Crianças com quadros mais graves, que precisam de UTI, costumam ficar de uma a duas semanas hospitalizadas até o desmame da ventilação mecânica. Os mais leves, de um a dois dias.
Na última terça (1º), 16 crianças com Covid estavam internadas no hospital, das quais seis ocupavam leitos de UTI.
A menina Polliana, 5, que tem uma síndrome neurológica, era uma delas. A mãe, Carita Santos Souza, 44, conta que o primeiro a ser infectado pela Covid, há três semanas, foi o marido, que precisou ser internado devido a uma pneumonia.
Polliana, a única dos quatro irmãos a se infectar, teve febre alta, muita secreção no peito, desconforto respiratório e baixa saturação de oxigênio, e precisou ficar na UTI. A mãe ainda não sabe se foi infectada. “Nem tive tempo de testar.” Na última terça, a menina teve alta.
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