SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma semana depois do início das buscas pelo helicóptero desaparecido desde o dia 31 de dezembro, em São Paulo, a família de Luciana Marley Rodzewics Santos, 46, e da filha dela, Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, 20, está à base de calmantes e sem dormir à espera de que, de repente, chegue alguma notícia.
“Estamos com muita fé de que os quatro estão com vida somente esperando o socorro chegar”, afirmou a gerente de vendas Sílvia Santos, 43, irmã de Luciana e tia de Letícia.
“São os piores dias de nossas vidas”, disse à reportagem na noite deste domingo (7), quando as buscas completaram sete dias.
Além das duas, estavam na aeronave o empresário Raphael Torres, 41, e o piloto do helicóptero, Cassiano Tete Teodoro.
A aeronave desaparecida, um helicóptero Robinson R44, decolou no início da tarde do último dia 31 de dezembro do Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, com destino a Ilhabela, no litoral norte paulista, mas não chegou ao destino.
A tentativa aérea de localização do helicóptero já consumiu mais de cem horas de voo de equipes da FAB (Força Aérea Brasileira) e da Polícia Militar.
A soma não leva em conta as horas de voo da Polícia Civil, que tem usado helicóptero e drone, e do Exército, que destacou uma aeronave para ajudar nas buscas na sexta-feira passada (5).
De acordo com a Defesa Civil de São Paulo, as buscas estão concentradas em um raio entre São Luiz do Paraitinga, Lagoinha e Caraguatatuba, já no litoral norte.
Sem dar detalhes sobre os trabalhos deste domingo, a FAB afirmou que mais uma vez decolou de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, com um avião SC-105 Amazonas e um helicóptero H-60 Black Hawk, que foi incorporado na procura pela aeronave no sábado (6).
Ao todo, 24 tripulantes estão a bordo das duas aeronaves da FAB, que até este domingo já percorreram cerca de 56 horas de voo.
A PM, que no sábado havia usado dois helicópteros, neste domingo decolou com um, o Águia 33.
O tempo de voo da Polícia Militar somava quase 45 horas até sábado -o resultado das buscas neste domingo não foi informado até a publicação desta reportagem.
Defesa Civil, PM e Corpo de Bombeiros também estão colhendo depoimentos de moradores, por terra, para tentar mapear o caminho do helicóptero, porque, pelo ar, a visualização está difícil.
Entre as dificuldades narradas estão nebulosidade, principalmente pela manhã, chuva à tarde, terreno acidentado e com morros, mata fechada, copas de árvores altas e até a cor do helicóptero desaparecido, cinza, que se confunde com o verde da vegetação.
“Estamos enviando a previsão do tempo a todo momento para as equipes de busca. Nesta segunda-feira [8] deve chover a partir das 14h, o que pode encurtar os trabalhos, sem falar na neblina da manhã”, afirmou o capitão Roberto Farina, diretor da Defesa Civil paulista.
Na sexta, a família das duas mulheres abordo afirmou que pretendia contratar mateiros para ajudar nas buscas.
A Polícia Civil afirmou que conseguiu monitorar o celular de Luciana, que parou de emitir sinais às 22h14 da última segunda-feira (1º). Os aparelhos dos outros três tripulantes não foram identificados.
A FAB está com a coordenada do celular para tentar traçar o local onde poderia estar o helicóptero.
A família sabia que o aparelho de Luciana estava ligado e, até quando funcionou, a irmã conta ter feito inúmeras ligações, sem que ninguém atendesse. “[O celular] tocava e as mensagens de WhatsApp também estavam chegando”, afirmou Silvia à reportagem.
POUSO DE EMERGÊNCIA
As dificuldades enfrentadas pelo piloto com o mau tempo e a nebulosidade foram narradas por Letícia. Durante a viagem, ela relatou ao namorado um pouso de emergência em uma área de mata. “Pousamos” e “No meio do mato” foram as mensagens enviadas por Letícia. O namorado então teria perguntado o local do pouso, e Letícia respondeu não saber.
A jovem também enviou um vídeo que mostrava uma forte neblina ao redor da aeronave. “Tá perigoso. Muita neblina. Eu estou voltando.” Esse contato teria sido feito após o pouso de emergência.
No sábado, a Polícia Civil localizou o local do pouso, próximo à represa de Paraibuna.
Segundo apurações das equipes de buscas, com base em comunicação do piloto e o heliponto em Ilhabela, onde ele não chegou, o helicóptero teria decolado novamente por volta das 15h10. E o último contato foi cerca de 30 minutos depois.
“É muito tempo de voo em um helicóptero”, disse o diretor de comunicação da Defesa Civil, para mensurar o perímetro de buscas -segundo a FAB, a área total de buscas é de 5.000 km². “É um trabalho minucioso e complexo, com esperanças de encontrar vidas”, afirmou o capitão Farina.
LICENÇA SUSPENSA
O piloto Cassiano Tete Teodoro, que comandava o helicóptero, teve sua licença e todas as habilitações cassadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em setembro de 2021, por transporte aéreo clandestino, fraudes em planos de voo e após ter escapado de uma fiscalização.
Ele obteve uma nova licença em outubro do ano passado, depois de ter ficado afastado pelo prazo de dois anos.
Além disso, a empresa que operava o helicóptero não tinha autorização para transporte de passageiros e, em 2022, o MPF (Ministério Público Federal) recomendou que várias companhias de aviação se abstivessem de alugar aeronaves às companhias de Teodoro, após identificar que ele atuava de forma clandestina.
A defesa de Teodoro afirma que houve uma punição indevida contra o piloto e que fiscais da Anac cometeram irregularidade durante uma fiscalização.