Após críticas em todo o mundo, família Bolsonaro ‘esconde’ Cloroquina

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Postagens com menções às palavras cloroquina e hidroxicloroquina tornaram-se raras nas redes sociais do presidente Bolsonaro (PL) e dos seus filhos Flávio, Eduardo e Carlos. Citadas 323 vezes só no primeiro semestre de 2020, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a pandemia de Covid-19, as drogas foram mencionadas uma única vez desde o segundo semestre do ano passado. E esse comentário nem era em defesa do medicamento.

Os dois remédios são recomendados principalmente no tratamento de malária. A ideia de que seriam eficientes contra o Sars-CoV-2 partiu do médico infectologista francês Didier Raoult. No entanto, diversos estudos mostraram que os fármacos não apresentam eficácia contra o Sars-CoV-2. Além disso, ainda representam riscos para o surgimento de doenças cardiovasculares.

Mesmo sem contar com evidências, a família Bolsonaro defendeu as drogas por meses. A situação fez com que o presidente tivesse atritos com ministros da Saúde. Nelson Teich, por exemplo, pediu demissão após não concordar com a vontade do presidente de recomendar a cloroquina para pacientes com casos leves e moderados de Covid.

Há mais de um ano, porém, a posição favorável aos remédios passou a ser menos divulgada pelos Bolsonaros, segundo levantamento da plataforma Metamemo, que armazena informações públicas postadas em redes sociais.

O estudo revisou as postagens no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube do presidente e de seus três filhos. Grande parte das publicações se concentrou em 2020, sendo a queda mais evidente a partir do segundo semestre do ano passado. Desde então, não houve menção à hidroxicloroquina. No caso da cloroquina, só apareceu em uma postagem de lá para cá.

Essa única publicação foi feita pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro em 24 de setembro de 2022, dia de um debate presidencial. O comentário nem foi de defesa ao remédio como acontecia anteriormente. “Debate está tipo séria A contra série B. ‘O que é o que é’, florentina x cloroquina, não cutuque a onça… meu Deus!”, escreveu.

A diminuição das postagens com referências positivas aos fármacos destoa da forma como a família abordava as redes sociais antes. Entre 2020 e o primeiro trimestre de 2021, foram 472 postagens mencionando alguma das duas drogas.

O primeiro post do clã Bolsonaro sobre os remédios ocorreu em 25 março de 2020, quando a OMS já havia declarado pandemia. Até junho daquele ano, foram 323 publicações sobre os medicamentos.

Nesse período, os membros da família já defendiam o uso dos remédios no Brasil para tratamento da infecção, mesmo que ainda não existissem evidências científicas acerca da eficácia delas no tratamento de pacientes com Covid.

Em meio à pandemia, a cloroquina teve isenções de impostos a fim de facilitar sua circulação. O presidente ainda mobilizou o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército para produzir cápsulas do fármaco. A Aeronáutica, por sua vez, colaborou com o transporte de cargas do remédio para regiões do país.

O posicionamento a favor dos dois medicamentos se manteve no segundo semestre de 2020, mas o volume de posts foi menor, alcançando 117 no total. Um deles partiu do senador Flávio Bolsonaro, diagnosticado com Covid.

“Estou curado da Covid-19, gracas a deus! Tratei desde os primeiros sintomas com hidroxicloroquina e azitromicina [outro remédio do kit Covid, mas que não conta com comprovação científica], com acompanhamento medico!”, escreveu o senador.
A partir do primeiro semestre de 2021, os posts com menções aos medicamentos declinaram ainda mais -foram somente 32. Parte deles fazia referência à CPI da Covid, investigação dos congressistas a respeito da atuação do governo federal.

Fora das redes sociais, Bolsonaro chamou a CPI de “xaropada” e caracterizou como “canalhas” aqueles contrários a prescrição de hidroxicloroquina para em casos de Covid.

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