SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pouco mais de quatro meses do assassinato do corretor Antônio Vinícius Gritzbach, alvo de tiros em novembro de 2024 no aeroporto de Guarulhos, a Polícia Civil de São Paulo apresentou nesta sexta-feira (14) o inquérito com a investigação do caso. O documento tem mais de 20 mil páginas.
De acordo com força-tarefa que investiga o crime, que concedeu entrevista coletiva, Vinícius Gritzbach foi assassinado por vingança em razão da morte de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e do motorista dele, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, em 2021. Ambos eram membros da facção criminosa PCC.
Com a conclusão do inquérito, a polícia pediu a prisão preventiva (sem prazo) de seis pessoas pelo homicídio.
O cabo Denis Antonio Martins e o soldado Ruan Silva Rodrigues, ambos da Polícia Militar, são suspeitos de atirar no empresário. Já o tenente Fernando Genauro da Silva -que trabalhava na 1ª Companhia do 23º Batalhão da PM, na capital paulista- é suspeito de dirigir o carro em que estavam os executores do crime.
Além dos policiais, que estão detidos, foi pedida a prisão de Carlos Gongorra Castilho, o Cigarreira, apontado como um dos mandantes do homicídio por ser grande amigo de Cara Preta; de Diego do Amaral Coelho, o Didi, que seria o segundo mandante e teria desavenças com Gritzbach; e de Kauê Amaral Coelho, sobrinho de Diego e suposto olheiro do grupo.
Dos seis indiciados, apenas os três PMs estão presos temporariamente. Kauê, por exemplo, teria fugido para o Rio de Janeiro, conforme a investigação.
No último dia 11, a polícia indiciou as seis pessoas pela morte de Gritzbach. As defesas dos PMs negam que eles tenham participado do crime.
Anteriormente, a polícia disse que os policiais militares foram contratados por serem pessoas com expertise e terem acesso a armamentos adequados para executar o crime.
Eles também tinham conhecimento em investigação e fizeram de tudo para tentar apagar seus rastros, segue a polícia.
Gritizbach foi assassinado em 8 de novembro em uma área de desembarque do aeroporto internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Era um homem jurado de morte pelo crime. Ele chegou a ser preso por suspeita de envolvimento na morte de Cara Preta, e do motorista dele, o Sem Sangue em 2021, mas negava os crimes.
O corretor de imóveis teria desaparecido com US$ 100 milhões (R$ 547 milhões) repassados por Cara Preta para que Gritzbach investisse o valor em criptomoedas. O dinheiro, no entanto, sumiu, e Cara Preta foi morto.
Tanto Castilho quanto Diego Amaral Coelho teriam participado do tribunal do crime de Gritzbach, em que o delator do PCC teve de dar explicações sobre o suposto sumiço de milhões de reais. O delator do PCC teria escapado da morte ao convencer o grupo de sua inocência.
A absolvição de Gritzbach no tribunal do crime teria irritado a cúpula do PCC e provocado a morte de dois integrantes da facção criminosa responsáveis pela decisão, Rafael Maeda e Claudio Marcos de Almeida.
Segundo a investigação, Castilho e Coelho teriam sido os responsáveis pela contratação dos policiais militares acusados de serem os autores do assassinato do delator.
Em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo, em outubro do ano passado, Gritzbach teria acusado Castilho de ser o articulador do plano de apontá-lo como o mandante da morte de Cara Preta, assassinado no fim de dezembro de 2021 quando estava em um carro no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo.
“O Cigarreira é o principal articulador por vingança da morte do amigo Anselmo, que o auxiliou a crescer no mundo do crime. E também por por ter perdido dinheiro e imóveis para Vinícius, que também poderia citar seu nome em possível delação que podia fazer”, disse o delegado Rogério Barbosa em entrevista após a operação de fevereiro.
Castilho, segundo a polícia, negociava com traficantes cúpula do Comando Vermelho, que teriam dado apoio na fuga e esconderijo no complexo da Penha a Kauê -que, como olheiro no aeroporto, teria indicando o alvo aos atiradores.
Nesta sexta, os delegados também disseram que a polícia descobriu que as joias que Gritzbach carregava quando foi morto, avaliadas em R$ 1 milhão, pertenciam a Pablo Henrique Borges. O delator tinha buscado os itens em Maceió.
Gritzbach travava uma guerra judicial de R$ 4,4 milhões contra Borges, empresário de bitcoins.
Borges chegou a ser preso em fevereiro de 2022, sob suspeita de participação na morte de Cara Preta, o que foi descartado nas investigações.