SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O acidente com um avião da Voepass, em agosto do ano pretérito, quando 62 pessoas morreram em Vinhedo (SP), tornou o ano de 2024 o mais mortal da aviação brasileira em uma dezena, período comparado pela Força Aérea Brasileira em seu site.

 

Segundo dados estatísticos disponibilizados pelo quadro Sipaer (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), do Cenipa (Núcleo de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), no ano pretérito 153 pessoas morreram em acidentes com aviões, helicópteros e outras aeronaves no país.

O número é superior às 104 mortes de 2016, até portanto, o ano mais mortal na série histórica comparada.

Foram 175 acidentes aéreos durante todo o ano pretérito pretérito -sendo que 44 com mortes-, o maior na dezena, com três óbitos a mais que os registrados em 2015.

O recorde de obituário foi atingido nos últimos dias do ano pretérito. Em 22 de dezembro, a queda de um turbohélice em uma dimensão urbana de Gramado, na Serra Gaúcha, matou dez pessoas.

Segundo a Infraero, a avião levantou voo em meio à chuva no aeroporto de Canela (RS), e caiu minutos depois. O avião seguiria para Jundiaí, no interno de São Paulo.

Mas foi no acidente de 9 de agosto, em Vinhedo, que inflou as estatísticas. Na tragédia, um um avião mercantil caiu em parafuso na dimensão residencial.

O sinistro foi o mais mortal do país desde 2007, quando o acidente com o voo 3504 da TAM nos periferia do aeroporto de Congonhas, na zona sul paulistana, deixou 199 mortos, e um dos dez piores já registrados no Brasil.

A avião de protótipo ATR 72-500 era operado pela empresa Voepass. O voo seguia de Cascavel (PR) para Guarulhos (Grande São Paulo), desceu em queda livre, girando, até atingir a dimensão o condomínio Recanto Florido, no bairro Capela.

O copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva disse que havia “bastante gelo” um minuto antes da queda, segundo relatório prévio do Cenipa. O relato dele coincidiu com alertas de provável frigoríficação de partes da avião, a provável justificação do sinistro.

Com 457 relatos na dezena, nequice ou mau funcionamento de aeronaves estão entre as principais causas de acidentes. Em 299 vezes houve perda de controle em voo.

O estado de São Paulo lidera as estatísticas, com 287 acidentes -o levantamento não distingue casos com ou sem mortes.

Na conta de obituário entram 20 acidentes de helicópteros (sete deles fatais), que provocaram 15 mortes em 2024. Em um deles, quatro bombeiros, um médico e um enfermeiro morreram em 11 de outubro quando tentavam resgatar o corpo de um piloto vítima de queda de avião horas antes na região de Ouro Preto (MG).

Especialistas ouvidos pela reportagem defendem a segurança na aviação brasileiras e dizem que a subida nos acidentes aéreos está diretamente relacionada ao prolongamento das operações aéreas no país.

Levantamento da Anac (Dependência Pátrio de Aviação Social) mostra que 8 milhões de pessoas foram transportadas em voos comerciais no país em novembro de 2024 (oferecido mais recente). O número é 8% maior às 7,4 milhões de pessoas embarcadas em aviões no mesmo mês de 2015, mas ainda ligeiramente subalterno aos 8,1 milhões de viajantes em novembro de 2019, antes da pandemia.

As operações no aeroporto internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, por exemplo, foram superiores no ano pretérito ao período pré-Covid. De contrato com a concessionária GRU Airport, durante todo 2024, foram 43,6 milhões de viajantes, o maior número registrado no sítio na história. O recorde anterior era de 2019, quando foram 43 milhões de embarques e desembarques.

“Os aviões estão voando mais, tanto que há aeroportos, uma vez que o de Congonhas, quase saturados”, diz Roberto Peterka, piloto emérito da Força Aérea Brasileira e perito em investigações sobre acidentes aéreos.

Em universal, diz ele, a segurança da aviação brasileira é comparada a dos principais países. Mas alerta para mais trabalho de prevenção em segurança junto a empresas, pilotos e escolas de pilotagem.

Para Henrique Hacklaender, piloto de avião mercantil e presidente do SNA (Sindicato Pátrio dos Aeronautas), uma vez que há mais aeronaves no firmamento, é provável que a aviação brasileira esteja até mais segura que em anos anteriores, mesmo com a estatística recorde de acidentes.

Ele, porém, reclama de fadiga em tripulações por justificação de “escalas extremamente otimizadas” pelas empresas aéreas.

“A aviação ainda é um envolvente seguro, mas é evidente que se voa cada vez mais perto dos limites”, diz.

A Anac começou a discutir no ano pretérito propostas de alterações em requisitos relativos ao gerenciamento do risco de fadiga de tripulantes nas operações da aviação mercantil -um estudo norueguês estimou que de 70% a 80% dos acidentes aéreos são provocados por erro humano.

Atualmente, o processo está em discussão na dimensão técnica da filial e depois deverá ser repassado para a diretoria para elaboração de um documento.

“É uma bulha grande entre sindicatos e empresas”, afirma Hacklaender. Procurada para falar sobre o documento, a Anac não respondeu até a publicação deste texto.