Alto custo de vida faz paulistanos deixarem SP, e população da cidade encolhe

DANIELE MADUREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Não sabia que era milionário”. Levante foi o pensamento do pedagogo e consultor Álvaro Doria, 46, quando se mudou com a família para Indaiatuba, sobre 100 km de São Paulo, em 2021. Segundo ele, viver em Indaiatuba é pelo menos 30% mais barato do que na capital paulista, considerando escola dos dois filhos, moradia, sustento e transporte.

 

A escolha da cidade se deu de maneira aleatória. “Digitamos no Google: ‘Cidades boas para se morar perto de São Paulo’ e Indaiatuba apareceu na lista”, diz Doria que, junto com a esposa, a psicóloga Ingrid Ferreira, 48, planejavam mais qualidade de vida para eles mesmos e os filhos, hoje com 13 e 10 anos, quando pensavam em deixar São Paulo. A mudança veio em 2021, acelerada pela pandemia.

Mas não foi só isso que pesou. A empresa onde Ingrid era diretora foi vendida e ela foi desligada. A teoria de viver melhor e com menos dispêndio ganhou força.
“Eu não preciso trespassar com 1h30 de antecedência para ir ao médico, as crianças podem ir a pé para a escola, meus filhos têm opção de lazer gratuito na cidade, com escolinhas de futebol, por exemplo, e os serviços públicos de saúde são bons”, diz Ingrid, que nasceu e teve os filhos em São Paulo.

Ela se reposicionou uma vez que consultora de recursos humanos e costuma ir à capital com frequência. Já Doria enveredou para o ramo de construção social, embora ainda dê treinamentos em empresas em outras cidades.

Porquê os dois hoje trabalham por conta, a renda da família é um pouco menor do que quando moravam em São Paulo. Mas eles conseguiram manter no interno o padrão de vida que tinham na capital.

Assim uma vez que a família de Doria e Ingrid, outras famílias têm deixado São Paulo nos últimos anos. Depois de atingir o pico de 11,5 milhões de habitantes em 2019, a população da capital paulista vem encolhendo, segundo dados da Instalação Seade (Sistema Estadual de Estudo de Dados). O declínio ainda é muito sutil: queda de 0,7% no totalidade de moradores na capital paulista entre 2019 e 2023. Mas trata-se do primeiro recuo consistente pelo menos desde 1920, ou seja, no último século, segundo a instauração.

Entre os motivos, estão razões sociodemográficas (queda na taxa de natalidade e maior número de óbitos) e o aumento do dispêndio de vida na capital. De convenção com ranking da consultoria americana Mercer, São Paulo avançou 28 posições em uma lista de 226 cidades mais caras do mundo para se viver em 2024, passando ao 124º lugar.

É a mais rostro do país, estando adiante de Rio de Janeiro (150ª posição), Brasília (179ª), Manaus (182ª) e Belo Horizonte (185ª) no ranking global. “O progresso de São Paulo pode ser explicado pela subida da inflação e o aumento do dólar”, diz Inaê Machado, líder da dimensão de mobilidade da Mercer na América Latina.

Em inflação, a consultoria aponta maior variação em preços de serviços domésticos e de transportes, além de produtos de utilidades domésticas e cuidados pessoais.

Na opinião do economista e profissional em políticas públicas Fábio Andrade, a subtracção do número de paulistanos se deve a uma somatória que envolve mudança na pirâmide etária -com o envelhecimento da população progredindo, enquanto a taxa de natalidade recua-, procura de maior qualidade de vida e fuga dos custos elevados da capital paulista.

“Muitas famílias tentam viver no entorno da capital, na filete que vai até Campinas [a 88 quilômetros de São Paulo], favorecidas muitas vezes pela possibilidade de trabalhar em home office. Com isso, conseguem manter a renda de São Paulo e ter custos menores de habitação e mensalidades escolares, por exemplo”, diz Andrade, que é professor na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

O problema é que leste movimento acaba levando a inflação também para o entorno da capital, afirma o profissional. “O dispêndio de moradia é muito mais em conta no interno, mas em algumas cidades já existe um movimento de especulação imobiliária.”

O par de professores de ioga João Soares, 60, e Rosa Muniz, percebeu isso. “Quando chegamos a Atibaia em 2020, fugindo da pandemia, queríamos um lugar mais próximo ao meio, que seria a nossa moradia e estúdio de ioga”, diz Rosa, que levou a mãe, Laurita, 85, para o interno.

“Mas os preços estavam altos e viemos para um bairro mais remoto, o Jardim dos Pinheiros. Com a quantidade de paulistanos vindo para cá desde portanto, o preço dos aluguéis subiu e hoje o bairro é considerado de basta padrão.”
Por um sobrado com piscina, em um terreno de aproximadamente 500 m², eles pagam R$ 4.500 de aluguel -o equivalente, em São Paulo, por exemplo, a um apartamento de 80 m² em bairros uma vez que Saúde ou Perdizes, nas zonas sul e oeste da capital, respectivamente.

João e Rosa, que desenvolveram a metodologia “Yoga com Histórias”, voltada ao público infanto-juvenil, pagavam tapume de R$ 7.000 pelo aluguel de dois estúdios na capital. Eles continuam viajando para São Paulo e outras cidades a termo de participarem de eventos e darem aulas, oferecem cursos online, mas a maior secção dos alunos está em Atibaia.

“Alguns acham a mensalidade rostro, tivemos que nos reorganizar. A renda não é a mesma de quando vivíamos em São Paulo, mas os gastos também não são”, diz Soares.

O rebento mais velho, Yam, 16, cursa uma escola-modelo pública, e pode ir de bicicleta para as aulas. O mais novo, Théo, 14, está em uma escola privado de tempo integral, por um valor um pouco menor que o da capital. Os irmãos começam a trespassar sozinhos à noite. O par não precisa mais de dois carros, tem um só. O suficiente para curtir uma catarata que fica a 15 minutos de intervalo da residência. “Não andamos mais com terror uma vez que em São Paulo. Hoje temos unicamente desvelo”, diz Rosa.

Segundo a Instalação Seade, São Paulo se tornou a maior cidade do Brasil em 1960, quando superou o Rio de Janeiro. Hoje, é mais populosa que países uma vez que Portugal e Grécia, e comparável aos estados do Paraná e Rio Grande do Sul. Entre 1920 e 2020, sua população aumentou vinte vezes: crescia 4% ao ano na dezena de 1920, e atingiu o sumo nos anos 1950 (5,6% ao ano), puxada pela imigração.

Bernadette Waldvogel, gerente de indicadores e estudos populacionais na Instalação Seade, diz que o saldo migratório (quantidade de gente que chega menos a de gente que sai) no município de São Paulo já é negativo desde o início deste século.

O desenvolvimento populacional ainda ocorria devido ao saldo vegetativo positivo, ou seja, havia mais nascimentos do que óbitos na cidade, o que superava o saldo migratório negativo. No entanto, desde a metade dos anos 2010, o número de nascimentos começou a diminuir e o totalidade de óbitos a aumentar, uma tendência que avançou na pandemia.

Entre 2000 e 2023, a taxa de natalidade na capital paulista caiu 44%: de 19,9 nascidos vivos por 1.000 habitantes para 11,2. No mesmo pausa, a taxa de mortalidade universal (número de óbitos por 1.000 habitantes) cresceu 17%, de 6,4 para 7,5, diz Bernadette. “Mas em 2023, o saldo vegetativo positivo não foi suficiente para indemnizar o saldo migratório negativo, o que resultou em perda populacional.”