SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As políticas de estímulo à economia para fazer frente à crise provada pela pandemia de Covid-19 e a expectativa de recuperação têm aumentado as estimativas de inflação para este e para o próximo ano.
Além de interferir nos gastos do dia a dia do consumidor, especialmente com combustível, energia e alimentos, o aumento da inflação também pode afetar a rentabilidade dos investimentos e exigir uma remanejamento de carteira para quem quiser se proteger da alta do índice.
Na prática, um aumento da inflação diminui a rentabilidade real (o que o investimento retornou de ganho menos a inflação) de todos os ativos. Isso significa que esses ativos precisam performar melhor para que consigam entregar a mesma rentabilidade dos tempos de inflação mais baixa.
Um investimento feito há um ano e que tenha rendido 7,5% no acumulado dos 12 meses até junho, por exemplo, ainda tem perda real, considerando o desconto da inflação de 8,13% medida pelo IPCA-15 (espécie de prévia do índice oficial) para o período.
Apesar de as estimativas para a inflação previstas no relatório Focus, do Banco Central, indicarem uma tendência de recuo desse patamar, as previsões vêm subindo.
A expectativa de inflação para este ano passou de 5,24% há quatro semanas para 5,90%, percentual acima do teto da meta do Banco Central, de 5,25%. Para 2022, quando o teto será de 5%, a estimativa foi de 3,67% para 3,78%.
O investidor pode escolher ativos atrelados à inflação ou que se beneficiam dela, ainda que indiretamente, para se proteger dessa alta. Entre as opções estão títulos do Tesouro Direto como as NTN-Bs -cuja rentabilidade é composta por uma taxa anual pactuada no momento da compra mais a variação do IPCA- e títulos de dívidas como debêntures incentivadas.
Para quem prefere mais risco, há ações de empresas que conseguem repassar a inflação a seus clientes, como aquelas associadas a commodities, de saneamento e de energia elétrica.
Para o sócio de desenvolvimento de negócios da Consulenza, Luis Gustavo Jorge Politi, ainda que o cenário de inflação persista um pouco mais e os títulos atrelados ao índice possam, de fato, demonstrar valorização, há ainda uma volatilidade embutida entre seis meses e um ano.
“Assim, a melhor resposta para o investidor é ter um portfólio diversificado que se adeque ao seu nível de risco. A ideia é ter algo que o proteja da inflação alta e outros ativos que se beneficiem com uma queda dos preços”, afirma.
O vice-presidente de vida e previdência da SulAmerica Investimentos, Marcelo Mello, cita três dicas que o investidor deve avaliar três pontos para decidir sobre aplicações em ativos atrelados à inflação ou remanejamento de sua carteira.
A primeira, especialmente para que está começando agora e tem um perfil mais conservador, é aproveitar o momento de altas de juros para adquirir ativos convencionais e menos arriscados.
A segunda dica é a busca por informação. “Hoje existe muita coisa disponível em jornais, revistas, redes sociais e até no site do Tesouro. Procure ajuda antes de tomar uma decisão”, diz Mello.
A terceira é cuidado em relação ao apetite por risco e perfil de investidor. “Se você ouviu um amigo dizendo que ganhou 30% em determinada alocação, por exemplo, questione. Não se impressione com esse retorno. Questione quanto ele poderia ter perdido e avalie se, caso você estivesse no lugar dele, teria estômago para aguentar essa perda”, afirma.
É importante que o investidor também cheque seu perfil de risco e reavalie seu portfólio de investimentos em relação a ele.
“São questões muito simples e que podem fazer toda a diferença na tomada de decisão”, completa Mello.
Levantamento feito pela Folha de S.Paulo com base em informações na base de dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) já apontou que o aumento dos preços se tornou um fenômeno global no primeiro semestre de 2021, e atinge praticamente todos os países economicamente relevantes.
De acordo com o economista-chefe da Necton, André Perfeito, a leitura da maioria dos bancos centrais é que essa elevação é transitória e que o impacto, principalmente vindo de commodities agrícolas e de energia, vai se dissipar ao longo do tempo.
Para Perfeito, a dinâmica acaba sendo um pouco mais complexa no caso brasileiro porque o país ainda tem uma economia muito indexada, ou seja, com reajustes atrelados a índices inflacionários.
“A alta das commodities passa pelo IGP-M [Índice Geral de Preços ao Mercado, usado no reajuste dos aluguéis], por exemplo, o que acaba retroalimentando a inflação. Soma-se isso às preocupações sobre as dinâmicas de racionamento de energia, que pode acabar arrastando um pouco de inflação para o ano que vem”, diz.
Entre as pressões inflacionárias para as quais o investidor precisa ter atenção ao longo dos próximos meses, os especialistas reiteram as perspectivas de retomada da atividade econômica em um momento pós-lockdown, o ritmo de vacinação no país, os possíveis impactos da quebra na safra de grãos e a estimativa de uma possível piora fiscal diante do novo auxílio emergencial anunciado pelo governo e do ruído eleitoral para 2022.
Exemplos de investimentos para se proteger da inflação
NTN-B
Título pós-fixado do Tesouro Direto, cuja rentabilidade é composta por uma taxa anual pactuada no momento da compra mais a variação da inflação
Debêntures Incentivadas
Títulos de dívida de empresas, cuja rentabilidade é formada por uma taxa fixa e uma taxa atrelada à variação da inflação
Ações
Papéis de empresas que conseguem repassar o preço da inflação para seus produtos ou serviços também podem ser beneficiadas, como companhias associadas a commodities, de saneamento e de energia elétrica
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