BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – O Escritório Federal de Proteção à Constituição (BfV, na sigla alemã) colocou sob vigilância o maior partido de oposição do país, a Alternativa para a Alemanha (AfD), de direita radical. A decisão foi tomada depois de dois anos de investigação sob a atividade xenófoba do partido, segundo a mídia europeia.
Advogados e especialistas em extremismo analisaram discursos de políticos da AfD e publicações na internet e concluíram que eles são suspeitos de extremismo e podem significar risco à democracia alemã.
Líderes do partido reagiram ao anúncio dizendo que há motivação eleitoral e afirmaram que vão recorrer à Justiça. Criada em 2013, a sigla tem um discurso abertamente contra imigrantes, principalmente muçulmanos, e cresceu após a crise dos refugiados de 2015, quando cerca de 2 milhões de imigrantes entraram na Alemanha.
Nas últimas eleições para o Parlamento alemão, em 2017, a AfD ficou em terceiro lugar, com 12,6% dos votos e 94 (13,3%) dos 709 deputados. Desde então, perdeu popularidade e recebeu críticas por sua retórica xenófoba após um ataque em Hanau no início do ano passado e pela participação em protestos que reuniram seus membros terminaram em violência –num deles, manifestantes tentaram invadir o Parlamento.
Pesquisas recentes dão à AfD de 8% a 11% das intenções de voto para as eleições do segundo semestre.
As autoridades alemãs já tinham dissolvido no ano passado a ala extremista da AfD, chamada Flügel (asa), mas a agência de segurança diz que seus membros ainda mantêm influência preocupante na agremiação. Em setembro, o partido também demitiu seu ex-porta-voz Christian Lüth por declarações em que ele sugere mandar imigrantes para a câmara de gás (a fala foi filmada sem que ele soubesse).
Já estavam sob investigação diretórios em 4 dos 16 estados; agora, o BfV poderá seguir as atividades de toda a sigla. A nova decisão inclui escutas da comunicação entre os militantes do partido, com exceção de parlamentares eleitos e candidatos às eleições deste ano.
A AfD é o primeiro partido com representação no Parlamento alemão (Bundestag) a ficar sob vigilância do BfV, departamento criado após a Segunda Guerra Mundial para impedir a expansão de grupos extremistas. De 2007 a 2014, a agência investigou também A Esquerda, por causa de suas raízes no Partido Comunista da antiga Alemanha oriental.
A agência alemã não falou sobre a atual investigação. “Devido aos processos judiciais em andamento e por respeito ao tribunal, o BfV não dá nenhuma declaração pública sobre o assunto”, afirmou comunicado.
No ano passado, ao apresentar relatório sobre extremismo no país, o presidente da agência, Thomas Haldenwang, afirmou que o extremismo de direita e o terrorismo de extrema-direita eram o maior perigo para a democracia alemã. Especialistas como o professor da Universidade de Würzburg Hans Joachim Lauth também consideram o extremismo de direita a principal ameaça à segurança interna da Alemanha no momento.
Relatórios recentes também mostraram crescimento de denúncias de extremismo em tropas armadas. Foram 477 episódios investigados em 2020, uma alta de 30% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Serviço de Contra-Inteligência Militar. Casos ligados a neonazismo passaram de 16 para 31.
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