SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A disparada do preço do petróleo no mercado internacional provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia reaviva preocupações de investidores sobre o debate político quanto à paridade internacional de preços da Petrobras. As ações da companhia afundaram nesta segunda-feira (7) após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter criticado o sistema que equipara o valor dos combustíveis no Brasil à flutuação da cotação da matéria-prima e do dólar.
Um possível embargo ocidental ao setor energético russo provocou a disparada dos preços do petróleo e do gás natural, assim como a queda das Bolsas ao redor do mundo.
O barril de Brent, referência para o preço mundial da commodity, chegou ao final desta segunda valendo US$ 123,89 (R$ 626,54) nesta tarde de segunda. No domingo (6) à noite, chegou perto dos US$ 140 (R$ 708), próximo do recorde de US$ 147,50 (R$ 746) de julho de 2008.
“Tem uma legislação errada feita lá atrás que você tem uma paridade com o preço internacional [dos combustíveis]. Ou seja, o petróleo -o que é tirado do petróleo- leva-se em conta o preço fora do Brasil. Isso não pode continuar acontecendo”, disse Bolsonaro, durante entrevista a uma rádio de Roraima.
Após as declarações, ainda pela manhã, os papéis da companhia iniciaram um movimento de queda. Ao final do pregão, a ações preferenciais da companhia (que não dão direito a voto, mas têm preferência no recebimento de dividendos) perderam 7,10%. Os papéis ordinários (com direito a voto) desabaram 7,65%.
A queda da petroleira controlada pelo governo exerceu a principal pressão negativa sobre a Bolsa de Valores brasileira. O Ibovespa, índice de referência do mercado de ações do país, caiu 2,52%, a 111.593 pontos.
Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, diz que a Petrobras sofre os efeitos negativos da pressão gerada pela alta dos preços, mas avalia que o real impacto somente será conhecido caso o governo anuncie quais são seus planos sobre o tema.
“Se for algo momentâneo, as ações da Petrobras vão sofrer menos. Mas se for algo como antes de 2016 [quando a Petrobras passou a acompanhar os preços internacionais], prejudicará muito mais”, comentou.
Preocupações sobre o efeito da alta do petróleo nas decisões do governo sobre o mercado afetaram também a petroleira privada PetroRio, que recuou 2,30%.
Alexandre Wolwacz, fundador da Liberta Investimentos, conta que a volatilidade do mercado provocada pela disparada do petróleo já representaria um risco capaz de levar investidores a vender papéis do setor. A situação, porém, é agravada pelo temor de que Bolsonaro tente controlar os preços dos combustíveis, repetindo a prática do governo de Dilma Rousseff (PT).
“O receito de intervenção do governo afasta o investidor desse setor. A gente já viu qual foi o resultado disso para a empresa e para o país”, comentou Wolwacz.
Paula Zogbi, analista de investimentos da Rico, destaca que a Petrobras andou na contramão das grandes petrolíferas mundiais nesta segunda. A Chevron, gigante americana do setor de energia, por exemplo, subiu 2,14% na Bolsa de Nova York.
Após resistir nas primeiras horas da sessão, o mercado de câmbio passou a refletir os efeitos da aversão ao risco que contagiou a Bolsa. O dólar fechou praticamente estável, com alta de 0,01%, a R$ 5,0790.
A moeda americana, porém, vem apresentando tendência de queda nos últimos meses devido à entrada de investidores estrangeiros no país. Eles são atraídos ao mercado financeiro doméstico por uma combinação de juros altos, real desvalorizado, ações baratas na Bolsa e commodities (petróleo, minério e grãos) com potencial de valorização em um cenário de possível escassez devido à guerra.
Ameaças trazidas pela alta do petróleo às tentativas de contenção da inflação global, que já vinha acelerada devido à desorganização da cadeia global de abastecimento durante a pandemia, também prejudicaram o desempenho dos setores de varejo, viagens e transporte, entre outros, do mercado de ações do Brasil.
No topo da lista de ações em quedas nesta segunda estavam companhias aéreas Azul e Gol, cujos papéis despencaram 18% e 17,36%. A empresa de viagens CVC mergulhou 10,49%. A Americanas desabou 10,24%.
Mercados globais de ações também recuaram nesta segunda em meio às preocupações com a alta do petróleo.
Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq fecharam negativos em 2,37%, 2,95% e 3,62%, respectivamente.
Há no país a expectativa de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) comece neste mês a tirar do zero a taxa de referência para os juros.
Quanto maior a pressão inflacionária, mais agressiva poderá ser a alta dos juros -nos Estados Unidos e também em outras economias desenvolvidas -, reduzindo a disponibilidade de dinheiro e o interesse de investidores para aplicações arriscadas em bolsas de todo o mundo.
Na Europa, o índice que acompanha as 50 principais empresas de países que possuem o euro como moeda caiu 1,23%. A Bolsa de Londres fechou em queda de 0,40%. Paris e Frankfurt cederam 1,31% e 1,98%, respectivamente.
Mercados asiáticos afundaram nesta segunda. As Bolsas de Tóquio, Hong Kong e Xangai fecharam com perdas de 2,94%, 3,87% e 3,19%, nessa ordem.
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