Abel Braga e Ceni duelam para atingir glória que parecia improvável

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diferentes em muitos aspectos, a começar pela experiência acumulada, as trajetórias de Rogério Ceni, 48, e Abel Braga, 68, convergem em pontos importantes. Nenhum dos treinadores apostava nisto no início do Campeonato Brasileiro, mas cá estão eles, na penúltima rodada, em um duelo decisivo pela conquista do título nacional.

Ceni começou a competição no Fortaleza, que não entrou na disputa com a pretensão de brigar pelo troféu. Abel, além de desempregado, parecia descartado do circuito dos grandes clubes.

Neste domingo (21), às 16h, eles se enfrentarão como comandantes de Flamengo e Internacional, respectivamente, com a taça ao alcance das mãos.

O duelo no Maracanã, com transmissão da TV Globo (RJ, RS e outras praças) e do Premiere, pode terminar com o campeão definido. Para isso, basta que o time colorado ganhe a partida e chegue aos 72 pontos. Nesse caso, não poderá ser alcançado na jornada derradeira do torneio, marcada para a próxima quinta-feira (25).

O cenário mudará em caso de vitória do Flamengo, que assumirá a liderança com um triunfo neste final de semana. Um empate manterá o Internacional com vantagem de um ponto e o deixará com a tarefa de buscar a taça na rodada final, contra o Corinthians, em Porto Alegre, na mesma noite em que os rubro-negros visitarão o São Paulo, na capital paulista.

Seja quem for o técnico campeão, ele terá superado um cenário em que a conquista não parecia algo provável. Não apenas pela situação de Ceni e Abel no início do campeonato, mas também pelo começo do trabalho atual de cada um, com dificuldades, resultados ruins e uma desconfiança grande dos torcedores.

Ceni até chegou com moral ao Flamengo, aclamado pelo trabalho realizado no Fortaleza, mas bastaram algumas partidas para que fosse lembrado seu histórico ruim em times grandes. O ex-goleiro, que teve fracassos à frente do São Paulo e do Cruzeiro, rapidamente passou a ter sua capacidade questionada.

Contratado em novembro para substituir o demitido Domènec Torrent, ele estreou enfrentando o São Paulo nas quartas de final da Copa do Brasil e sendo eliminado com derrotas nos dois jogos, uma delas por 3 a 0. Na sequência, criticado pelas escalações e substituições, deu adeus à Copa Libertadores nos pênaltis, após dois empates por 1 a 1 com o Racing.

O que se viu a partir daí foi uma campanha de altos e baixos no Brasileiro, com discussões públicas entre o técnico e o atacante Gabriel, além de uma situação na tabela que não era promissora. O São Paulo estava disparado na primeira colocação e não dava mostras de que desmoronaria na classificação, o que acabou ocorrendo.

O Flamengo, enfim, enfileirou uma boa sequência de resultados que o pôs na briga pelo título. Foram quatro vitórias e um empate nos compromissos mais recentes, série obtida com uma formação ofensiva. O volante Willian Arão virou zagueiro. Diego e Gerson, originalmente meias, passaram a atuar como volantes. E o chefe gostou do que viu.

“Dentro da maneira de que eu vejo o futebol, prefiro volantes de armação e zagueiros que construam o jogo a atletas exclusivamente defensivos, de marcação. Acho que também é mais a cara do Flamengo propor o jogo dessa maneira”, afirmou o treinador, recordando o sucesso rubro-negro na década de 1980 com escalações que privilegiavam o talento.

É nesse estilo agressivo que Ceni aposta para conquistar seu primeiro título nacional de primeira divisão como técnico. Multicampeão como goleiro do São Paulo, ele tem em pouco mais de quatro anos na nova profissão quatro troféus: venceu duas edições do Campeonato Cearense, uma da Copa do Nordeste e uma do Campeonato Brasileiro da Série B.

Já seu adversário na tarde de domingo ostenta um currículo bem mais extenso. Abel Braga conquistou o Brasileiro, em 2012, dirigindo o Fluminense. E viveu seu grande ano em 2006, levando o próprio Inter aos títulos da Copa Libertadores e do Mundial. Na decisão continental, teve pela frente Rogério Ceni, que falhou no Beira-Rio e permitiu a festa dos donos da casa.

Os momentos de glória, no entanto, foram ficando para trás. Desde que retornou ao futebol brasileiro, em 2017, após um período nos Emirados Árabes Unidos, o carioca acumulou trabalhos de sucesso limitado no Fluminense, no Flamengo, no Cruzeiro e no Vasco. Chegou a conquistar o Carioca de 2019, no Flamengo, o que não impediu sua demissão pouco depois.

A sequência parecia ter tirado o profissional do radar dos grandes clubes, porém uma inesperada porta se abriu com a saída de Eduardo Coudet do Inter. Mesmo na liderança do Brasileiro, o argentino decidiu aceitar uma proposta do pequeno Celta, da Espanha, e a solução encontrada pela diretoria colorada foi apostar em seu velho conhecido.

Tal qual Ceni no Flamengo, Abel foi contratado em novembro e começou mal. Em suas sete primeiras partidas, conquistou apenas uma vitória, inútil: depois de fazer 1 a 0 no América-MG, a equipe colorada foi eliminada da Copa do Brasil nos pênaltis. Em seguida, veio a queda na Libertadores, diante do Boca Juniors.

O desempenho era tão fraco que os dirigentes se movimentaram e acertaram um pré-contrato com o técnico espanhol Miguel Ángel Ramírez, que topou assumir o time após o Brasileiro.

Depois disso, porém, o Internacional engatou uma sequência impressionante de resultados e reassumiu a primeira colocação do Nacional.

Agora, Abel vive a inusitada situação de estar à frente de uma ótima campanha de recuperação -que pode dar ao clube gaúcho seu primeiro título do Brasileiro desde 1979- e trabalhar em uma espécie de período de aviso prévio. O presidente da agremiação, Alessandro Barcellos, desconversa sobre o assunto e diz que, no momento, só há um treinador.

“O nome dele é Abel Braga, que tem contrato até o final da temporada. Nós só vamos tratar da próxima temporada a partir do dia 26. Por enquanto, o assunto está congelado. Estamos em uma reta final de campeonato, com foco total na busca por um título muito esperado. Qualquer outro tema vai ser tratado internamente”, disse o cartola.

Não é exagero dizer que Ceni e Abel duelam pela conquista do Brasileiro com o emprego em risco. No caso do Flamengo, não há um eventual substituto acertado, porém toda a pressão sobre o treinador voltará com força caso a equipe não vença o Nacional de pontos corridos.

Os dois técnicos, no momento, preferem deixar a possibilidade de saída de lado. O que interessa agora é levantar o troféu, como resumiu o ainda comandante colorado. “O que é especial para mim é que uma vitória nos dá o título brasileiro, coloca esse clube como campeão brasileiro depois de 41 anos. Isso, sim, é especial.”

FLAMENGO
Hugo Souza; Isla, Rodrigo Caio, Gustavo Henrique e Filipe Luís; Diego, Gérson, Everton Ribeiro e Arrascaeta; Bruno Henrique e Gabi. T.: Rogério Ceni

INTERNACIONAL
Marcelo Lomba; Rodinei, Lucas Ribeiro, Zé Gabriel e Moisés; Rodrigo Dourado, Edenilson, Patrick, Praxedes e Caio Vidal; Yuri Alberto. T: Abel Braga

Estádio: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Horário: 16h00 deste domingo
Juiz: Raphael Claus (SP)

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