A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 7, traz longa exposição sobre a piora do cenário global e os mecanismos de transmissão da alta de juros de países avançados para a economia doméstica. Para o Copom, “a conjuntura internacional se mostra adversa” e “os riscos em torno do cenário global cresceram”.
O colegiado avalia que – diante de um contexto geopolítico incerto, conjugado com mercado de trabalho aquecido e hiato do produto apertado em avançados – a estratégia de aperto monetário prolongado tem sido fundamental para conter a inflação mundial, facilitando o controle inflacionário dos países emergentes. “Por outro lado, o aperto monetário global pode trazer pressões sobre o câmbio e impactar o preço dos ativos domésticos, contribuindo para um processo desinflacionário interno mais lento no curto prazo”, admite o BC.
A ata passa então a debater a elevação das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, que restringe as condições financeiras. Para o Copom, ainda é incerta a defasagem e a magnitude dessa alta de juros sobre a atividade econômica dos EUA, que segue resiliente.
“Face à elevação das taxas de juros de longo prazo observada, o Comitê discutiu, inicialmente, as possíveis razões desse fenômeno. Em sua discussão, o Comitê deu maior ênfase às perspectivas fiscais, em particular nos Estados Unidos, enfatizando seus impactos sobre as condições financeiras globais. Também se discutiu como a resiliência da economia norte-americana impactará a duração do aperto necessária para a convergência da inflação nos Estados Unidos. Na visão de alguns, o cenário atual é carregado de incerteza e a combinação do aperto substancial das condições financeiras com a resiliência da atividade pode tornar mais difícil o atingimento de um pouso suave”, detalhou o documento.
Por fim, a ata lista os múltiplos canais de transmissão da taxa de juros dos EUA para a economia brasileira, como: diferencial de juros, prêmio a termo na curva de juros, demanda externa, câmbio, taxa neutra de juros, preço das commodities, entre outros.
“Enfatizou-se, em primeiro lugar, o impacto da necessidade de atração de recursos para financiar uma dívida mais alta nos países desenvolvidos. Em tal ambiente, com taxas de juros de dívidas soberanas mais elevadas em economias centrais, nota-se um impacto em outros mercados, tanto de dívida soberana de emergentes quanto de crédito privado, cujo impacto final será tão maior quanto maior for o tempo de juros mais elevados, podendo levar a realocações no processo de rolagem de dívidas”, avaliou o Copom.
O BC destaca ainda o canal do câmbio, que tem efeito direto sobre a inflação. Mas, apesar da gravidade de eventos externos – como o conflito no Oriente Médio e o movimento “substancial” nos preços de ativos internacionais – o Copom considerou que o câmbio e o preço do petróleo tiveram variações “até o momento moderadas”.
“Por fim, ao incorporar os múltiplos canais de transmissão em um ambiente de maior incerteza, o Comitê avalia que é apropriado adotar uma postura de maior cautela diante dos riscos envolvidos”, concluiu o colegiado.
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