Na contramão das escolas, que reabrem neste mês em São Paulo, faculdades públicas e particulares não têm pressa para retomar atividades presenciais. As instituições planejam manter no modelo remoto as aulas teóricas no primeiro semestre. Entre os motivos estão a boa aceitação do ensino a distância, incertezas sobre a quarentena e a necessidade de avanço maior na vacinação.
Decreto da gestão João Doria (PSDB) estabeleceu que o ensino superior poderia retomar atividades com 35% dos estudantes na fase amarela do Plano SP. Nesta semana, a Grande São Paulo e outras regiões, como Campinas e a Baixada Santista, foram para essa fase.
Com início do semestre letivo marcado para abril, a Universidade de São Paulo (USP) ainda não definiu o formato das aulas. Segundo o vice-reitor, Antonio Carlos Hernandes, essa definição “depende das condições epidemiológicas e/ou da vacinação dos profissionais da educação”. Por enquanto, a universidade está na fase máxima de restrições, em que as atividades devem, preferencialmente, ser remotas. O plano da USP só prevê retorno presencial para aulas teóricas de graduação na fase azul, a menos restritiva.
Já a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) suspendeu no fim de janeiro as atividades presenciais em função da “piora da pandemia”. Segundo o reitor, Marcelo Knobel, “tudo o que puder será feito de maneira remota no primeiro semestre”, mesmo com alguns avanços no quadro geral. “Temos estudantes de várias regiões do País. Como trazer uma pessoa para cá e depois, na semana seguinte, a situação muda?” Ele destaca que os estudantes de graduação, diferentemente dos alunos da educação básica, têm mais autonomia para estudar em casa. Na Unesp, que deve começar a maior parte das atividades de graduação para os calouros só em abril, a previsão é manter o ensino remoto.
Particulares
Faculdades privadas calculam o ônus de oferecer classes presenciais e ter de mudar os planos no meio do semestre. Também citam boa aceitação dos alunos ao modelo remoto. Na Unip, o semestre começou na terça-feira. Não há previsão de retorno presencial das classes teóricas e as práticas voltam no fim do mês. “Os alunos precisam de estabilidade para poderem planejar seus estudos e suas vidas”, informou a Unip.
Outras adiaram para março o início do semestre, tradicionalmente em fevereiro, à espera de definições. “Algumas estão começando, mas com aulas remotas”, diz Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior. Cursos teóricos devem continuar remotos no primeiro semestre.
É o que deve ocorrer na FGV, que pretende chamar só pequenos grupos, de modo não obrigatório. “Após a segunda dose de vacinação, que cubra, pelo menos, 70% da população, o ensino poderá ser remoto, presencial ou híbrido”, diz o pró-reitor da FGV de Ensino, Pesquisa e Pós, Antonio Freitas.
Aluno de Administração Pública na FGV e Educomunicação na USP, Tiago Cesar dos Santos, de 24 anos, estudou quase o ano inteiro pelo computador e deve fazer o mesmo agora. “No começo foi complicado me adaptar. Meu espaço de estudo é muito restrito, moro na favela, minha internet não era boa”, diz ele, que trancou disciplinas na FGV que considerava mais difíceis de acompanhar no modelo remoto, como Estatística. “Gostaria de voltar, mas com cuidados muito grandes porque sou do grupo de risco.”
A Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) também diz “acompanhar a evolução da cobertura vacinal” e informou que só pretende permitir atividades em formato híbrido em março. Na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), que recomeça dia 1.º, o retorno também deve ser online.
Universidades federais também não devem ir para o presencial. “A tendência, pelo menos para o primeiro semestre, é de predomínio de atividades remotas”, diz Edward Madureira Brasil, presidente da Andifes, entidade que reúne os reitores da rede federal de ensino.
Juliana Rodrigues, de 24 anos, deve concluir neste semestre Gestão Financeira na Uninove pela tela do computador. Ela notou evasão no formato. “Muitos colegas não se adaptaram, perderam o emprego e outros não tinham estrutura.”
Já Marcos Rocha, de 29 anos, diz ter “virado a casaca” para o modelo a distância depois da experiência, nos últimos meses, de fazer MBA sem ir à ESPM. “Pegar transporte público em horário de pico não compensa. No home office, posso jantar, fazer outras coisas, não fico mais preso”, diz ele, que trabalha e estuda em casa. “Antes, pensava que não ia me adaptar. Mas, como a faculdade ofereceu suporte, hoje não sei se voltaria ao curso presencial.”
Aulas híbridas
Com maioria de cursos de Engenharia, o Instituto Mauá prevê prioridade a atividades práticas presenciais na fase amarela – o semestre letivo começa dia 18 para os veteranos. Já as aulas teóricas se mantêm remotas. “Na medida em que avançarmos de fase e pudermos ter mais alunos no câmpus com segurança, teremos também aulas híbridas, lecionadas presencialmente e transmitidas online, de forma síncronizada.” Já o Insper retomará as aulas em formato híbrido no dia 22, se a capital continuar na fase amarela. No ano passado, o Insper começou a adotar o formato híbrido, com parte da turma em sala e aula online para os de casa. Poucas faculdades, porém, usam esse modelo. A maior parte das instituições dá aulas em plataformas como o Zoom, com professores e alunos em casa.
Suspensão de aulas
Dez dias após reabrirem na capital paulista, escolas de elite suspenderam a presença de grupos de estudantes por casos de covid-19. O procedimento adotado é o recomendado pelas autoridades sanitárias para evitar novas infecções. Os registros foram na Escola Móbile, no Colégio Santa Cruz, no São Luís e no Santa Marcelina. As escolas informam que não houve transmissão dentro do colégio.
Pesquisas já indicaram que o nível de contágio em sala de aula não é grande, se cumpridos protocolos de ventilação, higiene e distanciamento. O isolamento de grupos faz parte da rotina, para evitar surtos. Educadores têm defendido prioridade à retomada de aulas presenciais, após um longo período de fechamento. Isolamentos de parte das turmas também são adotados no exterior.
Na Móbile, zona sul, uma professora e um aluno foram diagnosticados no fim de semana. Desde segunda, o grupo para o qual a professora leciona foi afastado, assim como a turma que frequentava as aulas com o aluno infectado. A escola diz que os casos não têm relação – a professora não lecionava para esse aluno – e foram em prédios diferentes. O colégio segue recomendações do Hospital Albert Einstein. “As bolhas afastadas desde segunda estão sendo monitoradas diariamente pela equipe do Einstein, e até o presente momento não houve nenhum caso detectado.” A Móbile disse ainda que a docente seguiu cuidados: “máscaras, manteve distanciamento físico e não usou a sala de professores”.
Também foram registrados dois casos – um estudante e um funcionário administrativo – no Santa Cruz, zona oeste. A escola suspendeu as aulas de uma turma do 9.º ano por dez dias. No São Luís, zona sul, três grupos foram afastados após a detecção de um caso. Em um deles, a infecção do aluno foi informada pela família. A turma, de dez alunos, voltaria à escola nesta quarta-feira, 10 – agora será após o carnaval. “A contaminação não aconteceu na escola”, diz o colégio.
Escolas podem reabrir com 35% dos estudantes, que são separados em grupos, sem contatos entre si (“bolhas”). Só alunos do grupo que teve contato com o aluno ou professor infectado deixam de ir. Pais devem informar sobre sintomas ou diagnóstico. No Santa Marcelina, zona oeste, um grupo foi isolado. “Recebemos da família, orientada pelo pediatra do estudante que, de acordo com exames realizados, a recomendação foi de suspensão das aulas.”
Suspensões de turmas devem ser comuns com a reabertura e a pandemia ainda sem controle. Arthur Fonseca Filho, diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares, diz que os casos vêm de fora do colégio e essas paralisações só mostram que os protocolos foram seguidos. Para ele, diferem do surto em um colégio de Campinas, com 42 infectados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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