“Menino da Vila” e ex-Corinthians, Claudinho se encontrou no Red Bull Bragantino. Artilheiro do Brasileirão e eleito o melhor jogador da competição em janeiro, o meio-campista explodiu aos 24 anos e se tornou um dos principais jogadores do futebol brasileiro. Seu desempenho chama a atenção desde 2019, quando foi um dos destaques na campanha vitoriosa da equipe de Bragança na Série B. Mas foi nesta temporada que ele atingiu seu auge e despertou interesse de clubes estrangeiros.
“Eu acho que estou mais maduro hoje. A cada ano que passa, me sinto mais pronto para novos desafios”, resume Claudinho, em entrevista ao Estadão. A história do hoje craque do Bragantino é muito semelhante a de vários atletas que tiveram sucesso. Filho de ajudante geral e de uma empregada doméstica, Claudinho contou com o suporte dos pais para poder brilhar, especialmente da mãe, que o incentivou desde cedo.
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Lúcia Aparecida Rodrigues começou a trabalhar como doméstica e diarista para poder ter dinheiro para levar o filho aos treinos desde que ele deu seus primeiros passos no esporte, aos cinco anos, quando foi descoberto nas ruas do Jockey Clube, bairro periférico de São Vicente, litoral de São Paulo, e ganhou uma oportunidade nas categorias de base do Santos.
No celeiro de craques santista, começou no futsal, fez praticamente toda a sua formação e ficou até os 18 anos. Lá, jogou com o zagueiro Lucas Veríssimo (Benfica), Caio Henrique (Mônaco), Robson Bambu (Nice) e Thiago Maia (Flamengo). Só não subiu ao profissional no time de Pelé e Neymar porque entendeu não ter sido valorizado. Em 2015, a diretoria ofereceu o mesmo salário que ele recebia para renovar.
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“Eu estava na transição de ir para o profissional e um diretor novo, que havia chegado, não reconheceu meu trabalho. Só quiseram renovar o contrato com o mesmo salário que eu ganhava, que já era baixo, porque eu estava já numa transição para o profissional. Esse valor não ia me ajudar e ajudar a minha família. Não seria recompensado”, recorda.
O Corinthians, então, o contratou, e logo o subiu para o profissional. No entanto, Claudinho teve poucas chances no elenco treinado por Tite e que foi campeão brasileiro em 2015. Com a camisa alvinegra, foram apenas cinco minutos no Paulistão de 2016 e alguns empréstimos, um deles para o próprio Bragantino. Também passou por Santo André, Ponte Preta e Oeste.
“No Corinthians, eu entendi que tive pouca oportunidade. Eu subi muito rápido para o profissional e naquele momento já era muito mais do que eu sonhava”, ressalta o meia, que diz não ter guardado mágoas. “Eu cheguei a ir para bastante jogos naquele ano. A equipe em 2016 era praticamente a mesma, então tinha muita qualidade, entrosamento, e a concorrência no meio era muito grande pra mim, que tinha acabado de subir para o profissional. Não tem nada de mágoa da minha parte. Entendo de verdade”, garante.
Quis o destino que o camisa 10 marcasse um dos gols da vitória do Bragantino por 2 a 0 no reencontro com o seu ex-clube, na Neo Química Arena, no mês passado. Hoje, soma 17 e passou Thiago Galhardo, do Inter, e Marinho, do Santos, para assumir a artilharia da competição nacional. Somente em janeiro, ele balançou as redes seis vezes e deu quatro assistências em seis jogos.
“Quando eu vou enfrentar times em que eu já joguei ou adversários que estão se destacando a minha concentração e a minha seriedade são as mesmas. Entro em campo para ajudar minha equipe da melhor forma possível, seja fazendo gol ou dando assistências”, diz.
Fã de Ronaldinho Gaúcho e Neymar, o meia tem boa visão de jogo, finaliza bem de média e longa distância e também se destaca nas assistências. Na sua visão, não é um jogador “raro” no Brasil, mas trabalha para se diferenciar dos demais.
“Eu sou um jogador que tem essa facilidade de finalização de fora da área, mais longa, e gosto de jogar mais livre no campo, na verdade, me movimentando bastante”, observa. “Eu me vejo um jogador mais completo, que sempre está buscando aprender uma outra coisa para estar mais completo e se diferenciar dos demais porque isso chama mais a atenção.”
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Seu objetivo é levantar taças pelo Bragantino ou conseguir capitanear o time do interior paulista a uma vaga na próxima edição da Copa Libertadores, o que seria uma façanha. Ele alcançou recentemente 100 partidas pela equipe que lhe deu suporte para brilhar e da qual já é o maior goleador em uma edição do Brasileiro.
O clube de Bragança Paulista apostou no jogador ainda em 2016 e o trouxe por empréstimo, antes de firmar a parceria com a Red Bull, o que ocorreu em 2019. A empresa austríaca de energéticos injetou milhões em contratações desde que assumiu a gestão com o objetivo de elevar o patamar do time. E Claudinho foi a melhor das apostas.
Na época em que trouxe o atleta na primeira passagem, o então presidente Marcos Chedid afirmou que estava comprando “uma joia”. Anos depois, o Red Bull Brasil pagou ao Corinthians “apenas” R$1,5 milhão por 50% dos direitos e mais R$ 1 milhão à Ponte Preta pelo outro montante. A multinacional austríaca de bebidas, então, assumiu o Bragantino, o que mudou o destino do time do interior paulista e também de Claudinho.
“Eu acho que o Red Bull Bragantino já é uma equipe grande pela estrutura que nos dão de trabalho, pelo investimento. Tenho certeza de que num futuro próximo o Bragantino já estará brigando pelos títulos das principais competições do Brasil e da América”, opina Claudinho, que teve seu contrato renovado até dezembro de 2024 diante do assédio de outros clubes.
Quando se destacou na Série B, Claudinho já recebera boas propostas no Brasil. Foi procurado por Atlético-MG e Cruzeiro, então comandado por Rogério Ceni. O Corinthians também tentou trazê-lo de volta, mas ele preferiu permanecer em Bragança. Neste ano, com as boas atuações na Série A, mais interessados surgiram. O Grêmio foi um deles, por meio do técnico Renato Gaúcho, que fez um convite ao jogador. Ele também é desejado pelo RB Leipzig, da Alemanha, time que alcançou maior sucesso entre os que pertencem à Red Bull, chegou às semifinais da Liga do Campeões e hoje é vice-líder da Bundesliga. Mas o camisa 10 não quer pensar em mudar de ares, por enquanto. Seu valor de mercado varia entre R$ 80 milhões a R$ 100 milhões.
“O meu sonho não é diferente de qualquer jogador brasileiro de ir para a Europa e jogar uma Liga dos Campeões, mas acho que isso vai acontecer no momento certo. Estou muito feliz no Red Bull Bragantino. Estou focado e com a cabeça no lugar para ajudar meu time. Depois, quando o campeonato acabar, vou pensar no que for bom para mim e para o clube se vierem propostas”, salienta.
Fora de campo, o meia passa boa parte do tempo com fones de ouvido. “Gosto de ouvir rap, trap, funk, pagode, samba. Escuto muito Kauê, Lennon, Kay Black”, conta. Outro passatempo é ficar com os familiares, aos quais pôde dar uma vida mais tranquila com o dinheiro do futebol. “Depois que consegui uma condição melhor de vida, tirei meu pai do trabalho e daí em diante ele passou a me acompanhar sempre. Vai para os treinos comigo e me dá conselhos sobre o que posso melhorar.”
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