“Trabalho e desigualdade social na contemporaneidade: reflexões sobre a invisibilidade dos agentes de limpeza pública”. O tema da pesquisa isoladamente já seria um assunto socialmente rico para qualquer estudante do curso de história de uma universidade pública. Mas para o gari Ednilson de Pontes Silva, 31 anos, tem um significado ainda maior.
Deninho, como é mais conhecido, chegou ao campus da Universidade Estadual da Paraíba, na cidade Guabira, vestido com o macacão que usa no trabalho para defender o seu TCC, em meio a amigos, familiares, professores e outros estudantes. Em 2013, ele foi aprovado no antigo vestibular da UEPB e iniciou a faculdade de história no ano seguinte.
“Antes eu tinha vergonha do meu trabalho, hoje eu tenho orgulho. Quando entrei na faculdade, passei uns dois períodos sem dizer qual era a minha profissão, mas depois vi que não tinha nada de errado em ser gari e que eu devia me orgulhar por exercer uma função importante e honesta, até que relatei minha história para os amigos em uma confraternização da turma e eles ficaram felizes por eu estar podendo ter acesso à universidade”, contou Ednilson ao Razões.
Tema do TCC e a decisão de ir para a defesa com a farda de gari
Ednilson também é filho de um gari. Seu Miguel Martins da Silva tem 60 anos de idade e continua exercendo o papel na sua cidade até hoje. O filho de seu Miguel teve uma trajetória difícil até se formar.
Ele trabalhava pela manhã como gari e estudava à tarde. Para ir de Pirpirituba, cidade onde mora, à Guarabira, ele utilizava o ônibus escolar; depois, conseguiu comprar uma moto para ir assistir às aulas. O gari e estudante também dividia o tempo com as obrigações de casa, já que foi pai durante o período em que estava fazendo o curso.
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Deninho conta que decidiu pesquisar sobre a invisibilidade social que enfrentam os agentes de limpeza por causa da indiferença que sentiu na pele nas ruas. “Eu resolvi falar sobre este tema porque senti o quanto somos discriminados socialmente. Pesquisei sobre o tema e encontrei apenas um estudioso que se debruçou sobre o tema, então decidi mostrar a realidade desses trabalhadores tão sofridos e tão importantes”, ressalta Ednilson.
Mas ele não queria apenas discutir sobre o tema academicamente, queria chamar a atenção de toda a sociedade e, para isso, vestiu-se com a roupa do trabalho. “Eu sempre comentava com minha esposa que qualquer dia faria isso porque sempre vêm para as aulas policiais fardados, advogados de terno, enfermeiros de roupa de trabalho e por que não seria possível um gari vir com o fardamento do seu ofício? Que estranheza isso provoca? Meu objetivo era chocar mesmo e fazer refletir”, explicou.
Ednilson entrevistou dez garis para a elaboração da pesquisa. Ao fim da apresentação, a sua nota foi a máxima, 10, e o bolo de confraternização teve como tema os agentes de limpeza pública. “A gente que vem de baixo sabe o significado disso. É por isso que é tão importante a universidade pública de qualidade para quem não tem condições de pagar”, disse o gari e agora professor Ednilson Pontes.
Deninho se destacou em rede nacional
Depois de viralizar com sua história no Razões para Acreditar, Deninho ficou famoso dando entrevista no Encontro com Fátima Bernardes e, agora em fevereiro de 2021, participou do quadro The Wall, do Caldeirão do Huck. Vestido novamente com a farda e, apesar de não ter ganhado dinheiro, ele mostrou sua história novamente para todo o Brasil e ressaltou o trabalho que faz de sustentabilidade.
“Eu me sinto bem com essa farda. É através dela que eu estou aqui e posso vencer na vida vestindo ela e sendo gari. A universidade pública com ensino superior de qualidade me deu a oportunidade de estar aqui representando tantas outras pessoas. Independente da nossa profissão, nós temos que nos reconhecer e admirar a importância do que fazemos”, disse o gari no programa.
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crédito das fotos: Dje Silva
EDUCAÇÃO – Razões para Acreditar