LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Em seu primeiro grande evento na Jornada Mundial da Juventude, nesta quinta (3), o papa Francisco criticou as redes sociais e alertou para os perigos de quem valoriza excessivamente o mundo digital.
O pontífice pediu aos fiéis que acompanhavam a missa que celebrou atenção para não deixar se enganar por “ilusões do mundo virtual”. “Muitas realidades que nos atraem e nos prometem felicidade mostram-se depois pelo que são: coisas vãs, supérfluas, substitutos que deixam um vazio interior”, disse o argentino, que destacou ainda a existência de “lobos que se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade”.
O que o pontífice não citou é que a Jornada Mundial da Juventude promove, na sexta (4), a primeira edição do Festival de Influenciadores Católicos, para promover criadores de conteúdo cristãos de vários países.
Em espanhol e com uma linguagem mais informal direcionada aos jovens, o papa disse ainda que “há espaço para todos na igreja”. A fala sobre a importância do acolhimento acontece em um momento em que as tensões entre as alas conservadores e progressistas da Igreja Católica seguem em ebulição.
Nesta quinta, em Lisboa, uma missa organizada por um grupo de católicos LGBTQIA+ no âmbito da JMJ foi alvo de protestos. Cerca de dez pessoas interromperam o culto, e a polícia foi chamada para intervir.
Já a cerimônia com Francisco aconteceu sem sobressaltos. Cerca de 500 mil pessoas, segundo a Santa Sé, lotaram o palco do evento, instalado numa colina no coração da capital portuguesa. Espalhada pelo gramado, a multidão recebeu o pontífice com aplausos e coro de “papa Francisco”, bem no estilo pop star.
Muitos peregrinos não escondiam a emoção de estar na presença do papa, e vários fiéis acompanharam os deslocamentos do pontífice pela cidade. Pela manhã, Francisco visitou a Universidade Católica e realizou reuniões com estudantes, refugiados e religiosos. O dia anterior, o primeiro do papa em Portugal, foi preenchido por agendas com políticos e membros do clero, além de um aguardado encontro com vítimas de abuso sexual perpetrado por membros da Igreja Católica em Portugal desde 1950.
Em uma reunião que ficou de fora do programa oficial da visita ao país, ele se reuniu reservadamente com 13 vítimas, além de representantes do clero e membros da sociedade civil que lidam com o tema.
Antes, Francisco havia feito um reconhecimento indireto da situação. Ao comandar uma celebração dirigida a membros do clero no mosteiro dos Jerônimos, falou que a igreja precisava de “uma purificação”.
A fala se deu enquanto o papa comentava “a desilusão e a aversão” que muitas pessoas nutrem pela Igreja Católica em razão de “escândalos que desfiguraram o seu rosto”, uma referência às denúncias que vieram à tona nos últimos tempos de escândalos encobertos pelo Vaticano. A questão dos abusos contra menores de idade tem sido um dos grandes temas em Portugal, após uma investigação conduzida por uma comissão independente identificar que pelo menos 4.815 crianças e adolescentes foram vítimas de membros da instituição no país desde 1950. Mais de 70% dos abusadores eram padres.
Como forma de chamar a atenção para as vítimas, um grupo de portugueses arrecadou fundos por meio de uma vaquinha online para instalar três outdoors com referências aos escândalos. Uma das placas, no entanto, acabou removida pela Câmara Municipal de Oeiras, equivalente à prefeitura local, poucas horas após ser revelada. As autoridades municipais alegam que se trata de uma publicidade ilegal.
O papa Francisco segue com agenda intensa em Portugal nos próximos dias. Na sexta (4), participará da confissão de alguns peregrinos e comandará uma via-sacra com os participantes da jornada.
No sábado (5), o pontífice faz uma breve viagem ao santuário de Fátima pela manhã, mas regressa a Lisboa durante a tarde, a tempo de rezar o terço com jovens doentes e comandar o início da vigília. Ele volta ao Vaticano no domingo (6), depois de celebrar uma missa e participar da cerimônia de encerramento, na qual será anunciada a próxima cidade a sediar a jornada da juventude.