NELSON DE SÁ
TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) – A economia taiwanesa encolheu 3,02% no primeiro trimestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano passado, e entrou em recessão, informou a autoridade orçamentária da ilha. No trimestre anterior, a contração havia sido de 0,41%.
É o pior resultado em 14 anos da economia taiwanesa, a 21ª no mundo, e o dobro das projeções negativas de mercado.
Enquanto isso, a economia de Hong Kong, 39ª no mundo, cresceu 2,7% no primeiro trimestre, em relação ao período no ano anterior, e saiu da recessão, depois de reabrir os contatos com a China continental, pós-Covid. As projeções de mercado apontavam 0,5% de crescimento.
O resultado foi revelado pelo executivo-chefe da cidade, John Lee, durante uma entrevista coletiva nesta semana.
Taiwan e Hong Kong, ao lado de Macau e Cingapura, são parte do grupo classificado como Grande China. Seus resultados econômicos são vinculados ao desempenho do principal integrante, a China continental, segunda economia do mundo.
A autoridade taiwanesa de orçamento creditou a contração à “demanda externa fraca”, sem detalhar. A agência Fitch apontou ser resultado da “fraqueza generalizada na demanda por seus produtos eletrônicos e equipamentos de tecnologia da informação e comunicação”.
A consultoria ASG sublinha que caiu em todo o mundo a venda de produtos que consomem os semicondutores taiwaneses.
Para o futuro, coluna no diário financeiro Jingji Ribao comenta que a tendência chinesa de priorizar “suprimento interno” e a política americana de “nearshoring”, trazer a produção para perto, “não são de forma alguma uma bênção para Taiwan”.
Dado divulgado anteriormente já havia apresentado março como o sétimo mês seguido de queda em sua produção industrial, concentrada em tecnologia –com fábricas que produzem 60% dos semicondutores no mundo e mais de 90% dos mais avançados.
Segundo o grupo financeiro holandês ING, até o momento, Taiwan foi a única economia da Ásia que registrou recessão neste início de ano.
Por outro lado, relatório da S&P Global Ratings afirma ser “provável que o setor industrial de Taiwan comece gradualmente a sentir o impacto positivo da abertura da China”, a exemplo de Hong Kong. “O impulso econômico deve se fortalecer ao longo do ano.”
HAPPY HONG KONG
O resultado positivo em Hong Kong foi atribuído por John Lee ao “soft power” da cidade, que trouxe turistas de volta no primeiro trimestre, com a retomada pós-pandemia de eventos de repercussão mundial, como a feira Art Basel e torneios esportivos.
O governo local tem feito diferentes promoções de marketing, inclusive distribuição de passagens aéreas, por enquanto restritas aos países do Sudeste Asiático, e a redução no preço do cinema no último fim de semana, que deu início à campanha Happy Hong Kong.
“Com o rápido crescimento da economia do continente e a recuperação acelerada da capacidade aeronáutica da cidade, acredito que o segundo trimestre será melhor que o primeiro e que o desempenho econômico deste ano será melhor que o do ano passado”, disse Lee.
O banco francês de investimento Natixis, com presença na cidade, avalia que o afluxo de turistas deve ajudar o setor, que foi “fortemente afetado” pelas restrições da Covid-19.
“Ainda assim, o ritmo de retomada é gradual”, afirma. “O número de turistas do continente está em 60% dos níveis pré-pandemia.”
O holandês ING é ainda menos otimista, analisando que um crescimento de 2,7% é “bastante lento”, dada a base negativa no ano passado. Se por um lado sinaliza que Hong Kong “não está mais em recessão, também reflete como a recuperação está sem força”.
As perspectivas de recessão dos EUA no segundo semestre agravam o quadro, porque a cidade é uma base para as exportações chinesas para o mercado americano. “Isso vai colocar nova pressão sobre a economia”, avalia o ING.
Se os feriados prolongados deste início de ano, inclusive nesta semana, ajudaram na retomada do turismo, eles teriam atingido negativamente tanto a produção como os embarques de mercadorias na cidade.
De todo modo, o resultado anunciado por Lee e a perspectiva de manutenção na retomada do turismo levaram a Bloomberg Economics, que oferece análises aos clientes do terminal do serviço financeiro, a rever sua projeção para o crescimento do PIB de Hong Kong neste ano, de 3,2% para 5,2%.
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