Cirurgião suspeito de manter paciente em cárcere privado volta a operar no Rio

ALÉXIA SOUSA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O cirurgião plástico equatoriano Bolívar Guerrero Silva, acusado de erro médico e de manter uma paciente em cárcere privado, voltou a fazer cirurgias no mesmo hospital onde ocorreu a denúncia, na Baixada Fluminense. Ele deixou a prisão em fevereiro deste ano por ordem da Justiça.

Nas redes sociais, onde divulga o seu trabalho, Silva anuncia que os procedimentos continuam acontecendo no hospital particular Santa Branca, em Duque de Caxias. Com mais de 42 mil seguidores no Instagram, informa ainda a quantidade de vagas que tem para atendimento naquela semana, com o alerta de que são poucas.

A defesa do médico confirmou que ele voltou ao atendimento desde que foi solto e que não há impedimentos para que o cirurgião exerça a profissão.

O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) disse que a sindicância em nome do profissional está em andamento e corre em sigilo. No site da instituição, ele segue com o registro ativo desde 1996.

Silva foi preso em julho do ano passado depois que a dona de casa Daiane Chaves Cavalcanti ficou internada por complicações de um procedimento estético no abdômen.
O caso chegou à polícia por meio da família da paciente. Semanas após a cirurgia, realizada em março daquele ano, a mulher passou mal e precisou voltar a ser atendida, segundo os familiares. Desde então, ficou internada no hospital Santa Branca. Na época, ela denunciou que era mantida em cárcere privado na unidade de saúde porque Bolívar não a liberava.
Daiana Cavalcanti entrou na Justiça com um pedido de reparação por danos morais no valor de R$ 200 mil, contra o hospital Santa Branca e contra o médico.

O cirurgião aparece como sócio-administrador do hospital no comprovante de inscrição e situação cadastral da empresa emitido pelo site da Receita Federal. O hospital Santa Branca nega que a paciente tenha sido mantida na unidade contra a vontade e diz que ela recebeu os cuidados devidos.
A defesa do cirurgião sustenta que não houve cárcere privado porque a paciente não foi impedida de sair, só teria que assinar um termo de responsabilidade.

Outras pacientes relataram deformações e sequelas após passarem por operações com o cirurgião. As mulheres afirmam que, além de não terem o resultado esperado com as cirurgias, sofreram complicações e problemas de saúde.

Bolívar Guerrero Silva ficou preso durante sete meses no presídio Pedrolino Werling de Oliveira, em Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio.
Inicialmente, ele foi acusado de homicídio tentado, mas, após audiências do caso, o Ministério Público pediu a retirada das acusações de tentativa de homicídio contra Daiana. O órgão de acusação entendeu que a paciente não correu risco de vida.
Com isso, a 2ª Promotoria de Justiça Criminal concluiu que não houve intenção de matar por parte do médico, “embora existam outros crimes e infrações que irão continuar em apuração”, diz parte da decisão.

Silva já havia sido preso em 2010, após uma operação da Polícia Civil do Rio contra um grupo acusado de comercializar e aplicar medicamentos sem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O esquema funcionava desde 2005. O dono de um laboratório farmacêutico que produzia a toxina botulínica, o botox, enviava os produtos de Goiás para o Rio, onde havia uma redistribuição para clínicas particulares. O produto não registrado era comercializado pela metade do preço comercial normal à época. Uma dessas clínicas compradoras era a de Bolívar Guerrero Silva.

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