Filha de zeladora da Universidade Federal do Ceará é aprovada em Medicina

Quando você acha que não vai conseguir, continue tentando… A estudante cearense Laianne Plácido Lima, de 25 anos, pensou que não seria possível, mas seu nome na lista de aprovados de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) mostrou que valeu a pena insistir no seu sonho!

Filha da zeladora da universidade e moradora da periferia de Fortaleza, a jovem tentou por diversas vezes ser aprovada no curso. A primeira vez foi em 2015.

“Quando fui dizer pra minha mãe, nem ela acreditou. Tô tentando passar desde 2015, há 8 anos faço essa prova. Acho que ela só acreditou quando chegou no trabalho, mostrou o resultado pros professores e todo mundo começou a chorar”, conta.

Laianne passou na primeira chamada para o curso de Medicina da UFC. Foto: Reprodução/Sisu

A dona Maria Célia, de 56 anos, é zeladora da UFC em Fortaleza há 14 anos e a maior incentivadora da filha. Ela não concluiu os próprios estudos, porém, construiu para Laianne um destino diferente do dela.

“Pra me manter no cursinho, eu tinha ajuda dela somente. Muita gente desistiu porque não tinha apoio. Eu, sem o apoio dela, não passaria. Ela acreditou em mim”, diz a filha, emocionada.

Desafios

Maria Célia lembra das dificuldades que ambas passaram: 

“Tô muito feliz, graças a Deus a minha filha ter alcançado esse objetivo. Porque é muito difícil um filho de um pobre alcançar o que ela alcançou. Foi muita luta. Ano passado, ela passou na Universidade da Bahia, mas como não tive condição de manter ela lá, ela ficou aqui, continuou a estudar.”

Laianne não teve vida fácil durante sua preparação para o vestibular. Faltavam livros, apostilas, computador e mesa para estudar. Não tinha tutor, professor, “alguém que dissesse que ia dar certo”.

“Aqui onde eu vivo, quando você olha pro lado, dificilmente vê exemplos de pessoas que conseguiram entrar numa universidade e se formar. Era uma realidade distante da minha, porque eu não tinha exemplos concretos. As pessoas diziam que era improvável”, lembra.

“É uma coisa que você pensa ‘por que ainda tô tentando? Isso não faz parte da minha realidade’. Você acaba se autossabotando. Na minha escola, nunca se conversava sobre sonhos, sobre passar numa universidade. Isso também contribuiu”, completa.

Foi então que Laianne resolveu se matricular no Curso Pré-Vestibular XII de Maio, o cursinho da Famed/UFC. Na biblioteca do campus, encontrou o ambiente de que precisava. Chegava na biblioteca do campus pela manhã e saía só às 22h.

“Minha preparação mental foi ver a minha realidade e perceber que eu poderia ser o exemplo pra alguma pessoa. Sempre pesquisava sobre doações de materiais, e passei a estudar através desse material doado”, destaca.

Lembrança do pai

Laianne inicia seus estudos no dia 13 de março. Ela deixará a casa que divide com outras sete pessoas, rumo ao Campus do Porangabuçu, sede da Faculdade de Medicina. O lugar lembra seu pai.

Foi no Hospital Universitário Walter Cantídio que ele tratou o câncer que tirou sua vida, nos anos 2000

“Meu sonho é ser oncologista. Espero poder aprender muito, absorver muito conhecimento pra, futuramente, me tornar uma excelente profissional, ajudar as pessoas, acolher meus futuros pacientes. Quero crescer muito como pessoa”, projeta.

Para fechar, a futura médica fala sobre a Lei de Cotas:

“Acredito que sem a Lei de Cotas eu não teria entrado de forma nenhuma. Foi a Lei de Cotas que me abriu a porta e a possibilidade de eu entrar na Faculdade de Medicina.”

Fonte: Diário do Nordeste; Foto de capa: Arquivo pessaoal

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