(FOLHAPRESS) – Piratas saqueando embarcações de voluntários. Estradas totalmente liberadas. Água e alimentos vendidos a preços exorbitantes. Sobreviventes que passaram dias soterrados. Notícias falsas ou distorcidas circulam em abundância nos grupos de WhatsApp de São Sebastião, no litoral norte paulista.
O caos provocado pelos deslizamentos no domingo (19) alimenta a desinformação, que ganha amplitude pela internet, apesar do sinal precário para acessar a rede em diversos pontos da cidade.
Entre histórias que não se sustentam quando verificadas com cuidado, uma chama a atenção por ter saído dos telefones celulares, virado assunto nas várias rodas de conversa que se formam o tempo todo nas vielas lamacentas da vila do Sahy, e terminado em um boletim de ocorrência policial. Os supostos preços extraordinariamente altos de itens básicos, como alimentos e água.
Repetido por moradores em diversos pontos do bairro, o caso do pacote de macarrão de R$ 20 supostamente vendido por um mercado é o boato de maior repercussão.
Na unidade da rede de mercadinhos que fica mais próxima do local onde muitos morreram soterrados, incluindo um empregado do estabelecimento, funcionários foram ameaçados por populares depois da circulação de um vídeo em que duas mulheres acusam a loja de transportar o estoque para pontos localizados em áreas nobres, perto da praia, onde seria possível vender mais caro.
Um morador de uma comunidade próxima foi um dos primeiros a falar com a reportagem sobre o caso. “Teve uma mulher aqui na vila que aumentou o macarrão para R$ 20. Se eu estivesse no meio, teria mandado saquear”, disse.
Ele, assim como outros moradores que repetiram a história, conta que não comprou nem viu os preços altos nas gôndolas e prateleiras. Apenas ficou sabendo, respondeu, quando questionado pela Folha de S.Paulo.
Sem avisar nem se identificar, a reportagem foi ao mercado cuja imagem da fachada aparece no vídeo. A caixa Jakeline Silva ajudou a localizar as embalagens de macarrão da marca Adria. O preço de R$ 4,50 não pode ser considerado barato, mas estava longe daquilo que corre no boca a boca. O mesmo ocorria com o pacote de 5 kg do arroz Camil, a R$ 28, bem abaixo dos R$ 50 que alguns moradores afirmaram que o mercadinho estaria praticando.
Também não tinha galão de água a R$ 40, como muitos diziam. O estabelecimento não vende o produto, contou a caixa, agora já sabendo que falava com a reportagem.
Ela explicou que, na segunda-feira (20), a lojinha invadida pela lama estava fechada porque os funcionários faziam a limpeza do local. Como a unidade não tinha condições de funcionar, motociclistas transportavam alguns itens para outras lojas que estavam abertas. Essa teria sido a cena que gerou o vídeo e a revolta.
“Alguns moradores vieram aqui na frente, ameaçaram a mim e a minha colega de trabalho, falaram que, se a gente não fechasse, eles iriam entrar, saquear e tacar fogo em tudo”, relata.
As ameaças foram reportadas no Boletim de Ocorrência registrado na quarta-feira (22) pela proprietária Maria Isabel da Silva, que enviou cópia do documento à reportagem.
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