SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pessoas vacinadas com a quarta dose de vacina contra a Covid-19 apresentaram menores casos de sequelas pela doença -a chamada Covid longa. Foi observada uma queda de 95% nos riscos de se ter os sintomas persistentes entre aqueles com o segundo reforço em comparação com quem não contava com nenhuma dose de vacina.
A conclusão da pesquisa, realizada pelo Hospital Israelita Albert Einstein e o ITPS (Instituto Todos Pela Saúde), foi publicada em um artigo em modelo pré-print, ou seja, não foi publicado em um veículo científico com a revisão prévia de outros cientistas.
A Covid longa diz respeito a uma série de sintomas que algumas pessoas mantêm mesmo após se curar do período agudo da doença. As sequelas são inúmeras, podendo atingir o organismo humano em diferentes partes.
No estudo, mais de 7.000 profissionais de saúde do Einstein com exames positivos para Covid-19 foram acompanhados por seis meses. Desses, quase 2.000 apresentaram Covid longa, o que representa cerca de 27% da amostra. Esse grupo foi comparado com os mais de 5.000 profissionais que não apresentaram sintomas persistentes por mais de quatro semanas, definição de Covid longa adotada pelo CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA).
Um dos primeiros pontos observados pelo estudo foi o impacto que a quarta dose de vacinas contra Covid-19 representava para reduzir os riscos das complicações a longo prazo. Para isso, os pesquisadores dividiram os profissionais com Covid longa em grupos: aqueles que tiveram as sequelas sem nenhuma dose de vacina e aqueles com sequelas após a primeira, segunda, terceira ou quarta aplicação.
Comparando o grupo que apresentou Covid longa sem vacinação com aqueles com as sequelas após a quarta dose, concluiu-se que o segundo reforço reduziu em torno de 95% as chances das complicações a longo prazo.
O resultado é um indicativo de que o segundo reforço trouxe maior proteção contra a Covid longa, mas a pesquisa não mensurou se isso também ocorre com outras aplicações, como a terceira dose.
“Nós não fomos capazes de dizer, dentro dessa amostra, se existe um efeito dose-resposta: ou seja, se quanto mais vacina se toma, mais proteção se tem. O que nós conseguimos afirmar hoje é que a quarta dose protege contra o desenvolvimento da Covid longa”, afirma Vanderson Sampaio, pesquisador do ITPS e um dos autores do estudo.
Existem suposições para explicar por que a quarta dose reduziu o aparecimento das sequelas. Uma delas é que a reinfecção pelo Sars-CoV-2, vírus que causa a Covid-19, amplia os riscos para as complicações a longo prazo. Segundo a pesquisa, ter duas ou mais reinfecções aumenta em 27% as chances de apresentar sequelas.
Em contrapartida, a vacinação reduz as chances de reinfecção, o que pode explicar a maior proteção contra as complicações persistentes.
Além disso, o desenvolvimento de quadros graves de Covid-19 tem associação com o aparecimento das sequelas. Novamente, a vacina reduz os casos graves da doença, o que também representaria uma queda nos riscos de Covid longa.
VARIANTES
Outro aspecto observado no estudo é que as infecções que ocorreram no período de maior disseminação das variantes delta e ômicron apresentaram menores casos de Covid longa em comparação aos registros associados a cepa original do Sars-CoV-2.
Sampaio, no entanto, ressalta que a conclusão não inclui as novas subvariantes da ômicron, como a XBB.1.5. São essas novas recombinações do vírus que têm maior prevalência nos casos ao redor do mundo.
Além disso, talvez o risco menor possa estar relacionado à disseminação das vacinas. Na onda da delta e da ômicron, os imunizantes já estavam disponíveis, o que não havia acontecido em 2020. Por essa razão, os casos observados com as duas cepas podem ter tido menor prevalência de Covid longa, já que os fármacos reduzem a possibilidade de gravidades da infecção.
“Existe uma associação já bem descrita na literatura entre caso grave e Covid longa. Se essa população está protegida de caso grave, naturalmente estará protegida de Covid longa”, conclui Sampaio.
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