Remanescentes esqueletais do acervo arqueológico do Museu Histórico Sorocabano são tema de estudo científico de pesquisador da USP

O mestrando do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), da USP (Universidade de São Paulo), Mateus Lopes Teixeira, bolsista da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), está realizando, desde janeiro de 2021, uma pesquisa junto ao importante acervo arqueológico do Museu Histórico Sorocabano (MHS). O intuito é caracterizar a dieta dos grupos produtores de cerâmica Tupiguarani no interior do estado de São Paulo, a partir da análise dos remanescentes esqueletais humanos salvaguardados pelo museu da cidade.

Administrado pela Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria de Cultura (Secult), o MHS é um dos poucos museus do Sudoeste paulista que pode receber acervo arquelógico pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo, que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Cabe ao Iphan proteger e promover os bens culturais do País, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras.

“Sorocaba preserva um acervo histórico que é um registro muito rico e importante da nossa cultura e ter uma pesquisa, como a do Mateus, vinculada à USP, que é uma das 60 universidades mais importantes do mundo, em parceria com o nosso Museu Histórico Sorocabano, é muito satisfatório. A Secretaria de Cultura está sempre de portas abertas à pesquisa cultural e científica em nossos museus”, destaca o secretário de Cultura, Luiz Antonio Zamuner.

O acervo do MHS conta toda a história do surgimento do município e seus moradores e personalidades, muitos com participação ativa na formação e desenvolvimento, não só da cidade, como de todo o Brasil. O espaço possui peças, incluindo mobiliário, quadros, objetos de arte popular, material arqueológico histórico e pré-colonial riquíssimo, como urnas funerárias, cerâmicas, pedras lascadas, machados líticos, pontas de flecha, além de peças nem tão antigas, como máquinas registradoras, de datilografia, de costura, relógios, bustos, entre outras.

As análises da pesquisa, intitulada “Dieta e subsistência entre os produtores de cerâmica Tupiguarani de Sorocaba e região: uma abordagem bioarqueológica”, realizada sob a orientação do professor Dr. André Menezes Strauss, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, serão realizadas, no total, durante quatro semestres, até abril de 2023, a partir do acervo de remanescentes esqueletais humanos de proveniência arqueológica, resultante do Projeto Gênese Sorocabana (PGS), que inclui material proveniente de 13 sítios arqueológicos da região, onde foram encontradas 27 urnas funerárias.

Mateus é formado (Bacharel e Licenciatura) em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) e, desde 2019, já fazia o levantamento sobre o acervo arqueológico junto ao MHS. A sua intenção é continuar com essa pesquisa em um doutorado.

“Os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas são vastos. Construíram as vasilhas cerâmicas que temos no MHS, mas também moldaram a paisagem das terras em que nos encontramos, a partir de técnicas de policultura agroflorestal e domínio ecológico do espaço e, sem eles, os conquistadores não teriam chance de entrar no interior do que seria o futuro Brasil. A arqueologia, antropologia, história e ciências correlatas devem se empenhar, não apenas em buscar entender as dinâmicas de ocupação e subsistência das populações do passado, mas também em propagar a questão indígena. A divulgação dessas pesquisas é importante para mostrar a complexidade dos povos pré-coloniais e seus modos de existência e fazer questionar o pertencer de cada um, indígena ou não”, explica Mateus.

Para verificar os padrões dietéticos dos grupos produtores de cerâmicas Tupiguarani pré-coloniais de Sorocaba e região estão sendo feitas análises das razões isotópicas de carbono e nitrogênio, a partir de amostras de colágeno extraídas de dentes e ossos dos esqueletos humanos e da frequência de lesões cariosas nos dentes.

Foram identificados 17 indivíduos em dez dos 13 sítios arqueológicos. A partir do perfil biotantropológico, que abarca o diagnóstico de sexo biológico e idade de morte, foi possível constatar que 15 eram adultos, além de uma criança e um indivíduo com idade não identificada. Apenas quatro tiveram o sexo biológico identificado, sendo estes dois indivíduos masculinos e dois femininos.

Os remanescentes ósseos serão datados pelo método do radiocarbono, com o processamento de colágeno extraído dos ossos, que será executado no Géosciences Environnement Toulouse da Université Toulouse III – Paul Sabatier, na França. Datas estimadas baseadas em sítios ceramistas do estado de São Paulo sugerem cerca de 400 a 500 anos atrás.

Esse estudo possibilitará um avanço para futuras pesquisas bioarqueológicas com esses remanescentes humanos, além de contribuir para o quadro das pesquisas das populações pré-coloniais falantes de línguas Tupi-Guarani do estado de São Paulo e do Brasil, durante o Holoceno tardio na América do Sul.

Além da autorização do Município para que o pesquisador tivesse acesso à coleção do MHS, foi necessária a autorização do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP) e do Iphan.

 

Fotos: Mateus Lopes Teixeira

 


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