Na cidade de São Paulo, quase 90% das aplicações da vacina pediátrica Pfizer Baby, que protege crianças entre 6 meses e menores de 3 anos contra covid-19, são de doses remanescentes – a da “xepa”. Isso ocorre porque, uma vez aberto um frasco, todas as doses precisam ser aplicadas. Para não haver perdas, convoca-se quem está no cadastro de reserva.
Essa situação mostra que o público-alvo da campanha, que são as crianças com comorbidade, imunossuprimidas e indígenas, não está buscando o imunizante no porcentual esperado. Até o momento, 16.355 doses foram administradas para a faixa etária, e 2.017 (12,3%) se destinaram às crianças que integram o público elegível, enquanto as demais 14.338 doses (87,7%) foram aplicadas em menores sem comorbidades.
O baixo índice de cobertura vacinal entre o público-alvo da campanha (25,8% do total de 7,8 mil crianças que se enquadram nos grupos prioritários) fez a Prefeitura iniciar uma ação de busca ativa na terça-feira. O objetivo da Secretaria de Saúde é imunizar todas as crianças elegíveis. Essa procura ocorrerá por meio de visitas domiciliares e por ligação telefônica, que pode variar “de acordo com as estratégias adotadas pelas unidades (de saúde)”. A campanha de vacinação pediátrica começou a ser feita há pouco mais de um mês.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já havia liberado a distribuição do imunizante em setembro, mas o Ministério da Saúde limitou o uso do medicamento apenas para crianças com comorbidades. Conforme a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), 364.439 pessoas entre 6 meses e menores de 3 anos vivem na cidade de São Paulo. Os pouco mais de 16 mil imunizados que se encontram nessa faixa etária representam apenas 4,1% do público infantil da capital paulista com direito à imunização.
Não há previsão ainda, por parte da Prefeitura, de quando os imunizantes serão liberados para todas as crianças de forma irrestrita. Outras cidades paulistas, como Campinas, Cotia e Cubatão, já estenderam a vacinação para todo o público nessa faixa etária. Na segunda, o governo de Minas também liberou todos os municípios do Estado a distribuir o imunizante sem restrição.
SEM DOSES
Para Raquel Stucchi, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a baixa adesão do público elegível já era esperada pela dificuldade de ter, nessa faixa etária, diagnósticos que comprovem alguma comorbidade nas crianças. Mas, a especialista lembra também que a estratégia de vacinar grupos prioritários é consequência da baixa quantidade de doses compradas pelo governo federal. “A regra é porque o Ministério da Saúde não comprou doses suficientes”, diz.
Além da falta do imunizante específico, Raquel explica que há ainda famílias que desconfiam da importância da vacina para os pequenos de saúde mais fragilizada. “Mesmo aquelas que se encaixam (no público elegível), que tenham algum grau de imunossupressão, como as crianças oncológicas, os país têm dúvidas sobre o benefício da vacinação”, diz a infectologista, que reafirma a eficácia e segurança dos imunizantes e defende que o poder público incentiva e conscientize a população sobre a importância da aplicação. “Falta um esclarecimento por parte dos gestores públicos, e dos médicos que cuidam dessas crianças, sobre a importância da vacinação e qual o impacto da covid-19 nesse público.”
De acordo com diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, a medida de vacinar apenas os bebês e crianças com comorbidades é “equivocada e ineficaz”, porque leva ao envio dos imunizantes apenas para os grandes centros, onde há maior concentração do público elegível. “A vacinação tem de ser para todos”, afirma.
O esquema de vacinação com a Pfizer Baby contempla três aplicações, cujos intervalos entre as doses são de quatro semanas entre a primeira e a segunda, e de oito semanas entre a segunda e a terceira. Em nota, o Ministério da Saúde informou à reportagem que a pasta está em processo de aquisição de mais doses da vacina Pfizer Baby com previsão de entrega para o mês de janeiro, sem detalhar quantidade e data de envio. Desde a aprovação do produto pela Anvisa, em setembro, o governo federal comprou 1 milhão de doses e destinou 206 mil para o Estado de São Paulo.
A Secretaria do Governo de São Paulo informou que o Estado tem 195 mil crianças no grupo prioritário e 1,5 milhão de pessoas dentro da faixa etária da campanha somando o público infantil com e sem comorbidades. Conforme os dados da pasta, 39,2 mil crianças foram imunizadas até agora com Pfizer Baby, sem dar mais especificações. “A pasta estadual havia solicitado ao Ministério da Saúde 615 mil doses.”
ONDE SE VACINAR
A Prefeitura informa que população pode inscrever crianças sem comorbidades para receber as doses remanescentes da Pfizer Baby. O cadastro deve ser realizado nas unidades de saúde de referência da residência de cada família e mediante uma apresentação do comprovante de endereço da capital paulista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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