Redução do bilhete aéreo envolve revisão da política de preço da Petrobras, diz presidente da Azul

JULIO WIZIACK
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Braço direito do fundador da Azul, David Neeleman, há mais de duas décadas, John Rodgerson é um gringo -expressão que gosta de usar para definir os estrangeiros- muito brasileiro. Ele está no país há quase 15 anos, fala um português cheio de gírias, é brincalhão, e aprendeu, como ninguém, o que é dar um jeitinho.

Amigos afirmam que sua vida se mistura com a da companhia. Em entrevista, quase só usou verbos na primeira pessoa para se referir à própria companhia.
Em 2023, a Azul começará a operar com mais força em Congonhas. O executivo defende que o setor discuta com o novo governo a formação de preço do combustível pela Petrobras, um dos itens que pesam sobre as passagens.
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Folha – Por que as passagens aéreas ficaram tão caras?
John Rodgerson – O combustível dobrou por causa da Guerra [da Ucrânia]. Se ele dobra, o imposto também dobra. Tem o câmbio, que desvalorizou nos últimos dois anos. Isso impacta o preço final. Mas só posso cobrar preço alto se houver alguém disposto a pagar. E a demanda está forte, como nunca vimos.
Folha – Mas não é só por isso que as passagens estão tão caras, é? 
John Rodgerson – Depende do combustível e o problema está na paridade internacional. Por que eu pago 40% mais que o gringo paga em Miami [EUA]?
Folha – Por que é mais caro no Brasil?
John Rodgerson – Há impostos. Nos EUA, não. Um estrangeiro quando abastece sua aeronave para retornar a Miami não paga imposto. Eu [Azul] abasteço para viajar ao Recife e pago imposto. Voo internacional não paga. É mais barato ir para Miami.
Folha – Isso é só uma questão tributária?
John Rodgerson – Não. Tem a forma como somos [aéreas] cobrados. A Petrobras diz que, se ela não existisse, teríamos de importar [combustível], e aí pagaríamos impostos e encargos -o que daria 40% acima da paridade internacional. Por que me cobram a mais em cima de um produto que já está aqui, que não está sendo transportado? E depois incide ainda o ICMS. O problema aqui é como se forma o preço.
Folha – Considera que há abertura no novo governo para discutir isso?
John Rodgerson – O governo Bolsonaro começou a estudar. Acho que o novo governo vai querer estimular mais viajantes no país. A classe A sempre vai viajar, mas as classes B e C, não. É uma vergonha que o chileno, o colombiano e o mexicano viajem mais que os brasileiros porque nesses lugares o combustível é mais barato. Além disso, quando se voa São Paulo-Rio e, por vontade divina, o aeroporto fecha, eu tenho de pagar hotel, comida, transporte e ainda corro o risco de sofrer processos judiciais. Como é possível vender uma ponte aérea por R$ 40 se eu tiver de bancar R$ 2.500 com cada passageiro [que não voar por razões climáticas]? É por isso que nenhuma companhia low-cost [baixo custo] vem para cá.
Folha – Se resolver isso, então, o preço da passagem cai?
John Rodgerson – Sim. E isso vai gerar emprego e melhorar a economia. Cada voo da Azul ajuda o cara que vende queijo no Nordeste. E o motorista do Uber, que transporta mais turistas.
Folha – Por que o setor não teve redução do ICMS sobre combustíveis? 
John Rodgerson – Precisa perguntar para o governo. Nós pleiteamos. Aliás, diferente de outros países, as companhias brasileiras não receberam subsídio na pandemia. Os EUA concederam US$ 100 bilhões para as aéreas não quebrarem. A Europa também ajudou. Aqui, só os aeroportos receberam.
Folha – Agora a Azul vai disputar com Gol e Latam grandes capitais a partir de Congonhas. O que vai mudar? 
John Rodgerson – Cada vez que um voo da Gol e da Latam decola, a chance é de 92% que vá pousar no Rio, São Paulo ou Brasília. Eu estou voando o [cliente do] agronegócio, o interior de Amazonas, Pernambuco, Bahia. Há cidades que só são servidas pela Azul. A Gol e a Latam atendem cerca de 52 cidades, cada uma. Mas são as mesmas -juntas atendem 58. Chego a 160.
No ano que vem, teremos Congonhas. Vamos voar de lá para Brasília, Curitiba, Confins, Recife, e a ponte aérea (Rio-SP). Nos últimos 14 anos, construímos uma empresa super-rentável, sem o subsídio, vamos dizer, de Congonhas. É fácil ganhar dinheiro em um aeroporto em que você chega ao centro de SP, maior PIB do país. Esta é a última peça do nosso quebra-cabeça. A foto vai ser mais linda depois.
Folha – O que leva a crer que continuarão sendo diferentes sem reproduzir o negócio da Gol e Latam? 
John Rodgerson – Nossa malha é diferente e operamos com aeronaves menores. Quando entrarmos em Congonhas, vou voar para Porto Alegre, por exemplo, e, de lá, conectar com mais dez cidades.
Folha – Por que alguém vai trocar Gol e Latam pela Azul só por causa da conectividade? 
John Rodgerson – Você pode comprar Gol até Curitiba, mas sua mala pode não chegar, você fará dois check-in, passará no raio-X de novo. Quando você compra a coisa completa, não. Para Caruaru (PE), você voará de Congonhas ao Recife, trocará de aeronave, e seguirá até o destino. A experiência e os preços serão melhores.
Folha – A Azul já planejou se fundir à JetBlue e à TAP. Não faria sentido retomar esse plano hoje para compensar o peso do câmbio na operação? 
John Rodgerson – É sempre bom ter parceiros, mas uma coisa societária é complexa e não está nos planos.
Folha –
Como estão as margens de lucro devido à pandemia? 
John Rodgerson – Estamos melhorando agora, mas ainda queimando caixa.Raio-X
John Rodgerson
Carreira: Foi um dos principais executivos da americana JetBlue e entrou na Azul em 2008. Mas atuou muito antes, quando ela ainda era uma ideia de David Neeleman, seu fundador, na busca de investidores para viabilizá-la. Em 2017, foi alçado à presidência da companhia e, neste ano, se tornou CEO. Hoje cuida da estratégia.

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