(FOLHAPRESS) – Nativo da Amazônia, o maracujá-suspiro vem sendo estudado por suas atividades antioxidantes e antimanchas, adequadas para o uso cosmético. Um creme à base da fruta já está pronto, aguardando a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para ser lançado no mercado.
“Apesar de nativo da Amazônia, havia poucas pesquisas sobre o maracujá-suspiro”, afirma Ádley Antonini Neves de Lima, que estuda o tema e é professor de farmácia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Lima e seus colegas testaram as possibilidades do extrato das folhas e do fruto, ambos com resultados similares, o que levou à formulação de um creme cosmético.
Por ora, só trabalhos sobre as folhas foram publicados. O pesquisador levou quatro anos entre a concepção e a finalização da pesquisa.
Segundo levantamento da consultoria Emerge, o Brasil é líder mundial na publicação de pesquisas sobre compostos amazônicos. Universidades federais e empresas públicas publicaram cerca de 1.500 estudos sobre o tema entre 2010 e 2020, mas só uma pequena parcela dos objetos de estudo acaba virando produto.
Priscilla Tobias Ribeiro, orientanda de mestrado de Lima, trouxe a Pharmakos D’Amazônia, empresa de cosméticos de Manaus, para o projeto. Interessada no creme, a Pharmakos assumiu os testes enviados à Anvisa.
“A empresa também se comprometeu a zelar pela utilização da biodiversidade com a preservação da floresta em pé”, afirma Ádley.
A Pharmakos tem um plantio certificado, no qual agricultores familiares participam na cadeia de fornecimento para outros cosméticos do portfólio da empresa.
João Tezza, CEO da Dárvore, startup manauara de nanoencapsulamento de ativos cosméticos, avalia que o segmento de compostos naturais da Amazônia cresce mais do que o convencional, mas ainda tem um nicho pequeno.
“Precisamos fazer as pessoas entenderem que esse tipo de produto protege a floresta.”
Ele acredita que o diferencial dos cosméticos de biocompostos amazônicos deve residir na qualidade de produtos feitos com alta tecnologia, que permite o contato direto com a “matéria-prima da natureza”.
Para Fabiana Munhoz, líder da área de acesso a mercados da Conexsus, organização que atua em negócios comunitários na Amazônia, ter o biocomposto pronto é uma etapa importante para trazer renda à região, mas não a única.
“Não se pode falar de bioeconomia sem falar da inclusão das pessoas que vivem na floresta”, afirma ela.
Dados do relatório Amazônia 2030, publicado em 2021, mostram que 64 produtos da região geraram US$ 298 milhões (R$ 1,6 bilhão) em um ano, pouco quando comparado ao volume movimentado pelo mercado de comida e cosméticos, US$ 176,6 bilhões (R$ 950 trilhões) no período.
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