Harmonização facial muda foco para naturalidade, mas padronização ainda é desafio

(FOLHAPRESS) – A imagem de celebridade deformada por cirurgias plásticas ou com feições exageradas, quase caricaturais, com bochechas saltadas e queixo muito proeminente, vem perdendo espaço. Nos consultórios de dermatologia e clínicas de estética, a busca pela harmonização facial tem sido atrelada a pedidos de naturalidade e “leveza facial”, o que vem se refletindo nas redes sociais de artistas e influenciadores.

O procedimento é feito em uma sessão e seu preço pode superar R$ 30 mil.

Os resultados mais “perfeitos”, entretanto, podem induzir a uma padronização da beleza, provocando a sensação de que os adeptos aos métodos estão, de fato, mais bonitos – mas com traços tão semelhantes que parecem frutos de uma linha de montagem.

A associação do desejo de naturalidade com a busca por alcançar padrões de beleza torna a padronização um desafio a ser enfrentado, segundo especialistas. Para conseguir a leveza facial, o procedimento deve, dizem, realçar os traços naturais do paciente – algo que depende das escolhas, técnicas e habilidade do profissional responsável.

A individualização dos procedimentos, porém, são tendências crescentes na área estética e se aperfeiçoam para evitar esse efeito.

Edileia Bagatin, 67, livre docente do departamento de dermatologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenadora do departamento de cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), diz que a palavra “harmonização”, por si só, já é problemática.
“O termo harmonização facial não é usado por médicos, criaram esse nome como diferencial para o que já existe”, pontua Bagatin.

A professora afirma que ainda existem, mesmo entre cirurgiões e dermatologistas, profissionais que exageram nos procedimentos, principalmente nos que envolvem toxina botulínica, que pode paralisar demais a rosto, ou bioestimuladores, causando volume excessivo nas bochechas e no queixo. Isso, porém, tem mudado.

“Mais natural é uma tendência, mas varia de profissional para profissional. Muitos, felizmente, estão optando por não mudar drasticamente a fisionomia das pessoas e por usar um tratamento mais individualizado, avaliar muito bem o formato da pele, o quanto existe de flacidez”, diz a dermatologista.

Bagatin afirma que o paciente deve sempre consultar um especialista antes de qualquer procedimento, por mais simples que pareça. Embora, a pessoa possa considerar ideal algo que esteja na moda, a pele pode precisar de outro tipo de intervenção.

“Às vezes o paciente vem querendo toxina botulínica e o médico percebe que para ele seria melhor começar por um preenchimento ou mesmo um procedimento a laser”, exemplifica a docente.

O cirurgião-dentista Fábio Rafael, 30, sentia-se incomodado com o formato do rosto desde a adolescência. Por isso, em 2020, fez preenchimento full face (rosto inteiro, em português) e, apesar da mudança significativa, tentou manter uma identidade.

“Não me achava bonito e sempre quis mudar. O full face realmente me transformou, realçando pontos positivos que eu já tinha em meu rosto”, diz Rafael.

A recuperação, segundo o cirurgião, foi tranquila, sem hematomas ou dor, apenas inchaço. “Já tinha feito preenchimento, mas nada nessa dimensão, Amei o resultado, me achei o homem mais lindo do mundo. Superou todas as minhas expectativas e elevou demais a minha autoestima, meu amor-próprio”, relata.

Paciente modelo da cirurgiã-dentista Nayane de Souza Pacheco, 36, Rafael conheceu o trabalho da profissional pelo Instagram. Pacheco é referência em harmonização facial masculina e atende pacientes de todo mundo, especialmente americanos.

Em sua rotina, a dentista diz que a naturalidade é um pedido cada vez mais comum. “As técnicas são avaliadas e reavalidadas diariamente, com o avanço tecnológico temos conseguido aprimorar, trazendo resultados cada vez mais naturais”, afirma.

Pacheco defende que o papel do profissional é alinhar a expectativa do paciente com a realidade, pois há casos em que a mudança será quase imperceptível e outros em que correções de pequenas assimetrias podem gerar grandes alterações.

Adepta do ácido hialurônico, ela diz que a ferramenta é biocompatível por ser uma substância já produzida pelo corpo, além de proporcionar inúmeras possibilidades de transformação com mínimo de risco.

“O cliente pode vir na sua hora de almoço, realizar o procedimento e já retomar suas atividades laborais. E a qualquer momento você pode extrair o produto caso não tenha se agradado do efeito”, afirma.

O tratamento é contraindicado para gestantes, lactantes, pessoas com doenças autoimunes não controladas ou com histórico de reações alérgicas graves.

A SBD enfatiza que em caso de intervenções estéticas invasivas, o procedimento deve ser feito apenas por cirurgiões plásticos e dermatologistas. A instituição também orienta não se orientar por imagens de redes sociais ou fazer escolhas com base em preço, como promoções e pacotes de tratamento.

“Busque a referência do profissional. A face tem uma anatomia muito complexa, muito vascularizada, muito enervada, há necessidade de conhecimento profundo do rosto, da sua fisiologia. Sem conhecer, o risco é muito elevado”, aponta Bagatin.

A professora recomenda buscar no site da instituição e do CRM (Conselho Regional de Medicina) o registro médico e de especialidade do profissional, desta forma é possível ter mais segurança na intervenção.

“Temos visto complicações, muitas graves, e que prejudicam as pessoas para o resto de suas vidas”, diz a dermatologista.

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