SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os fortes ventos e tempestades trazidos pelo furacão Ian, um dos mais intensos a atingir os Estados Unidos em décadas, causaram o naufrágio de um barco com dezenas de migrantes cubanos no litoral da Flórida nesta quarta-feira (28), segundo informações da polícia do estado americano.
Deste total, 23 estavam desaparecidos inicialmente, mas três foram resgatados ao longo da tarde pela guarda costeira e levados para o hospital. Os 20 restantes seguem desaparecidos. Quatro outros migrantes que estavam na embarcação conseguiram nadar até terra firme no momento em que ela afundou.
Eles chegaram até perto de Key West, ilha ao sul da Flórida afetada pelo Ian horas antes, informou o chefe da patrulha de Miami, Walter Slosar, e também foram hospitalizados. Key West é o ponto mais setentrional da Flórida e fica a cerca de 150 quilômetros de Cuba. Segundo os migrantes, o barco havia partido de Matanzas, no norte da ilha.
O furacão chegou a Cayo Costa, na Flórida, nesta quarta -depois de passar por Cuba-, com rajadas de vento e inundações catastróficas, de acordo com boletim do Centro Nacional de Furacões. A intensidade do fenômeno chegou perto de atingir a categoria 5, a pior, na qual os ventos podem passar de 250 km/h. Apenas duas tempestades de categoria 5 castigaram os Estados Unidos nos últimos 30 anos, ambas na Flórida.
As próximas horas ao longo da costa sudoeste do estado e no interior serão críticas, segundo meteorologistas, que preveem perigo extremo.
Milhões de moradores foram avisados ou receberam ordens para saírem de suas cidades, mas o governador Ron DeSantis alertou na quarta que era tarde demais para quem ficou nos condados de Collier, Lee, Sarasota e Charlotte, previstos para serem atingidos pela parte mais forte da tempestade.
Em entrevista coletiva nesta quarta, DeSantis disse que o furacão está atingindo lugares a centenas de quilômetros de onde a tempestade chegou à costa. “Este é um grande problema, e acho que todos sabemos que haverá grandes, grandes impactos”, afirmou ele, acrescentando que provavelmente o pico das tempestades causadas pelo furacão já passou, mas que provavelmente todo o estado sofrerá consequências.
Mais de um milhão de casas na Flórida ficaram sem luz, segundo o site especializado PowerOutage, que registra os cortes de energia nos Estados Unidos.
Em Cuba, o furacão colocou a rede elétrica em colapso na terça (27), deixando todo o país sem energia. O sistema elétrico cubano é frágil e obsoleto, em grande parte dependente de usinas da era soviética movidas a petróleo, e já vinha passando por problemas nos últimos meses. Apagões diários de horas de duração se tornaram rotina em grande parte da ilha.
Nesta quarta, a ilha restabeleceu a luz para parte de seus consumidores na maioria das regiões, informou o fornecedor de energia estatal, depois de os apagões terem afetado 11 milhões de pessoas. A capital, Havana, foi atingida pela cauda do furacão quando ele saía de Cuba e entrava no Golfo do México em direção à Flórida -a paisagem nas ruas da cidade era de um emaranhado de árvores caídas, lixo e fiação elétrica e de telefone.
Pelo menos cinco prédios desabaram completamente na cidade, segundo relatórios oficiais, e 68 foram parcialmente destruídos. Mais de 16 mil pessoas foram realocadas para abrigos. As autoridades não deram estimativa de quando a energia seria totalmente restaurada na capital.
A perspectiva de apagões prolongados na cidade abafada -onde os mosquitos são abundantes e as temperaturas, muito altas para dormir à noite- deixou os moradores ansiosos. “Sempre corremos o risco de nossa comida estragar”, disse Freddy Aguilera, dono de um pequeno restaurante em Havana que não pode abrir nesta quarta. “Não temos gerador, não temos como conservar nossos produtos.”
A escassez de alimentos, combustível e remédios, aguda mesmo antes da tempestade, deixou muitos cubanos se perguntando o que fazer, já que a maioria das lojas permaneceu fechada, reparando os danos e esperando que a luz voltasse. “Olhe para a água da enchente”, disse Olga Gomez, que mora perto da orla de Havana, em uma avenida propensa a inundações. “Temos que ver onde podemos encontrar pão, para que nossos meninos tenham algo para comer.”
Pelo menos duas pessoas morreram em Cuba com a passagem do furacão, ambas na província de Pinar del Rio. Uma mulher morreu depois que um muro desabou sobre ela e um homem morreu após seu telhado cair sobre ele, de acordo com a mídia estatal.
A crise climática está tornando os furacões mais úmidos, ventosos e intensos. Também há evidências de que faz as tempestades viajarem mais lentamente, o que significa que elas podem despejar mais água em um só lugar, dizem os cientistas. “Pesquisas mostram que estamos vendo isso com muito mais frequência do que nas décadas passadas”, disse Kait Parker, meteorologista e cientista climático do site Weather.com.
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