(FOLHAPRESS) – Primeiro ela foi chamada de Camilla Rosemary Shand. Mais tarde, ficou conhecida mundialmente como Camilla Parker Bowles. Depois, pelo título de duquesa da Cornualha e, recentemente, duquesa de Edimburgo. Agora, aos 75 anos, ela concretiza sua mais longa e mais importante transformação. Depois de três décadas, passou de personagem abominada pelos britânicos a rainha do Reino Unido.
Não uma rainha como Elizabeth 2ª, mas uma rainha consorte, aquela que ascende ao trono por ser casada com um rei, não por ter herdado o cargo de outro monarca. Apesar de não ter poderes constitucionais, não ter participação nos assuntos de governo e não fazer parte da linha de sucessão ao trono, Camilla assume um papel considerado fundamental para o reinado de Charles 3º.
Como ele próprio sinalizou no discurso realizado no dia da morte da mãe, na quinta (8), quando anunciou o novo título de Camilla. “Em reconhecimento ao seu serviço público leal desde nosso casamento, há 17 anos, ela se torna minha rainha consorte. Eu sei que ela trará para as exigências de seu novo papel a devoção inabalável à função, na qual confio tanto.”
A atribuição do título pode parecer automática, mas a decisão só recebeu sinal verde em fevereiro deste ano, quando Elizabeth 2ª, durante a celebração dos 70 anos de seu reinado, declarou que seu “desejo sincero” era que Camilla fosse chamada de rainha consorte, “quando a hora chegar”.
Até então, a expectativa era que seu título se limitasse a “princesa consorte”, à semelhança da maneira como o marido de Elizabeth foi chamado depois que a esposa assumiu o trono britânico.
“Ir de inimiga pública número 1, do papel de ‘outra’ e amante, para rainha consorte é uma virada totalmente inimaginável na época do divórcio do rei com a princesa Diana”, disse à Folha a escritora Anna Pasternak, autora de livros sobre mulheres da realeza britânica, como Diana e Wallis Simpson, a divorciada que levou Eduardo 8º a abdicar do trono, em 1936.
Assim como Wallis, Camilla também havia tido um casamento antes de se unir oficialmente a Charles, em 2005. Entre 1973 e 1995, ela foi casada com Andrew Parker Bowles, um oficial do Exército, com quem teve dois filhos. O relacionamento com o então príncipe, no entanto, havia começado antes e continuou durante e depois.
A animosidade dos britânicos por Camilla foi nutrida, ao mesmo tempo, pela cobertura dos tabloides sensacionalistas -que publicaram trechos de conversas íntimas entre os amantes- e pela separação de Charles e Diana, que, em uma célebre entrevista em 1995, culpou Camilla pela crise conjugal. “Eram três pessoas no nosso casamento”, disse a princesa na TV. Dois anos mais tarde, ela morreria em um acidente de carro, dando condições para que o relacionamento entre Charles e Camilla saísse gradualmente da clandestinidade.
Não foi só a normalização do divórcio no mundo contemporâneo e dentro da família real que levou à aceitação de Camilla, ao contrário do que aconteceu com Wallis Simpson. O caminho de 30 anos que chega agora ao auge foi pavimentado pela atuação de especialistas em recuperação de imagem, como Mark Bolland, apontado como o responsável por organizar a cobertura pela imprensa de cenas favoráveis ao casal, como um encontro de Camilla com a rainha, em 2000. Se a soberana estava pronta para aceitar a nova companheira de Charles, mais britânicos também estariam.
Para Pasternak, além da assessoria profissional, sua atuação em cerca de 90 instituições de caridade e a passagem do tempo, foram fundamentais as próprias características da personalidade de Camilla. “Ela tem uma devoção constante a Charles e à família real”, avalia a escritora. “Diferentemente dos membros mais jovens, não busca holofotes e não finge ser alguém que não é. É engraçada, esperta e, mesmo quando foi difamada, nunca perdeu o bom senso.”
Segundo pesquisa YouGov, 53% dos britânicos dizem acreditar que a rainha consorte vai desempenhar um bom trabalho na nova função –que, assim como a do príncipe Philip, outro monarca consorte, deverá ser o de apoiar quem ocupa o trono. “Além de saber lidar com ele, Camilla é diplomática e muito boa em acalmar situações carregadas”, diz Pasternak. “Acho que ele vai ser um rei muito melhor tendo ela como rainha.”
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