Games viram arma para promover e criticar presidenciáveis

DANIELA ARCANJO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A um mês e meio do primeiro turno das eleições, o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) é o personagem mais popular entre os presidenciáveis em games nas plataformas de aplicativos. De 14 jogos sobre candidatos identificados pela reportagem, ele está em dez -seja em contextos de crítica ou de exaltação.

O também candidato à presidência e líder nas pesquisas de intenção de voto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o único outro candidato que aparece. Mas em apenas dois jogos a sua imagem é positiva.
Os games, aparentemente amadores, usam situações reais da história recente do país, como a prisão de Lula e as queimadas na Amazônia, que bateram recordes nos últimos quatro anos.

O mais popular deles, com 1 milhão de downloads pelo Google Play, se chama Bolsonaro Terror do PT. No game, o jogador deve entrar na sede do partido para buscar dinheiro, antes de ser surpreendido por Bolsonaro.

O mesmo produtor fez Lula Escape da Prisão, em que o ex-presidente recebe uma mensagem de sua companheira de partido, Gleisi Hoffmann, com instruções para achar uma chave no andar da cela em que está e fugir do cárcere.

Já em Bozonaro, que tem mais de 100 mil downloads, é possível atirar laranjas no presidente e fazê-lo correr do “fantasma do comunismo”.
Bolsonaro 2022 -uma corrida entre Lula e Bolsonaro, em que o petista sai na frente e deve ser ultrapassado– é dúbio. Ao mesmo tempo em que debocha de Lula, um dos cenários do jogo passa pela Amazônia em chamas.

“As pessoas produzem coisas que estão na crista da onda”, afirma Ivan Mussa, professor da Universidade Federal da Paraíba e pesquisador do tema. “Isso vale para qualquer coisa. Os produtores de conteúdo querem entrar num fluxo de produção que as pessoas estão consumindo.”

Embora tenha sofrido baixas do grupo nos últimos quatro anos, Bolsonaro tem nos gamers uma base de apoio importante.

Em levantamento feito pela Pesquisa Games Brasil 2022, 75% dos entrevistados responderam que consomem jogos eletrônicos. O hábito é comum no cotidiano do brasileiro, especialmente pelo smartphone, e é difícil mapear a preferência política desse grupo.

Os jogadores mais engajados, por outro lado, têm um perfil mais coeso, segundo Mussa.

A crítica aos tributos, por exemplo, é uma demanda antiga da comunidade, que Bolsonaro captou nas quatro reduções de imposto de importação para videogame anunciadas ao longo do seu mandato.

“Os jogos que são vendidos no Brasil, em geral, são muito caros. E esse tipo de público tende a ser masculino porque os games foram criados mercadologicamente para atender a esse nicho”, afirma o pesquisador. “O ressentimento da classe média contra um Estado que cobra imposto e não produz serviços no mesmo nível acaba florescendo na cultura gamer.”

Em 2018, o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro recebeu uma denúncia sobre o jogo Bolsomito 2k18. Nele, o então candidato do PSL aparecia como protagonista em uma luta contra feministas, sem-teto, gays, negros e petistas.

Recentemente, Ciro Gomes passou a se interessar pelo setor. Suas lives, chamadas de Ciro Games, ocorrem em uma sala com luzes neon e uma cadeira gamer. A reportagem não achou jogos do candidato, mas, segundo a assessoria, a militância de Ciro tem produzido games de forma espontânea.

“Vamos disponibilizar esses jogos no site do Ciro para facilitar o acesso a quem quiser obtê-los”, afirmou a a equipe.

Para Mussa, o objetivo desses jogos não é necessariamente o entretenimento –até porque fazer jogos mais elaborados costuma ser caro.

“Jogos amadores normalmente vão ser pequenos, simples, até meio toscos. Eles funcionam mais como meme do que como jogo”, afirma.
“Você não manda esse jogo para alguém ter uma experiência no estilo da Nintendo, mas como um vídeo engraçado do Twitter ou do TikTok. A pessoa joga ali um pouquinho, dá risada, manda para o outro e vai espalhando.”

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