GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta quarta-feira (20) que os objetivos de expansão militar de seu país na Guerra da Ucrânia não estão mais concentrados apenas no Donbass, o leste russófono ucraniano.
O diplomata, que há quase duas décadas chefia a diplomacia russa, disse ainda que a fatia almejada do país vizinho pode aumentar caso o Ocidente intensifique o envio de armas e de equipamentos a Kiev, como tem solicitado o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski.
“Não podemos permitir que Zelenski ou quem o substituir tenha armas que representem uma ameaça ao nosso território e ao das repúblicas que declararam independência”, afirmou, em referência às autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, que Vladimir Putin reconheceu dias antes de iniciar a invasão militar.
As declarações de Lavrov à emissora russa RT, com trechos delas sendo transcritos pela agência estatal RIA, indicam uma nova atualização da estratégia de Moscou no conflito, que em breve entrará em seu sexto mês.
Ao invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro, Putin apresentou como justificativa a necessidade de desmilitarizar e “desnazificar” o país que integrou a União Soviética -analistas refutam a tese de um Estado nazista em Kiev. No começo de abril, a Rússia se viu forçada a promover uma mudança de fase no conflito: em meio a derrotas nos arredores da capital e vendo o mau planejamento travar avanços significativos, Moscou disse que o objetivo principal passaria a ser a “libertação do Donbass”.
Desde então, os esforços no front se concentraram no leste, até que, no início deste mês, tropas russas conquistaram a província de Lugansk e intensificaram operações militares para a tomada da vizinha Donetsk (as duas províncias que formam a região do Donbass, de maioria russófona). De resto, Moscou conseguiu dominar outros territórios, como Kherson, Mariupol e Zaporíjia, formando um corredor de nordeste ao sul da Ucrânia.
Ainda nesta quarta Kiev respondeu às declarações de Lavrov, com seu homólogo Dmitro Kuleba acusando o país vizinho de querer “sangue, não diplomacia”.
Putin, por sua vez, afirmou a um fórum de discussões que vê o início de uma nova era mundial. Nas palavras do líder russo, citadas pela agência estatal de notícias Tass, “não importa o quanto as elites supranacionais tenham tentado manter a ordem mundial existente, uma nova era está começando, e nações verdadeiramente soberanas podem assumir a liderança”.
A alegada transformação, que ele descreveu como irreversível e harmoniosa, abrirá caminho para uma alternativa à unipolaridade, seguiu Putin, em recado aos Estados Unidos e à União Europeia.
O bloco, diga-se, formalizou nesta quarta o sétimo pacote de sanções contra Moscou desde o início do conflito. Desta vez, os diplomatas da UE, após recomendação da Comissão Europeia, impuseram a proibição de importação de ouro russo e o congelamento de ativos do Sberbank, principal banco do país.
O pacote deve entrar em vigor nesta quinta e ainda inclui mais pessoas e organizações russas vistas como corresponsáveis pela guerra, anunciou o governo da República Tcheca, que ocupa a presidência rotativa da UE.
Mais cedo, o Executivo da UE, sob a chefia da alemã Ursula von der Leyen, anunciou um plano de mitigação da dependência de Moscou no campo energético que propõe aos países-membros a meta voluntária para reduzir em 15% o consumo de gás natural até março do ano que vem.
“A Rússia está nos chantageando, usando a energia como arma”, disse Von der Leyen em entrevista coletiva em Bruxelas. “Seja um corte parcial ou total do gás russo, a Europa precisa estar pronta.”
O principal temor está nos efeitos que o corte no fornecimento de gás poderia causar durante os meses de inverno no hemisfério Norte, mas há também o peso econômico. O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgou projeções que indicam o encolhimento de 1,5% do PIB da Alemanha, maior economia da zona do euro, ainda neste ano caso haja interrupção do fornecimento de gás russo.
De acordo com o fundo, esse cenário prejudicaria a economia porque levaria o país a racionar o fornecimento de gás no setor industrial. Como consequência, haveria diminuição na oferta de bens intermediários e de serviços, resultando na diminuição da atividade econômica.
Dados atualizados da ONU mostram que, desde o início da guerra, mais de 5.000 civis morreram em decorrência do conflito -sendo ao menos 343 crianças- e outros 6.520 ficaram feridos. Há ainda ao menos 6 milhões de refugiados ucranianos vivendo em países da Europa.
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