Morre Braguinha, mecenas do esporte brasileiro, aos 94 anos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nome fundamental para a carreira de alguns dos maiores ídolos esportivos do Brasil, o empresário Antônio Carlos de Almeida Braga, 94, morreu nesta terça-feira (12) em Portugal. A causa não foi divulgada. Ele vivia no país europeu, onde tinha residência há décadas, desde o ano passado.

Nascido em 1926, em São Paulo, e conhecido como Braguinha, o investidor foi dono da Companhia de Seguros Atlântica Boavista, empresa fundada por seu pai e incorporada pela Bradesco Seguros nos anos 1980.

Com o negócio, ele se tornou um dos principais acionistas do banco. Também ocupou a presidência do conselho de administração. Em 1986, decidiu sair da instituição.

O empresário criou o banco Icatu, que passou a ser administrado pela família, enquanto ele deixou de trabalhar para se dedicar ainda mais à paixão pelo esporte –como espectador e mecenas.

Ao longa da vida, Braguinha foi um dos maiores apoiadores da história esportiva nacional. Na F1, patrocinou o bicampeão mundial Emerson Fittipaldi e foi amigo próximo do tricampeão Ayrton Senna. No futebol, ajudou ninguém menos que Pelé a driblar problemas financeiros.

“Você foi o maior incentivador da história do esporte brasileiro. […] Quando você chegava em uma quadra, num autódromo, num estádio de futebol, você era a alegria, um incentivo a todos os atletas. Você é um patrimônio que vai ficar na história do esporte brasileiro”, disse Fittipaldi.

O investidor também teve papel transformador ao apoiar financeiramente o início da carreira do tenista Gustavo Kuerten e viabilizar o time de vôlei Atlântica Boavista. A equipe marcou época no Rio de Janeiro com astros da seleção masculina nos anos 1980, entre eles Renan Dal Zotto e Bernard, e o comando do técnico Bebeto de Freitas.

Como escreveu a colunista da Folha Katia Rubio em 2019, Braga “ofereceu as condições materiais” para que a chamada geração de prata (medalhista nos Jogos de Los Angeles-1984) desfrutasse “dos anos dourados do esporte”.

“Como esquecer meu primeiro salário [no vôlei], há exatamente 40 anos, no Rio de Janeiro, na equipe da Atlântica Boavista? Não era só o presidente da empresa. Ele era um mentor, um conselheiro, vira e mexe estava ali na beira da quadra, sempre com as roupas claras, acompanhando os treinamentos e querendo saber se a gente precisava de alguma coisa a mais extra quadra”, disse Dal Zotto, hoje técnico da seleção masculina.
Em 1994, Braguinha tentou promover o encontro de Guga, então jovem promessa do tênis que disputava um torneio em Portugal, com Senna.

O piloto costumava se hospedar numa propriedade do empresário em Sintra, Portugal, e Braguinha o acompanhava constantemente no grid da F1. A prometida reunião acabou não ocorrendo devido à morte de Senna no fatídico acidente do GP de Ímola.

Três anos mais tarde, quando Guga conquistou o seu primeiro título em Roland Garros, Braguinha estava na arquibancada para receber um dos primeiros abraços do catarinense que assombrou o mundo do tênis aos 20 anos.

“Uma das coisas mais especiais [daquela conquista] foi dar um abraço no Braga e ver ele sorrindo. Para mim, ele simbolizava essa alavanca do Brasil relacionado ao esporte. Eu não tinha a mínima noção de que eu ganhando ali que seria um ídolo brasileiro. Mas ali já via que estava dando uma alegria tremenda para todo mundo”, relembrou Guga à Globo, em 2017.

Braguinha costumava oferecer prêmios a atletas brasileiros que obtinham grandes feitos. Ele também teve proximidade com Pelé e João Havelange, foi espectador assíduo de Copas do Mundo, Jogos Olímpicos e torneios do circuito mundial de tênis. Torcedor do Fluminense, era sócio benemérito do clube.

Braga teve dois casamentos, com Vivi Nabuco e Luiza Eugênia Konder, e seis filhos.

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