FLÁVIA MANTOVANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A família do brasileiro Douglas Búrigo, 40, que viajou à Ucrânia para se unir às forças de defesa do país contra os russos, foi comunicada neste sábado (2) que ele foi morto em um ataque na cidade de Kharkiv, no leste ucraniano.
Búrigo, que foi militar do Exército brasileiro durante cinco anos e atualmente era dono de uma borracharia na cidade de São José dos Ausentes, no Rio Grande do Sul, viajou para a Polônia no dia 24 de maio, com uma passagem comprada por ele próprio. De lá, entrou no país vizinho, que está em guerra desde que foi invadido pela Rússia em fevereiro deste ano, e se uniu à Legião Internacional, grupo de estrangeiros que lutam ao lado das Forças Armadas ucranianas.
Em sua conta no Instagram, o brasileiro postou no dia 28 de maio uma foto em que usava um uniforme militar com as bandeiras do Brasil e da Ucrânia. Sobre a imagem, ele escreveu Slava Ukraine (glória à Ucrânia, no idioma local).
Segundo o pai de Douglas, Pedro Búrigo, ele disse que iria fazer trabalho humanitário e passou as primeiras semanas recebendo treinamento na capital ucraniana, Kiev. “Ele colocou um chip europeu no celular e a gente se falava quase todo dia. Nosso último contato foi no dia 23 [de junho] de manhã. Ele comentou que estava indo para a linha de frente em Kharkiv e que estaria sem comunicação, porque não teria internet por lá”, conta.
Segunda maior cidade ucraniana, Kharkiv fica no leste, na divisa com áreas ocupadas pela Rússia, e é um dos locais mais destruídos pelo conflito.
Por volta do meio-dia deste sábado, Pedro recebeu uma ligação com a informação de que o filho tinha sido morto em um ataque. Um primo de Douglas, o deputado estadual Carlos Búrigo, telefonou para a embaixada brasileira na Ucrânia para obter uma confirmação.
“Me disseram que realmente receberam a notícia de que ele faleceu. Outros brasileiros que estavam lutando com ele ligaram para contar. Mas agora o governo da Ucrânia deve formalizar essa informação à embaixada”, afirma o deputado. “É lamentável. Está sendo muito difícil para a família.”
A Folha procurou o Itamaraty, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Pedro diz que o filho informou à família sobre sua intenção de ir para a Ucrânia um mês antes da viagem. “Não conseguimos tirar isso da cabeça dele. Pelo que entendi, ele ia levar apoio aos civis bombardeados, machucados. A gente não esperava que ele fosse para a linha de frente”, afirma Pedro. “Estamos em choque com a notícia ainda. Não dá para explicar.”
Primogênito de três irmãos, Douglas era solteiro e tinha uma filha de 15 anos. A família ainda não sabe se o corpo dele foi resgatado.
O último post de seu Instagram é um vídeo com três fotos suas de uniforme militar, boné com a bandeira do Brasil e arma na mão. As imagens são acompanhadas por uma música e a voz de Douglas dizendo: “Eu tô numa fase da minha vida que eu quero aproveitar cada momento. Cada milésimo de segundo do meu tempo. Eu quero ter mais histórias para contar do que ter coisas para mostrar.”
No dia 9 de junho, o Itamaraty confirmou a morte do brasileiro André Luis Hack, 43, que também se uniu à Legião Internacional na Ucrânia.
O ministério reafirmou, à época, que “continua a desaconselhar enfaticamente” a ida de brasileiros para a região enquanto o conflito não acabar.
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