SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio a questionamentos sobre falta de transparência na divulgação dos dados da Coronavac, o governo João Doria (PSDB) apelou a vários cientistas e profissionais renomados durante o anúncio da eficácia geral da vacina, de 53,38%.
O anúncio contou com a presença de 13 especialistas, incluindo profissionais independentes, sem ligação com o governo estadual e seu comitê de contingência. Doria, porém, desta vez não estava presente.
A assessoria de Doria disse à reportagem que ele não vai a entrevistas coletivas do Instituto Butantan e que, devido ao “tema técnico, ele deixa para os cientistas”. O governador, porém, participou da coletiva em que foi divulgado o percentual anterior, mais positivo.
O convite ao amplo time de pesquisadores e cientistas acontece em momento que a gestão Doria é acusada de falta de transparência devido a um anúncio incompleto relacionado à Coronavac. No último dia 7, o governo Doria divulgou o percentual parcial de 78% de eficácia do imunizante para casos leves e 100% de pacientes moderados, graves ou mortos evitados pela Coronavac.
No entanto, deixou uma série de lacunas, que foram criticadas por cientistas. O contrato do Butantan com a chinesa Sinovac impedia a divulgação de dados sem autorização prévia.
O percentual de eficácia nesta terça surpreendeu, uma vez que está no limite do aceitável. Mas os especialistas de fora trazidos pelo governo ressaltaram a importância da Coronavac, independentemente da eficácia geral menor, como uma vacina “possível”.
Entre os convidados que não fazem parte do núcleo do governo, por exemplo, está a doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, que foi uma das vozes que pediram a divulgação de dados brutos, após o anúncio parcial da semana passada.
Segundo sua assessoria, Pasternak foi convidada por Doria a participar do evento como consultora independente.
A pesquisadora parabenizou o Butantan por finalmente divulgar os dados. “Como todo resultado, esse resultado tem os seus sucessos e limitações. Tanto os sucessos como as limitações devem ser comunicados de uma forma clara, para que a gente tenha uma sociedade segura e uma sociedade que se sinta confortável com esses dados”, disse.
A cientista destacou o fato de a vacina não exigir, por exemplo, temperaturas muito baixas para ser armazenada, como outras opções de imunizante.
“Temos uma boa vacina. Não é a melhor vacina do mundo, não é uma vacina ideal, é uma boa vacina que tem a sua eficácia dentro dos limites do aceitável pela comunidade científica, pela Organização Mundial de Saúde, por parâmetros internacionais”, acrescentou. “É uma vacina que vai nos permitir começar esse processo de controle da pandemia.”
Outros profissionais presentes no evento foram o infectologista Sérgio Cimerman, do Hospital Emílio Ribas; Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia do Hospital Emílio Ribas; Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações; e Marco Aurélio Safadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Safadi citou vacinas de outras doenças já aplicadas, como a de rotavírus, coqueluxe e gripe, com eficácia parecida à da Coronavac.
“A vacina de rotavírus tinha uma eficácia de aproximadamente 80% para prevenir hospitalização, mortes. Uma eficácia de aproximadamente, 40%, 50%, para prevenir diarreia de qualquer gravidade”, disse. “A própria vacina de gripe, que apresenta índices até inferiores a essa que foi apresentada, também propiciou impactos a forma de prevenção.”
“Para mim o número mais importante continua sendo o 78% [de prevenção nos casos leves]. Porque esse número consegue ter um impacto muito grande na carga da doença no nosso país e na sobrecarga de trabalho dos profissionais de saúde”, avaliou Richtmann.
Também estiveram presentes no anúncio profissionais do Instituto Butantan e da Secretaria da Saúde.
Doria tem usado a estratégia de trazer para próximo de si estrelas da área da saúde e ciência, o que lhe garante um contraponto ao governo Jair Bolsonaro, cujo ministro da Saúde é um general sem conhecimento médico, Eduardo Pazuello.
Um dos principais infectologistas do país, David Uip, por exemplo, foi chamado para o comitê de saúde contra o coronavírus do estado. O infectologista Esper Kallas, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do centro da pesquisa da Coronavac no Hospital das Clínicas, também faz parte do comitê.
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