Covid-19 avança, e Prefeitura de Belo Horizonte fecha comércio sob protesto

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Belo Horizonte se aproxima de 2.000 mortes por Covid-19 com leitos de terapia intensiva com taxas de ocupação de 86%, o que fez com que o prefeito Alexandre Kalil (PSD) decretasse novamente fechamento do comércio, como fez no início da pandemia, mas agora sob protesto.

A partir desta segunda-feira (11), estabelecimentos não essenciais estão proibidos de abrir por tempo indeterminado -eles representam cerca de 20% do total, segundo a prefeitura.

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A reportagem percorreu as ruas do centro de Belo Horizonte pela manhã. Uma loja de sapatos e em um salão de beleza estavam abertos. Alguns comerciantes não cumpriram a nova regra e poucas pessoas circulavam pela região, que costumava ter calçadas lotadas antes do decreto.

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Em frente à sede da prefeitura, manifestantes ocupavam quase um quarteirão pedindo pela reabertura imediata do comércio e criticavam a postura Kalil. Estavam ali donos e funcionários de estabelecimentos comerciais, que se afirmavam apartidários.

Bruno Afonso, supervisor do Lojão Torra Tudo e Pague Menos, de roupas, cama, mesa e banho, disse que convidou os 150 funcionários das 11 unidades para o protesto. Eles estavam lá com camisas vermelhas -uniformes da loja. “Se estivéssemos aqui por política não vínhamos com essa camisa”, disse. O objetivo, segundo ele, era demonstrar indignação e propor outras medidas de enfrentamento ao coronavírus.

“Ele [o prefeito] pode escalonar dias de aberturas de acordo com o segmento do comércio”, disse Afonso, que diz acreditar que a transmissão maior da doença seria em festas e nas praias. Ele foi elogiado por uma senhora com camisa do Brasil pela presença no local com seu grupo.

O lojão Torra Tudo já reduziu em 30% o quadro de pessoal, após mais de 100 dias fechado por causa da pandemia. Os últimos meses que o estabelecimento ficou aberto, conforme Afonso, permitiu minimizar os danos, mantendo o controle de entrada, uso de álcool gel e máscara. As lojas agora estavam todas fechadas novamente, afirmou.

Outros estabelecimentos a poucos quilômetros da prefeitura e da manifestação abriram total ou parcialmente as portas. Na ocasião, afirmaram que comercializavam de forma online e apenas com funcionários na loja, mas a reportagem flagrou clientes nos estabelecimentos.

“A gente precisa vender. O patrão disse que não tem como manter os nossos empregos desta vez, mas não tem cliente”, admitiu uma vendedora na porta de uma loja de roupas femininas.

Uma equipe de fiscalização que circulava no centro afirmou que naquele momento mandou fechar oito lojas. Algumas delas estavam burlando a atividade principal para tentar funcionar, como uma loja de bijuterias que colocou uma prateleira de lâmpadas para se “encaixar” no segmento de material elétrico, que pode abrir. Uma loja de brinquedos também colocou uns sacos de arroz na frente para incluir a venda de alimentos.

Funcionários com uniformes de várias academias também estavam presentes no protesto porque a atividade, incluída como essencial em um decreto federal, estava proibida na capital mineira.

Daniel Ballesteros, proprietário da Body Fit, estava com sua equipe manifestando juntamente com uma organização de 120 academias de Belo Horizonte pela autorização de abertura segundo o governo federal. “Seguimos o protocolo de segurança e não tivemos problema de infecção na academia”, disse.

A previsão extraoficial do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da Covid-19 era de que o decreto permanecesse em vigor por pelo menos duas semanas.

A possibilidade de descumprimento da medida foi orquestrada por grupos de comerciantes, mas a prefeitura afirmou que mantém uma equipe de 600 pessoas, entre fiscais, gerentes e agentes de campo nas ruas diariamente, além do efetivo da guarda municipal.

Os estabelecimentos que não cumprirem a norma estarão sujeitos à interdição e multa no valor de R$ 18 mil. Até o fim da tarde desta segunda-feira (11) não foi informado um balanço de fiscalização do primeiro dia de fechamento.

A prefeitura informou que se reunirá com representantes das entidades impactadas pela pandemia ainda nesta semana.

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte afirmou que não participou dos protestos pela reabertura, mas tem apresentado sugestões e propostas viáveis para que o comércio não sofra ainda mais prejuízos. A entidade aguarda a reunião com o prefeito.

O presidente da Associação Comercial e Empresarial, José Anchieta da Silva, propôs o funcionamento por turno. “O dia tem 24 horas né? E num país tropical, dividido por segmentos, não se aglomera e tudo funciona”, disse ele, que afirma não ter apoiado a manifestação. Silva destacou que os empresários que ele representa querem ação repressiva a bailes e celebrações proibidas, entre outras ações.

A retomada das atividades depende, por ora, da ocupação de leitos Covid e do índice de transmissão da Covid-19 na cidade.

No boletim de 11 de janeiro, a taxa de incidência estava em 263 novos casos para cada 100 mil habitantes, em aumento nos últimos 14 dias. Já são 1.956 mortes desde o início da pandemia e 70 mil casos confirmados.

Minas Gerais atingiu nesta segunda (11) a maior média móvel de registros de Covid-19 desde o início da pandemia, com 6.124 casos –uma alta de 65% na comparação com 14 dias atrás.

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