Onda recorde de calor na Índia leva a apagões e férias antecipadas nas escolas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Consequência direta da emergência climática, a Índia registrou ao longo do mês de abril ondas de calor descritas como algumas das piores da história. Dados do Departamento Meteorológico indiano mostram que a temperatura máxima média observada no país foi de 35,3°C, a terceira maior desde 1901, quando a informação começou a ser coletada.

Ainda mais graves são as situações das partes noroeste e central do país, as mais afetadas pelo calor extremo. As médias máximas do mês passado -38°C e 36,3C, respectivamente- foram as maiores dos últimos 122 anos para as regiões, segundo o departamento. O vizinho Paquistão tem observado cenário semelhante.

Cientistas alertam que 1 bilhão da população de 1,38 bilhão de pessoas corre risco de ser afetada pelas ondas de calor, e as consequências vêm sendo sentidas no cotidiano, com recorde na demanda de eletricidade no país, alteração dos horários de serviços públicos e aumento da frequência de focos de incêndio.

Análise da agência Reuters com base em dados oficiais mostrou que a demanda de energia cresceu 13,2% no último mês, já que a necessidade de eletricidade, especialmente no norte, saltou entre 16% e 75%. A expectativa é de que o cenário se torne ainda mais desafiador, uma vez que os institutos preveem temperaturas igualmente altas para maio, com picos de 40°C.

A capital, Nova Déli, por exemplo, registrou recorde de demanda de energia nesta segunda, quando 6,194 megawatts foram necessários, maior valor de todos os tempos para a primeira semana de maio. Em abril, a situação foi semelhante, quando a demanda de energia aumentou 42%, mostrou o levantamento da Reuters.

E o uso sem precedentes de eletricidade tem resultado em cortes generalizados de energia, uma vez que os estoques de carvão são os mais baixos para o período em pelo menos nove anos. Para diminuir o uso, estados como Haryana anunciaram uma mudança no horário das escolas, e em outras províncias as autoridades anteciparam as férias de verão dos estudantes.

Sete estados, de acordo com contagem da agência AFP, sofreram os piores cortes de energia em mais de seis anos, a maioria no norte do país. Três grandes incêndios foram registrados em menos de um mês no aterro de Ghazipur, o maior da capital, com montanhas de lixo de 65 metros -a falta de infraestrutura para lidar com as 12 mil toneladas de resíduos produzida diariamente é desafio latente em Nova Déli.

A crise tem feito com que a expressão mudança climática chegue cada vez mais vezes ao vocabulário do premiê Narendra Modi. A Índia é o quarto maior emissor global de dióxido de carbono, atrás apenas de China, EUA e União Europeia, segundo a base de dados Edgar, da UE, referência no assunto. A emissão per capita em 2019 foi de 1,9 tonelada.

Modi alertou, em discurso na última semana, que o fato de o país estar ficando cada vez mais quente aumenta a probabilidade de incêndios. “As temperaturas estão subindo rapidamente e subindo muito mais rápido do que o normal”, disse ele em uma conferência virtual para chefes de governos locais. “Vimos nos últimos dias episódios em vários lugares -nas floretas, em construções importantes e em hospitais.”

Ondas de calor mataram mais de 6.500 pessoas na Índia desde 2010, disse à AFP a cientista Mariam Zachariah, do Instituto Grantham do Imperial College de Londres. “Antes de as atividades humanas aumentarem as temperaturas globais, o calor como este que atingiu a Índia só era observado uma vez a cada 50 anos. Agora, podemos esperar temperaturas tão altas ao menos uma vez a cada quatro anos.”

Durante a 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que ocorreu em Glasgow, na Escócia, no ano passado, Modi anunciou a meta de reduzir as emissões de carbono do país até 2030 e de zerá-las até 2070. Ainda assim, atuou ao lado da China para amenizar um objetivo final sobre o carvão, de modo a dar continuidade ao seu consumo.

Nesta segunda, ele também formou uma parceria com a Alemanha do premiê Olaf Scholz para ajudar a Índia a atingir as metas climáticas. Berlim deve enviar € 10 bilhões (R$ 53 bi) para Nova Déli.

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